Fred Melo Paiva
Fred Melo Paiva
GALO!

A ‘alma’ está esburacada como um canastra ruim

Está claro que falta a esse Galo desalmado desde atacantes a banco de reservas, de esquema tático a salários em dia

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Nas quatro primeiras rodadas do Brasileirão, o Atlético acumula duas derrotas e dois empates. Segura a vice-lanterna do campeonato. Não há qualquer sinal de evolução. Ao contrário, o que se viu contra o Santos foi uma radical involução, de cabo a rabo. Sobressaem as principais características do Galo desde que o clube se tornou SAF: um time sem alma, sem brio, esquecido de sua história, apartado de seu torcedor.

 


Em outros tempos, quando o Galo não ganhava, o atleticano se revoltava, jurava nunca mais pisar no Mineirão, rasgava a carteirinha do clube. No dia seguinte, tratava de curar suas dores, nada que um durex não pudesse solucionar. Vestia a camisa listrada, estufava seu peito de chester e saía por aí. No próximo jogo, tava lá outra vez, na derrota ou na vitória. Galo sempre!


Hoje, o que nos inspira um clube que parece ter vendido a alma ao diabo? Que sentimento a gente carrega no peito ao ver desandar o Galo renascido ali por 2012 e que parecia definitivamente instalado na prateleira de cima do futebol sul-americano? Decepção, desalento, preguiça, desânimo. Antes, a nossa revolta movia montanhas. Hoje, não cavuca sequer um barranco.

 

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Antes, se poderia tirar da cadeira da presidência o cartola inepto. Hoje, assim como os cães, temos donos. Cachorros não demitem seus donos. Uma vitória domingo e abanaremos nossos rabinhos. Mas isso não devolverá nossa “alma”. Ela depende de aspectos um tanto intangíveis, com os quais não trabalham as empresas, os empresários, os CEOs e sua entourage. Esse pessoal também tem seu dono, e só abana o rabo para ele – o dinheiro.


Os donos da SAF do Galo e seus gestores não são melhores nem piores que outros empresários com poder e dinheiro. No capitalismo, essas pessoas existem para fabricar mais dinheiro e, por consequência, mais poder, o que gera ainda mais dinheiro e mais poder. E assim a roda gira.


O Galo é um patrimônio histórico e cultural criado por seu povo com muita luta e resiliência. Nunca deveria ter sido tratado como empresa, jamais deveria ter se convertido em SAF. Menos ainda se seus donos só conseguem operar dentro da lógica empresarial do lucro, e não têm sequer a sensibilidade para compreender, embora atleticanos, que a “empresa” adquirida por eles têm características bastantes distintas de empreiteiras e bancos.

 

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É preciso uma certa cultura, que eu diria anticapitalista, capaz de aceitar a “atleticanidade” como ativo importante do novo “negócio”. É preciso operar para valorizar o patrimônio cultural que, azar o nosso, foi comprado pela iniciativa privada como se a Portela ou a Mangueira amanhecessem adquiridas pelo Itaú ou pela Tecnisa. Ainda que fosse pela saúde financeira do novo “business”, seria importante que nossos tutores (au, au) compreendessem que mora aí a galinha dos ovos de ouro. E que se não houver “alma”, estaremos mortos.


Está claro que falta a este Galo desalmado desde atacantes a banco de reservas, de esquema tático a salários em dia. Sobretudo, falta o famoso aporte de dinheiro que seria o objetivo de uma SAF para qualquer associação que tenha escolhido jogar-se desse abismo.


No Galo nunca houve aporte de dinheiro algum, muito antes o contrário – o patrimônio foi queimado, a dívida explodiu, os elencos vitoriosos foram desmontados. Por que mesmo, então, viramos SAF? Pra quê? Que pacto é esse em que o diabo leva a alma, o estádio, o Centro de Treinamento, o naming right e tudo o mais, e não devolve nada?

 

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Hoje achei por bem não comentar o jogo de quarta nem o de domingo. Porque o mais grave de tudo não me parece ser os pontos minguados e o futebol sofrível. O mais importante agora, ao meu ver, é observar como a estrutura de gestão do nosso Galo trabalha para minar o nosso sentimento, aquela paixão que não se explica, aquilo que, afinal, fez de nós os torcedores que somos – ou as pessoas que somos. A “alma” está esburacada como um canastra ruim. É tudo espantosamente desanimador.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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