Leon Myssior
Leon Myssior
Leon Myssior é Arquiteto e Urbanista, sócio da incorporadora CASAMIRADOR, fundador do INSTITUTO CALÇADA e acredita que as cidades são a coisa mais inteligente que a humanidade já criou.
GELEIA URBANA

O Arquiteto e o ogro

Ogro é aquele projeto sem criatividade, sem invenção, sem graça e sem alma, uma repetição cansada das mesmas soluções de sempre

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A Arquitetura é uma profissão incompreendida, subestimada e mal aproveitada.

Não digo que não existam outras profissões com o mesmo problema de imagem e autoestima, mas a Arquitetura tem um lugar todo seu na sarjeta do entendimento. Sofre tanto uma percepção distorcida pela sociedade quanto um conjunto de dificuldades criadas pelos próprios profissionais.

Começando pelo começo: a profissão é regulamentada pela Lei 12.378 de 2010, pelo Decreto nº 8.244 de 2014 e mais uma série de resoluções do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. De forma bastante resumida, o arquiteto e urbanista é o profissional que atua no planejamento, projeto, construção e urbanização de edificações, espaços urbanos, paisagens e ambientes urbanos.

Qualquer atividade profissional praticada por um Arquiteto carrega junto uma responsabilidade técnica e, simultaneamente, responsabilidade civil. É coisa séria, que precisa de tempo, de pesquisa, reflexão, estudo e muitos, muitos desenhos, ensaios e simulações.

A Arquitetura é - talvez - a profissão que mais demanda, de forma muito intensa, a convergência e superposição das dimensões exatas e humanas. Das exatas vêm as regulamentações, o arcabouço legal, as normas técnicas, urbanísticas, a física, a matemática, os sistemas, equipamentos, estruturas, solos, insolação, drenagem e tantos outros “saberes” típicos da engenharia e do direito; das humanas, dimensões e referências culturais, história da arte, da arquitetura, das cidades e das civilizações, conhecimento das produções arquitetônicas relevantes em cada um e em todos os países nos últimos 25 séculos. Mais: inclui interpretar os desejos e necessidades do cliente, ler as imposições únicas de cada terreno e processar tudo à luz do zeitgeist, o espírito do tempo, pelas lentes do próprio Arquiteto.

É muita coisa e, como dito, é coisa séria, que precisa de tempo, de pesquisa, reflexão, estudo e muitos, muitos desenhos, ensaios e simulações. Não tem como ser rápido, e nem barato, e esses já são os dois alertas mais importantes para quem pensa em fazer a casa dos sonhos, ou empreender a construção de um prédio e vender suas unidades.

São alertas que gritam consequências inexoráveis, como soluções pouco inventivas, nada interessantes e, muitas vezes, claramente ruins. No final do dia, o “rápido e barato” cobra seu preço e o cliente se dá conta que, mesmo gastando os tubos (na casa ou no empreendimento), o objeto criado sofre de falta de graça, de falta de originalidade, e parece irremediavelmente pobre para todo o sempre. É um ogro que no início incomoda, mas que com o tempo (e ladeado por outros ogros), tende a se tornar invisível.

E aí fica difícil, porque tentar transformar um prédio sem graça num produto sofisticado e interessante é como maquiar um político desonesto como se fosse um herói: não cola, e a imagem derrete como um pancake no deserto.

Se pareceu que a culpa é do cliente, vou logo esclarecendo: não é, já que nunca faltam Arquitetos que, em vez de honrar o juramento profissional e a responsabilidade técnica e civil envolvidas, se propõem a entregar soluções superficiais, comuns, sem inventividade e “genéricas” para qualquer terreno, oferecendo ao mercado embriões de ogros, rápidos e baratos.

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Sim, antes de o cliente “fazer o mercado”, os profissionais de cada profissão ensinam ao mercado o que fazem, como fazem, qual é a sua entrega e qual é a sua relevância (o seu valor). Uma vez feita a apresentação, a maior parte do mercado segue comprando aquilo que lhe foi oferecido, talvez sem saber que poderia receber mais e melhor, por um pouco a mais.

Médicos são respeitados porque estudam muito, se dedicam, levam a profissão a sério e, jamais, trocam o que tem de importante a fazer por um balcão de farmácia, recomendando remédios. Já os Arquitetos…

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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