
Nas alturas, vi o dedo de Sampaoli. Lá ele!
A sensação de que respiramos na altitude tem a ver, claro, com o arranca-toco contra o Santos, no domingo passado
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Pode ser que o calo nos olhos tenha turvado minha visão. Pode ser também que os dias de Bahia tenham feito este atleticano sofredor olhar o copo meio vazio e enxergá-lo meio cheio. O fato, no caso de não ser flato, é que na quarta-feira eu vi o dedo de Sampaoli. Lá ele!
Pode ser também que eu estivesse a esperar um desastre depois daquela sofrência contra o Santos. Talvez tenha pensado cá com meus botões: um time sem nenhuma atitude a jogar na altitude, tamo lascado. Imaginei que rastejaríamos desde a entrada em campo, como um Galo formado por jacarés. E que teríamos de cantar o Hino Nacional como uma equipe de mergulhadores, cada um com o seu cilindro. Enfim, de onde menos se espera é que não vem nada mesmo.
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Errado, senhores. E talvez o errado seja eu. Mas na quarta o Galo lutou, fez um jogo inteligente até onde foi possível, e voltou daquelas alturas com um bom resultado. Frustrante, obviamente, porque abrira um improvável 2 a 0, e depois entregou a paçoca. Não importa. No cenário de terra arrasada em que nos encontrávamos, a atitude foi um alento e tanto.
A sensação de que respiramos na altitude tem a ver, claro, com o arranca-toco contra o Santos, no domingo passado. Que jogo horroroso, meus amigos, em qualquer aspecto que se possa imaginar. Tive a audácia de reunir amigos para assistir àquela feiura. O sol se pondo lá fora, o barulho do mar, famílias felizes na barra do rio. E a gente ali, como cracudos a aguardar a vez na cachimbada.
Depois ainda ficamos obrigados a ver o Neymar postando fotos de inúmeros cartazes em que “atleticanos” pediam a camisa do menino Ney. Abri cada uma das fotinhos para olhar com minúcia a cena grotesca. Segundo orientação dos meus advogados, melhor não fazer juízo de valor mais aprofundado sobre os elementos portadores de tais cartazes. Em respeito ao leitor, nada direi sobre minhas ideias relativas à destinação das cartolinas.
Aliás, o estádio só encheu porque tinha Neymar. Que fundo de poço, minha gente. Com aquele pênalti besta no final, permitimos o empate que nos deixa a três pontos da zona de rebaixamento, embora com menos jogos que a maioria. O problema, no entanto, foi o futebol inexistente, sofrível. O pior time da série A, com folga.
Empatamos mas perdemos. E perdemos de novo na terça-feira, quando, em resultado unânime (!!!), o Conselho Deliberativo do Galo aprovou a alteração na cláusula anti-diluição da safada da SAF. “Golpe concluído com sucesso”, me escreveu um amigo. E a gente que reclamava da cabeça de burro enterrada no Mineirão, para sempre vamos lidar com quatro delas andando sobre a superfície.
Foi nesse clima, portanto, que fomos à Bolívia para o primeiro jogo das quartas de final da Sulamericana. Eu tava me sentindo a democracia brasileira, golpeada ontem, hoje e amanhã. Não foi o 4 a 1 do STF mas um 2 a 2 pra levantar a cabeça. Até Caio Paulista foi bem, como se tivesse sido feito para atuar na altitude. Em seu lugar, jamais desceria a serra novamente.
A nota triste foi a contusão do Cuello. É impressionante o tanto que o atleticano é azarado. Cada um de nós nasceu com o fiofó virado pro sol, né possível. Lembro do Emerson Conceição, o imachucável. Se pulasse da janela, cairia em pé igual um gato. Já o Reinaldo, o Marques em 99, o Ronaldinho depois da Libertadores de 2013...
Hoje, pois, o azarão tem a pedra na chuteira. Há coisas, como diz o outro, que só acontece com o Botafogo. Perder para o Atlético será uma delas, e em pleno Engenhão. Se na quarta vimos o dedo do Sampaoli, hoje veremos a mão cheia. Lá ele mil vezes!
O negócio é respirar no Brasileirão, onde temos dois objetivos principais: alcançar os 45 pontos, e ganhar do Flamengo na 36ª rodada, impedindo que sejam campeões no Terreirão do Galo. Se isso acontecer (de novo), pode vender pra Igreja Universal e voltar para o Mineirão, de onde jamais deveríamos ter saído.
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O jogo de hoje é importante não apenas para o Brasileirão, mas também para ganhar a necessária confiança para o jogo da volta contra o Bolívar. Passando sem sustos, o Galo estará a dois jogos da finalíssima, a três da Libertadores 2026. Salva a temporada atual e a próxima. Que assim seja!
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.