Fred Melo Paiva
Fred Melo Paiva
DA ARQUIBANCADA

E caminhamos céleres no irrefreável processo de vascanização

E dá-lhe cortina de inox pra distrair o distraído e acalentar o amansado

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Na quinta-feira passada, almocei em frente à televisão assistindo à repercussão do vexame do Vasco diante do Puerto Cabello. Os 4 a 1 na corcova – barba, Cabello e bigode – me encheram da mais solidária melancolia. Para um time da Venezuela, onde se prefere o beisebol? Que lástima. Eu gosto do Vasco, unidos sinistramente que somos pelo inimigo comum. “Vascão, Galão”, a gente cantava, “torcida de irmão”.

Dia seguinte, aboletado em meu sofá da sorte, o trono no qual assisti ao milagre primeiro de São Victor, aguardava pelo Iquique como um Tim Maia lendo os livros da Cultura Racional: numa relax, numa tranquila, numa boa. Barba, cabelo e bigode, pensei comigo, quando o Rubens abriu o placar.

Que engano, meus senhores. Aliás, estamos a nos enganar faz tempo. Além de estarem a nos enganar há mais tempo ainda. Aos 3 a 2 daquele inacreditável arranca-toco, jogo de solteiros contra os casados da firma, compreendi o risco a que estamos expostos: com todo o respeito ao co-irmão, caminhamos céleres no irrefreável processo de vascanização do Atlético.

Tal processo começa com o descolamento da realidade. Nosso tutor (falemos como os cachorros, é muito humilhante termos donos) acredita que somos hoje “um dos elencos mais fortes da história”. Por mais lorota que tenha contado, por mais profundo que se apresente o buraco no qual nos metemos, por mais que os números nos estapeiem a fuça, parte significativa da torcida, ainda assim, está tão certa quanto sem dúvida de que fomos salvos por esse Cristo crucificado. E dá-lhe cortina de inox pra distrair o distraído e acalentar o amansado.

A cartilha do processo de vascanização ensina sobre o culpado de sempre: o professor. Desde o Coudet, que só falou verdades, a culpa é do PT – a Porra do Técnico. Além, claro, da herança maldita de Alexandre Kalil, uma espécie de Fantasma do Comunismo, o Super Trunfo capaz de virar o jogo quando a farsa parece enfim desmascarada. Como tem bobo pra tudo, sempre dá certo.

Com o passar dos meses, às vezes semanas, sentimos saudades daquele antigo professor. Ou seja: de alguma forma, a coisa piorou e a vaca ficou ainda mais próxima do brejo.

Pense no Milito. Saudades? Em tese, e especialmente na do tutor, ele tinha um elenco pior. Veja bem: um elenco pior do que esse que perde para o Iquique, empata com o Caracas, o Mirassol e o Londrina, está na tábua da beirada do Brasileirão, ameaçado em um grupo amador da Sul-americana, e sem sinais de melhora. De duas, uma: ou o tutor vive em realidade paralela, ou o Milito era um gênio e ninguém o entendeu.

Reza a cartilha da vascanização que atletas passem pelo clube sem que com ele criem qualquer identidade, nenhuma relação afetiva, nenhum compromisso além do estritamente profissional. Estão, pois, apenas de passagem. Pense no jogo contra o Iquique. Apenas dois se salvaram: Rubens e Bernard. Pratas da casa. Do tempo em que se entrava funcionário e saía torcedor. Allan foi o primeiro a entrar funcionário e, sob a safada da SAF, sair funcionário. Hoje, o novo normal.

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Se você conversasse por 30 minutos com o Kalil, fosse você cruzeirense ou flamenguista, saía da sala um pouco atleticano. Com o passar do tempo, submetido àquela loucura a que se poderia chamar galoucura, tornava-se um Josias de meião e chuteira. Agora pensa você trancado com o tutor por 30 minutos, a falar sobre vinhos do Douro? Eu entraria funcionário e sairia liberto de um cárcere privado.

Por fim, o processo de vascanização, para que se conclua com sucesso, prescinde de um tipo cada vez mais predominante: o estupefato, o assombrado, o perplexo. “Que experimentou ou experimenta certo imobilismo decorrente do sentimento de pasmo”, ensina o Pai dos Burros. É nóis, em acachapante maioria. Aproveitando o ensejo, um salve à GDR, que organizou protesto e cunhou o melhor dos cânticos – “Menin é só caô”.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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