

Haute couture, n'est pas?
Um país é tão mais civilizado quanto mais a Arquitetura é valorizada
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

Pierre Cardin foi da moda, mas flertou com a Arquitetura (se inscrevendo numa universidade francesa) pouco antes de montar o próprio atelier, logo após desenhar para Christian Dior. Os traços geométricos (e a Arquitetura) sempre estiveram ali, presentes em suas criações, lembrando a convergência das estampas inspiradas na arte de Piet Mondrian criadas por Yves Saint Laurent para peças de sua Maison.
-
23/12/2024 - 06:00 Mercado imobiliário: sobre escolhas e manadas -
30/12/2024 - 06:00 Sobre esperança e renovação -
13/01/2025 - 04:00 Quanto mais muda, mas permanece tudo igual
Os vestidos inspirados em Mondrian foram, possivelmente os mais copiados de toda a história, demonstrando a capacidade do cidadão comum de compreender - e apostar - no que é extraordinário, bonito, harmônico e rico, para além dos dourados, dos brilhos e dos balangandãs (afinal, quem se deixa seduzir por dourado, coisa brilhante e balangandã é peixe, e não gente).
Coco Chanel dizia que “a moda passa, mas o estilo permanece". Dizia, ainda, que “para ser insubstituível, deve-se sempre ser diferente", na mesma linha do enfant-terrible Jean Cocteau que, lá atrás, declarou que “o estilo é uma maneira muito simples de dizer coisas complicadas”.
Pierre Cardin dizia que “a moda é a transmissão da civilização", assim como são a Arquitetura e seus prédios, suas casas, museus, escolas e qualquer outro elemento construído. Mas com uma “pequena” diferença: os elementos construídos duram séculos, atestando a incompetência e a falta de criatividade de forma contundente e - praticamente – eterna.
Na Arquitetura, o que é ruim dura tanto tempo, que os impactos negativos e a feiura perduram por gerações. A “falta de estilo”, na moda, é um problema exclusivo de quem usa; na Arquitetura, um problema de todos, e por décadas.
Como explicar, então, o cuidado que aplicado à moda na criação dos padrões e dos tecidos, no desenho das peças de vestuário e nos acessórios, e na fabricação dos produtos quando falamos de moda, mas o oposto, com o desleixo, a improvisação e a preguiça quando se trata de prédios?
Como explicar a dedicação e o empenho em produtos de curta duração e baixo custo, em oposição à falta de cuidado, de gosto e de originalidade em edificações caríssimas, e que duram - quase - para sempre?
Por que a civilização e a cultura permeiam a moda, mas não estão presentes em 95% dos prédios construídos? Por que o estilo é reverenciado na moda, mas não na Arquitetura? Por que tantos prédios tão feios e repetitivos, quando a moda investe em designs que confiram diferenciação, identidade e personalidade?
Não que eu esteja reclamando, até porque, enquanto sócio de uma incorporadora que só investe em prédios de alto valor estético, com identidade única e personalidade marcante, uma concorrência de baixo nível não apenas não incomoda, quanto ajuda.
Mas enquanto cidadão, incomoda e incomoda muito. Enquanto pai, incomoda muito. Enquanto consumidor de arte e cultura, incomoda muito. Enquanto belo-horizontino, incomoda muito.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia
Incomoda que as cidades estejam cada dia mais feias, que os prédios sejam cada dia menos inspirados e menos interessantes, menos originais e mais parecidos. Incomoda saber que essa epidemia de feiura estará aqui por, pelo menos, 4 gerações, piorando as cidades.
Se a moda carrega cultura, o mercado imobiliário instila falta de cultura, pobreza de espírito, inventividade, bom gosto e arte, ao mesmo tempo em que ofusca os potenciais compradores com muito brilho, contas, espelhos, dourados e fitas de LED, trocando civilização por brilho, por deslumbre.
A minha proposta? Levar (de verdade) a história da arte e da Arquitetura às escolas, promover oficinas de desenho para os estudantes, e costurar tudo isso com alguma filosofia, e muitos, muitos roteiros e passeios arquitetônicos, como o amigo - e Arquiteto - Ulisses Morato (@ulisses.morato) tem promovido, com bastante sucesso, resgatando prédios, lugares e biografias.
Parafraseando Pierre Cardin, “a ARQUITETURA também é a transmissão da civilização", e um país é tão mais civilizado quanto mais a Arquitetura é valorizada e ajuda a compor a cidade.