
O que ensinam (ou não) Mushuc Runa e Iquique
"A lição é a mesma que nos ensinou as duas primeiras rodadas do Brasileirão: adversários excessivamente frágeis não são parâmetros para absolutamente nada"
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O Galo no Mineirão vazio me lembrou Gay Talese, o grande repórter norte-americano, ícone do New Journalism, por aqui traduzido para Jornalismo Literário. Certa vez, destacado para um perfil de Frank Sinatra, encontrou “A Voz” sem voz, acometido por uma gripe. “Como Picasso sem tinta”, escreveu, “Ferrari sem combustível” – o Galo sem a Massa.
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A punição é culpa de inofensivos sinalizadores usados para abrilhantar duas festas pacíficas na Libertadores de 2024, durante os recebimentos do Galo contra Fluminense e River Plate. Conmebol e FIFA são inimigas do futebol e da cultura de arquibancada. Fecham os olhos para o racismo mas são implacáveis contra os sinalizadores. Parabéns!
Em campo, com os salários atrasados postos em dia apenas poucas horas antes do jogo, o Galo fez uma espécie de treino contra o Iquique, pela Copa Sul-A mericana – um passeio que marcou o reencontro com a vitória, beleza, mas que nada diz sobre nada, tamanha a fragilidade do time chileno.
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Registre-se também o golaço de Rony, menos pelo arremate final e mais pela sequência perfeita de troca de passes, sempre de primeira. Mas como analisar a qualidade de seu tiki-taka se do outro lado temos algo como um time da firma, ou uma seleção de casados cujo arquirrival é a equipe dos solteiros?
Situação semelhante ocorrera na noite anterior, quando o Crüzëirö enfrentou o Mushuc Runa, dos povos originários do Equador. Aqui na aldeia Pataxó vizinha à minha residência, os indígenas do Barravelhense são os atuais campeões do Caraivão, o mais tradicional torneio do pedaço. A vitória do Mushuc em pleno Mineirão foi mais ou menos como se o time de Barra Velha ganhasse do Flamengo no Maracanã.
La Bestia Cuadrada deve ter muitas lições a tirar da derrota para o time dos casados, e tomara sejam todas equivocadas, e que a Selezero siga assim rumo ao abismo mais profundo, para o nosso deleite e gargalhada. Da nossa parte, a lição é a mesma que nos ensinou as duas primeiras rodadas do Brasileirão: adversários excessivamente frágeis não são parâmetros para absolutamente nada.
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Não nos fiemos, pois, na campanha do hexa no Mineiro deste ano. A chegada de Cuca pareceu dar novos ares ao time, que em certos momentos lembrou o Galo Doido. Mas eliminar o Crüzëirö, até o Mushuc Runa. Tampouco é grande feito bater o América na final, ainda menos se entregamos a paçoca do título invicto.
Bastaram dois jogos no Brasileiro para saltitarem as pulgas atrás das nossas orelhas: não falta um volante? Um meia? Com o aumento do sarrafo, o que será, por exemplo, do Natanael? Júnior Santos vai enfim estrear? O voluntarismo de Rony Rústico dará mesmo conta do recado?
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Claro que a remontagem de um time vem acompanhada de muitas incertezas e boas doses de aposta. O futebol é um jogo, e não apenas aquele que se disputa dentro de campo. Palmeiras, Botafogo, Crüzëirö e Atlético se reformularam para 2025. A diferença do primeiro para os outros três é a incomparável capacidade de se fazer as coisas bem-feitas a partir de sua equipe de comando.
O Botafogo promoveu um desmanche e seja o que Deus quiser. No Crüzëirö, Pedrinho achou que entendia de futebol, um erro comum que afeta quase todo torcedor enfronhado demais nos assuntos do seu time do coração. Temo que Pedrinho termine como o seu Juvenil, o dono da vendinha que ficava na esquina da rua do Ouro com a Bambuí. Não sei se Juvenil perdera tudo por ser juvenil. Mas se eu fosse o Pedrinho eu deixava de ser juvenil e passava essa SAF nos cobres enquanto é tempo.
O Galo, pois, estava até outro dia com os salários atrasados. Uma SAF que atrasa salários??? Sim. E também uma SAF que não investe. Pode dar certo? Pode, é um jogo. Boa sorte pra nós então.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.