

Parque Linear: e agora, José? Faz ou não faz?
Quando todo mundo tem direitos demais, ninguém tem obrigações reais. Em compensação nada acontece (além de muita conversa e muito debate)
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Tinha prometido a mim mesmo que não voltaria ao assunto da nova avenida que se pretende construir sobre o Parque Linear (o Parque da Linha Férrea), na divisa entre Belo Horizonte e Nova Lima, mas a “costura” que estava tão bem feitinha, tão bem combinada, no final não estava.
Três grupos de quilombolas pretensamente afetados pela nova via (localizados “a menos de 10 quilômetros”) não teriam sido, aparentemente, ouvidos (e atendido$, suponho). A denúncia ao Ministério Público cita, ainda, questões ligadas à questão da remoção e reassentamento de 20 famílias.
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A opereta vai, pouco a pouco, perdendo a harmonia e se transformando num conjunto de ruídos incompreensíveis de parte a parte, e a tal avenida do Parque da Linha Férrea, que talvez levasse 5 ou 10 anos para ficar pronta (a despeito dos autos de fé e promessas), pode exigir agora 20 anos ou… nunca (lista que só cresce).
Sem entrar na barafunda e sem tecer qualquer juízo de valor (até porque a minha posição sobre o Parque e a avenida já foram bem esclarecidos em outros textos aqui na coluna Geleia Urbana), relaciono alguns fatos dignos de nota e suas implicações (sem qualquer ordem de importância ou prioridade):
- As 20 famílias “por serem reassentadas” são, a bem da verdade, invasores que vieram, devagar-devagarinho, ocupando área pública, sem que o poder público tomasse qualquer medida (são invasores que, quando em vez, ameaçam os visitantes como se donos fossem, despejam lixo, cercam áreas e acendem fogueiras).
- “área de influência” é terminologia técnica típica do meio ambiente, em projetos de preservação ambiental, como área de amortecimento de impactos sobre a área a ser - realmente - preservada. Por outro lado, “quilombolas em área de influência” não quer dizer, a rigor, absolutamente nada.
- Parque é uma coisa, e parque com uma avenida dentro por toda a extensão, outra completamente diferente (levantando uma questão semântica: é "parque com avenida” ou “avenida-parque”?).
- Parque da Linha Férrea é parecido com renomear o Parque Municipal para Parque da Mata Atlântica, só porque o bioma esteve presente no local em algum momento dos últimos 100 mil anos.
- Enquanto as cidades continuarem a ser “planejadas” e modificadas pelos departamentos de trânsito e seus engenheiros, o asfalto e os carros continuarão a ser os principais protagonistas e beneficiários da maior parte dos investimentos, inclusive.
- Enquanto áreas verdes da cidade estiverem sob o risco de alguma intervenção viária, os espaços de lazer (os de verdade, digo) estarão permanentemente em perigo, e em declínio constante, tornando a cidade cada vez menos atrativa para novos (e antigos) moradores.
- Ampliar o sistema viário em vez de colocar linhas de metrô subterrâneo e VLTs (veículo leve sobre trilho) em funcionamento nunca resolveu nada, porque observa a mesma lógica de enxugar gelo. Não por acaso, a prática levou a uma das piadas mais conhecidas no urbanismo mundial: “one more lane and we will solve it” (“mais uma faixa e o problema estará solucionado”, numa tradução livre).
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A boa notícia é que os invasores podem ser imediatamente retirados e, enquanto a sociedade, o Ministério Público, as prefeituras, os órgãos de assistência social e os de meio ambiente discutem a melhor solução (e as obras não vêm), o Parque Linear pode continuar a ser utilizado, agora sob os cuidados e a segurança de ambas as prefeituras, mais limpo, quem sabe sinalizado, e sem risco de fogo.