Fred Melo Paiva
Fred Melo Paiva
DA ARQUIBANCADA

Descanse em paz, Bastião, se puder

Em seu coração de galinha, mesmo carcomido pelo sofrimento, sabia que quem cultiva a semente do amor segue em frente e não se apavora

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O galo morreu. É possível que tenha sido por desgosto, embora não se tenha notícia de semelhante causa mortis entre galináceos. A bem da verdade, assemelhava-se a um galo de briga, e galos de briga são galos de briga porque jamais desistem, lutam até morrer. E a morte por desgosto, veja, é a morte daquele que entrega os pontos. Apesar disso tudo, me parece coincidência demais que Bastião tenha vestido o paletó de madeira logo agora.

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Se partiu dessa pra uma melhor, não se sabe. Depende. Se há jogo do Galo onde se encontra agora Bastião, então partiu dessa para a mesma merda. Só descansa em paz se os direitos de transmissão forem tão bloqueados assim como o ovo frito, o frango de televisão de cachorro e a galinha à cabidela. Se tem Galo, Bastião, você foi pro inferno.

Acho difícil. Tendo sido atleticano até o osso da sorte de seu peito avantajado, quase um chester, Bastião pagou em vida todos os seus pecados, incluindo aqueles acumulados em existências anteriores. Pelo tamanho da fatura, Bastião deve ter sido como nós: perseguiu cristãos, queimou bruxas na fogueira, cometeu genocídios. Assim que saiu do ovo, Deus passou a régua e trouxe a conta: vai ser atleticano.

Aquele pinto cresceu: hay que endurecerse sin perder la ternura jamás! Embora a brasa estivesse sempre à espreita, embora o fantasma do rebaixamento ao forno se fizesse sempre presente, Bastião acreditava. Em seu coração de galinha, mesmo carcomido pelo sofrimento, sabia que quem cultiva a semente do amor segue em frente e não se apavora, e se na vida encontrar dissabor, vai saber esperar sua hora.

A hora do Bastião chegou em 2 de dezembro de 2021. Dia do Samba, e para sempre Dia do Galo. Bastião achou que tivesse quitado a fatura. Jogou as asas para o céu e agradeceu aos mecenas que tinham salvado o Galo e, por conseguinte, o galo.

Bastião achou que a festa não tinha hora para acabar. Sentiu-se como João, aquele da Cachaça Mecânica, de Erasmo Carlos: “Bebeu toda a cachaça da cidade, bateu com força em todo bumbo que ele via. Gastou seu bolso mas sambou desesperado. Comeu confete, serpentina e a fantasia”.

Bastião engoliu toda a conversa fiada. Bateu com força em todo Kalil que ele via. Comeu Arena, business day e quatro Hulks. Gastaram o bolso do outro mas sambaram na sua cara.

No caso do João, levou um tombo bem no meio da avenida, dormiu no tombo e foi pisado pela escola. Morreu de samba, de cachaça e de folia. Já o Bastião... foi morrendo aos poucos. Viu sumir do estádio o povão. Viu evaporar o shopping. Viu Bracks, viu Rafael, e o Primeiro Clube da Capital. Viu sumir o time da Libertadores. Viu o fantasma do rebaixamento.

No dia de sua última final, Bastião, sendo galo, acordou primeiro. Viu ao vivo o plantão da Globo e achou que era exagero: aquele porco enjaulado e o Galo campeão, pensou, o roteirista quer eliminar a gente da trama. E olha que Bastião nem bebia a água que passarinho não bebe.

No final do jogo, entendeu qual era a do roteirista: ele só queria fazer da nossa derrota uma alegoria do que sempre fora o porco e do que é o Galo dos quatro ratos: incompetente, trapalhão, burro, obscuro, sombrio, atrasado, teimoso, inepto, pateta, tacanho, arrogante, canalha, bandido.

Bastião não teve tempo de ver o bravo conselheiro e comunicador Frederico Bolivar ser julgado pelo Conselho de Ética, presidido por um cidadão indiciado pela Justiça por suspeita de pagar propina a políticos como dirigente do Banco BMG. Isso mesmo, Bastião: o presidente do Conselho de Ética do Conselho Deliberativo do Atlético é um indiciado por supostamente pagar propina a Romero Jucá e Eduardo Cunha.

Descanse em paz, Bastião, se puder.

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