Rogério Cardeman é um estudioso. Arquiteto e Urbanista, Mestre e Doutor pelo PROARQ da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Professor na Universidade Veiga de Almeida e no Mestrado Profissional no Programa de Pós-graduação em Projeto e Patrimônio da UFRJ. Como se não bastasse, ainda tem um escritório. Sabe do que está falando.
Rogério contava, essa semana mesmo, no Caos Planejado, que Copacabana teve, em 1946, inspirada na proposta feita por Alfred Agache em 1930, um instrumento chamado Planta de zoneamento, que instituiu limites entre 23 a 30 metros de profundidade para as edificações, dependendo da largura da quadra, mas sem quaisquer afastamentos frontal e lateral.
E, já que este é, exatamente, o modelo que defendo, sem afastamentos frontais e laterais, aproveitamento dos lotes e coeficientes altos, aproveitei o gancho (da coluna de Ricardo) e fiz umas simulações e umas contas, usando a geometria e a matemática.
Suponha um quarteirão com 10.000 m² com medidas de 100 x 100 metros. Suponha prédios de 12 pavimentos, uma altura mais do que conservadora para os padrões atuais.
Suponha um quarteirão de Copacabana edificado sob as orientações das diretrizes de 1946, alinhados no limite frontal dos lotes, sem afastamentos frontal e lateral. Suponha a profundidade de 23 metros para os prédios e apartamentos "padrão" de 70 m², para 4 moradores.
Essa configuração produzirá:
• 7.084 m² de apartamentos por pavimento;
• 101 apartamentos em cada laje;
• 1.212 apartamentos no quarteirão;
• 4.856 moradores no quarteirão.
Suponha, agora, um quarteirão de igual área e iguais medidas em Belo Horizonte, à luz da legislação atual. Suponha os mesmos objetivos aqui, ou seja, apartamentos "padrão" de 70 m² para 4 moradores, prédios com 12 pavimentos.
Na Belo Horizonte da atualidade, teremos:
• 4.296 m² de apartamentos por pavimento;
• 61 apartamentos em cada laje;
• 732 apartamentos no quarteirão;
• 2.928 moradores no quarteirão.
A legislação atual de Belo Horizonte limita a densidade em qualquer quarteirão a 61% do que Copacabana entregava em 1946, e quanto mais altos e mais pavimentos tiverem os prédios nessas simulações, maior será a discrepância entre Copacabana e Belo Horizonte.
E, especialmente para os arautos do meio ambiente, da ventilação e da iluminação naturais, um pouco mais de geometria e matemática: a Copacabana de 1946 entregava uma praça central sobre terreno natural, um grande jardim com - incríveis - 2.916 m2 em cada quarteirão.
Vou repetir: Copacabana entregava praças privadas de uso público aos moradores dos quarteirões, cada uma com quase 3.000 m2. Praças inteiramente bancadas e cuidadas pelos próprios moradores, seguras e sem qualquer custo para a municipalidade.
Quer saber quanto a legislação atual de Belo Horizonte entrega? São 2.000 m² obrigatórios, dos quais 1.163 em forma de ridículos jardins frontais atrás de vidros e grades, sem qualquer uso, fragmentados em cada prédio, circunscritos entre muros (entrega mais uns 800 e poucos m² pulverizados em jardineiras pelas laterais e fundos de cada prédio; mais inúteis, impossível).
Eu podia continuar descascando a trajetória de fracasso que a legislação urbanística de Belo Horizonte vem impondo à cidade nos últimos 40 anos, lembrando a visão ideologizada, obsoleta e notoriamente errada. Mas nem precisava, quando a geometria e a matemática dão conta do recado sem muito esforço, apenas com dados, números, desenhos e um senso adulto de realidade.
Para quem acha que aumento da quantidade de apartamentos e de moradores interessam apenas ao "mercado", aos "capitalistas" e aos "liberais", um alerta: apenas a alta densidade pode vitalizar uma cidade e torná-la segura. Apenas a alta densidade pode reduzir os custos dos imóveis e trazer para pertinho os moradores menos favorecidos. Apenas a alta densidade pode reduzir a demanda por mais transporte público (e pode até reduzir) e tirar carros das ruas.
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Apenas a alta densidade pode ajudar a promover justiça social, aproximando todos dos empregos, da educação, cultura e lazer. Apenas a alta densidade pode forjar um senso de comunidade e os laços que só são formados quando há convivência próxima.
Os anos de 2025 e 2026 verão uma nova Conferência Metropolitana, quando Belo Horizonte terá a chance de escolher, mais uma vez, entre permanecer no caminho do atraso ou entrar no século XXI.