Cena de uma luta de telequete -  (crédito: WWE)

Cena de uma luta de telequete

crédito: WWE

Embora você esteja lendo essa coluna já com o seu voto depositado na urna, e sabendo quais candidatos estão no segundo turno, ela foi escrita antes. Você já sabe, mas quando escrevi, ainda não sabia.

 

O texto poderia tratar sobre futurologia, previsões políticas, tendências de voto, debates e últimos movimentos, mas a verdade é que… tanto faz.

 

Tanto faz porque, com honrosas e raríssimas exceções, o período de campanhas eleitorais virou um grande telequete, uma briga de torcida ou, pior, um debate entre adolescentes mal educados.

 



É um grande programa do Chacrinha, um extrato do Big Brother, de A Fazenda, programas que vivem do ridículo de expor pessoas ridículas pelo que tem de pior, mais mesquinho e mais baixo no espírito humano.

 


Baixaria, futrica e notoriedade são hoje a marca registrada dos candidatos e das campanhas, com o ápice (ou, se preferir, o ponto mais baixo) nos debates, onde a agressão, o cinismo e a grosseria são atirados na cara do eleitor que se dispõe a conhecer os programas de cada candidato.


Deserto, terra infértil, arrasada, seca. Nada cresce, nada floresce.


Agora, chegam ao segundo turno (com honrosas e raríssimas exceções) os mais barulhentos, mais polêmicos, os mais mentirosos e os mais cínicos, disputando quem terá a caneta pelos próximos anos. Quem terá a chance de indicar apaniguados, parentes e amigos para os melhores cargos, e os “vencedores” para os melhores contratos.

 


Em Belo Horizonte, o eleito terá a chance de, numa licitação “prá lá de isenta”, escolher as empresas de ônibus que continuarão a prestar serviços de excelência em ônibus de última geração, com motoristas educados e sempre pontuais. Afinal, em time que está ganhando, não se mexe, certo?


Poderá, ainda, manter a cidade nesta incrível rota do desenvolvimento urbano e social, numa nova  Conferência Metropolitana que, muito democraticamente (exatamente como nas últimas), terá uma minoria de técnicos capacitados e uma maioria de membros da militância política, para receber a minuta da lei prontinha, elaborada exclusivamente pela Prefeitura, num balé de “construção participativa”. Na verdade, uma peça mal preparada e mal encenada, num teatro mambembe que já não convence ninguém há décadas.

 


O que nos espera, em Belo Horizonte, são mais 4 anos do mesmo. Da mesma fuga dos negócios, dos empreendimentos e da riqueza da cidade para os municípios vizinhos, de mesma obsessão por um modelo de cidade obsoleta e decadente, da mesma má vontade do poder público para com os empreendedores, dessa mesma visão ideologizada do mundo dos anos 1970, uma visão que prima pela paixão pela burocracia, pelo excesso de regras e pelo controle (trinômio que, se funcionasse e levasse a algum lugar bom, já teria feito de Belo Horizonte uma Barcelona, porque lá se vão 30 anos insistindo neste mesmo caminho).


Não estou falando de política, mas da visão de cidade que o/a próximo/a prefeito/a tem, e vai implementar (ou manter), até porque o que está em disputa é um cargo executivo, de gestão, e não um programa de popularidade com um prêmio em dinheiro ao final.



E é por isso que eu, Pedro Portes e Carlinhos Barros Santos decidimos enviar aos 4 candidatos mais à frente nas pesquisas os 2 livros mais importantes - e uma carta - sobre cidades e urbanismo: “Vida e Morte de Grandes Cidades”, de Jane Jacobs, e “Ordem Sem Design”, de Alain Bertaud.

 


Inusitado mas nada impróprio, porque uma coisa é disputar e vencer; outra totalmente diferente é governar e gerir a cidade.


E, ali, naqueles 2 livros, está tudo o que é necessário saber de importante e de conceitual sobre urbanismo e cidade. Ali, naqueles 2 livros, estão as chaves para que Belo Horizonte emerja em 2029 como uma cidade muito melhor, mais atraente, mais humana, mais densa, mais viva e mais rica, trazendo a camada menos afortunada para pertinho e promovendo, sim, através do urbanismo e de uma visão de cidade mais do que provada e comprovada, enfim, a verdadeira justiça social que nenhum programa de distribuição de renda consegue: habitação e emprego, educação continuada, tudo pertinho.


Sabemos que o momento da campanha é muito corrido, e lotado de compromissos (a maior parte inúteis, mais para atendimento político” e o concurso de popularidade), mas com o segundo turno começando, esses 2 livros tem o condão de trazer o debate para um bom nível, e discutir o que realmente interessa: a gestão da cidade, a visão da cidade, densidade, desburocratização, empreendedorismo, educação.

 

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Candidatos, leiam “Vida e Morte de Grandes Cidades”, de Jane Jacobs, e “Ordem Sem Design”, de Alain Bertaud. Acreditem nos livros e em seus autores, assim como Paris, Barcelona, Buenos Aires, Nova York, Copenhagen e tantas outras acreditaram.


Que venha 2025.