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Leon Myssior
Leon Myssior
Leon Myssior é Arquiteto e Urbanista, sócio da incorporadora CASAMIRADOR, fundador do INSTITUTO CALÇADA e acredita que as cidades são a coisa mais inteligente que a humanidade já criou.
GELEIA URBANA

O Urbanismo é para todo mundo (e para qualquer um), mas você já sabia disso

Poucas coisas são tão claras e tão fáceis de entender (e trabalhar com) quanto o planejamento de cidades, ou projetos de regeneração urbana

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Condensar a evolução das cidades em 20 ou 30 minutos é tarefa mais complexa do que explicar, com clareza, sintética e objetivamente, o que realmente importa no desenvolvimento das cidades. Yuval Harari precisou de 472 páginas (em “Sapiens”) e Ben Wilson de 496 (em “Metrópole: A história das cidades, a maior invenção humana”).

 

Segundo Ben Wilson, “desde os primeiros assentamentos na Mesopotâmia, por volta de 4000 a.C., as cidades têm operado como gigantescas centrais de informação; é a interação dinâmica de pessoas em metrópoles densas e populosas que engendra as ideias, as técnicas, as revoluções e as inovações que impulsionam a história. Até 1800, a parcela da população global vivendo em áreas urbanas significativas oscilava entre 3% e 5%; essa minoria, contudo, exerceu uma influência desproporcional no desenvolvimento do mundo. É que as cidades sempre foram os laboratórios da humanidade, os espaços onde a história se desenrola e se acelera”.

 

 

 

Mas não apenas explica: “Sempre que uma área dobra sua densidade populacional, ela se torna de 2% a 5% mais produtiva: as energias contidas nas cidades nos tornam coletivamente mais competitivos e empreendedores”. Note que, apesar dos dados específicos, nada ali lhe parece estranho ou desconhecido.

 


Nenhuma grande surpresa, nada diferente do que, intuitivamente, todos nós sempre pensamos sobre cidades. Daniel Kahneman descreve dois sistemas de pensamento, a forma rápida, a partir do subconsciente e intuitiva, e a forma lenta, racional e lógica. Os dois sistemas operam em velocidades diferentes, mas um é a extensão do outro; as decisões tomadas subconscientemente são depois justificadas pela lógica, que valida essas decisões. Não há lógica que vá contra o bom senso e o conjunto do conhecimento coletivo.


Dizer que o Urbanismo se resume a 3 pontos, que são densidade, presença da institucionalidade e uso misto não assusta, e nem impressiona. Até mesmo quem escolheu morar num bairro de baixa densidade sabe que a mágica só acontece quando há densidade. Sabe quando precisa pegar o carro para qualquer coisa, e sabe quando deixa de sentir a presença da institucionalidade, e da segurança. Sabe sem precisar recorrer a teses complexas, retóricas floreadas ou livros empapados daquela terminologia técnica que apenas os “iniciados” e os “ungidos” dominam. Carl Jung acreditava que a intuição era uma forma de inteligência subconsciente que muitas vezes "precede" a lógica. 

 

 


A sua intuição já aprendeu que a densidade é o que permite cidades compactas, e que cidades compactas tem um custo de infraestrutura menor por habitante. Que cidades densas e compactas viabilizam, pela redução do território necessário e pelo volume de consumidores, transporte público de alta capacidade, comércio e serviços amplos e, ao mesmo tempo, especializados; que promovem uma maior circulação de ideias, um maior intercâmbio de conhecimentos, exatamente as duas componentes da força motriz que provoca a inovação.


Que cidades densas e compactas podem oferecer mais segurança, e mais serviços públicos de educação, saúde e lazer, dado que o volume da população concentrado viabiliza qualquer investimento público, e a intensidade de uso, somada aos “olhos da rua”, a segurança, o uso real das bicicletas e o caminhar como meios de transporte “normais”.

 


Que uma cidade densa e compacta, quando bem dirigida, quando com seu desenvolvimento orientado por regras simples, claras e orientadas à densidade, pode estar entremeada pela institucionalidade necessária, seja por eixos importantes, seja pelos edifícios públicos bem distribuídos (nos locais mais adequados e com as visadas corretas), e conectados a “vazios” para o lazer público, próximos a equipamentos culturais, criando uma sensação de bem estar, de qualidade do espaço urbano, de que a cidade seja, realmente, verdadeiramente, para todos.


Que uma cidade densa, compacta e com a institucionalidade presente, nos locais certos, e com os “vazios” necessários, quando gerida com baixa restrição de usos, se propensa a um certo grau de espontaneidade, quando orientada ao uso misto, produz e liberta o melhor do espírito humano, estimulando o empreendedorismo e em constante regeneração, sem vácuo, sem espaços degradados.

 


Nada é tão eficiente para o orçamento municipal quanto a cidade densa, compacta, com a institucionalidade presente e plena de uso misto, equação capaz de proteger a cidade até mesmo contra a mentalidade de gafanhoto (uma espécie de mentalidade de manada, com igual falta de criatividade, mas com mais poder destrutivo), que se move de bairro em bairro, esgotando cada um deles.


A verdade é que poucas áreas de conhecimento são tão acessíveis, tão simples e tão fáceis de serem compreendidas, compartilhadas e praticadas (no exercício profissional, nas gestões públicas municipais, como hobbie que seja) quanto o Urbanismo e suas diretrizes (densidade, presença da institucionalidade e uso misto), largamente testadas e amplamente provadas, para além de qualquer opinião ou debate.

 

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É conhecimento com uma curva de aprendizado extremamente curta (e rápida), altamente intuitiva e disponível para Arquitetos, administradores, curiosos e quaisquer interessados que tenham um mínimo de curiosidade, atenção e disposição para ler (não confundir a legislação - gigante, hiperbólica, focada nas filigranas - com o conhecimento real).


Só não combina, no final do dia, com quem não é muito afeito a casos reais e teses comprovadas, e por quem combate a lógica e o bom senso. O urbanismo é território fértil para os sonhadores, mas jamais para os tolos, ou para quem enxerga o mundo pelas lentes da política e da doutrinação ideológica.

 

 

Termino com Ben Wilson, que nos lembra que “em vez de estimular a dispersão, a economia do conhecimento e os sistemas de comunicação ultra rápida encorajaram grandes corporações, pequenas empresas, startups e trabalhadores autônomos da economia criativa a se amontoarem como abelhas numa colmeia. O que não deve causar surpresa: inovações tecnológicas, artísticas e financeiras ocorrem quando os especialistas se aglomeram; os seres humanos prosperam quando compartilham conhecimento, colaboram entre si e competem cara a cara em certos ambientes — especialmente em lugares que facilitam os fluxos de informação. Se antes as cidades procuravam cortejar grandes fábricas ou capturar uma parcela do comércio mundial, agora elas competem pelos melhores cérebros”.


Isso é uma cidade. Isso é urbanismo. Essa é a - única - razão de existir para o planejamento.


É simples, realmente simples.

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