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SIGA NOReconhecida por sua dedicação à saúde mental e à proteção de políticas públicas, Kennya Rodrigues Nézio se destaca como uma das principais vozes no Brasil no resgate histórico e na humanização do cuidado em saúde mental. Nascida na capital mineira, Belo Horizonte, com criação em Barbacena, cidade que abrigou o maior hospital psiquiátrico do Brasil e ficou marcada pelo "Holocausto Brasileiro", Kennya dedicou sua trajetória acadêmica e profissional a transformar histórias de exclusão em exemplos de resiliência e inclusão.
Por décadas, Barbacena foi o símbolo de uma política de saúde mental baseada na exclusão e na violência institucional. O Hospital Colônia de Barbacena, que chegou a abrigar mais de 5 mil pacientes, simultaneamente, tornou-se notório pelas condições sub-humanas e pelo alto índice de mortes. Estima-se que mais de 60 mil pessoas morreram ali, em uma história que chocou o Brasil e o mundo.
“Barbacena representava o que havia de mais cruel no tratamento da saúde mental. A desinstitucionalização nessa cidade não foi apenas uma mudança política; foi um marco simbólico e humanitário para todo o país”, reflete Kennya.
Da exclusão à inclusão
Kennya foi um dos profissionais de maior importância na implementação de políticas públicas que mudaram completamente a abordagem da saúde mental em Barbacena. Sua atuação se destacou na transição do modelo manicomial para um sistema baseado na reabilitação psicossocial e no fortalecimento de serviços comunitários, como os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
“Esses serviços não são apenas estruturas físicas; eles simbolizam o resgate da dignidade humana. Foi um trabalho de acompanhamento – não apenas de políticas, mas também de vidas”, afirma Kennya.
Sua pesquisa e atuação foram possíveis transformar a dor e o abandono em cuidado e inclusão, com a criação de um modelo que se tornou referência para outras cidades e países.
Influências internacionais
Além de atuar no contexto brasileiro, Kennya investigou como modelos de outros países ajudaram a moldar a reforma psiquiátrica em Barbacena. Sua pesquisa explorou as conexões com a Psiquiatria Democrática Italiana, liderada por Franco Basaglia, e abordou as contribuições do Reino Unido, da França, dos Estados Unidos e do Canadá.
“Na Itália, a abordagem estava na democratização da saúde mental; no Reino Unido, a psiquiatria comunitária se destacou; Já nos Estados Unidos e Canadá, vimos avanços tecnológicos e terapêuticos que complementam essas abordagens. Estudar esses países nos ajudou a adaptar práticas globais às nossas realidades locais”, explica Kennya.
Impacto e legado
Hoje, Barbacena é um símbolo de resiliência e transformação, e muito disso se deve ao trabalho de Kennya. Sua trajetória uniu história, ciência e ativismo para inspirar mudanças que foram além das fronteiras da cidade e influenciaram políticas públicas nacionais.
“Meu compromisso sempre foi com as pessoas. Transformar Barbacena foi um passo para garantir que nenhuma outra cidade reproduza o que aconteceu aqui. A saúde mental é mais do que um direito; é uma necessidade fundamental para uma sociedade justa”, conclui Kennya.