
Matemos o Estado, ou ele nos matará
O Estado está cansado de nós. Ele é um senhor senil, obeso, de bengala e farda, que ainda acredita que sabe o que é melhor pra todo mundo
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Penso no Estado como aquele tio da piada do Pavê, mas com poderes constitucionais. Talvez ele seja o exemplo mais antigo de relacionamento tóxico. O indivíduo apanha, reclama, mas continua ali, pagando boletos e ouvindo promessas de estabilidade emocional via reformas administrativas. O Estado é aquele ex-namorado ciumento que controla tudo: seu CPF, sua CNH, seu cadastro no SUS e até o nome do seu gato (sim, tem que registrar). Ele diz que te protege, mas te deixa sozinho na fila do INSS, enquanto cochila em cima de um formulário carimbado em 1998.
O Estado está cansado de nós. Ele é um senhor senil, obeso, de bengala e farda, que ainda acredita que sabe o que é melhor pra todo mundo. Está sempre nos vigiando, nos cobrando, nos legislando. Nos oferece segurança, armando mais a PM; nos oferece saúde, mas você precisa levar o papel higiênico pra consulta; nos oferece educação, mas o professor ganha menos que o entregador do iFood - sem desmerecer o entregador, que, aliás, trabalha bem mais que deputado.
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E, claro, quando algo dá errado, a culpa é sempre nossa. "O povo não sabe votar", dizem os iluminados. Ora, quem ensinou o povo a pensar? O próprio Estado, em escolas sucateadas, com merenda vencida e quadro-negro rachado. É como se o padeiro lhe vendesse um pão embolorado e depois dissesse que a culpa é sua por não saber fazer dieta.
A direita quer matar o Estado em nome da liberdade de mercado – como se os tubarões de terno da Faria Lima fossem mais benevolentes que Leviatã. A esquerda quer um Estado babá, que nos embale até a velhice – mesmo que, às vezes, ele nos derrube do berço. No fim, ninguém quer o Estado como ele é: inchado, feio, e com tendência homicida.
Sim, homicida. Veja os dados: o Estado mata quando nega atendimento, quando abandona o povo à própria sorte nas enchentes, quando omite socorro, quando finge que política pública se resolve com a circulação de slogans em bonés. E mata também com gosto, quando se veste de caveira e vai “pacificar” as favelas, de helicóptero.
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Por isso, minha sugestão é simples: matemos o Estado, ou ele nos matará. Mas com estilo. Com ironia. Com utopias delirantes. Com panfletos filosóficos e memes anarquistas. Nada de guilhotinas – a não ser metafóricas. Proponho assassiná-lo com ideias. Com riso. Com desobediência criativa. Ocupações e arte de rua. Porque se a burocracia é uma máquina de moer sonhos, que tal devolver poesia no lugar de protocolo?
No fim, talvez matar o Estado seja apenas deixá-lo morrer de vergonha. Isso, claro, se ele ainda tiver alguma.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.