O carnaval é sem dúvidas a maior festa brasileira. Para muitos é uma pequena brecha para viver a alegria se fantasiando para pular de cabeça nas escolas de samba ou nos bloquinhos de rua. O que para alguns é entretenimento e diversão, para tantos outros é a razão de viver o ano inteiro, é a fonte de renda, é o grande amor de suas vidas. É possível ter noção desse amor através das composições que marcaram a história do samba e do carnaval. Um amor cantado por Paulinho da Viola para Portela, por Cartola para Mangueira, por Arlindo Cruz para Imperatriz Leopoldinense.
Um momento em que a cultura negra recebe o palco só para ela. Até porque carnaval no Brasil possui um protagonismo negro que em nenhum outro momento lhe é ofertado. Não que seja perfeito e não tenha disputa e desavenças, mas o carnaval é a festa do povo. Sim, os desfiles das Escolas de Samba é um espetáculo que o mundo todo quer assistir. Todos os olhares voltam para a Sapucaí. Mas não é só de escola de samba que é composto o carnaval.
Os blocos arrastam multidões todos os anos na primeira capital do Brasil, a lindíssima Salvador. Blocos famosos, populares e que são puxados por grandes nomes midiáticos. Desses eu não preciso nem falar. Nesse artigo quero festejar um bloco cinquentão que sobe as ladeiras do Curuzu declarando amor à negritude.
A beleza negra é literalmente festejada, cantada e dançada pelo bloco afro Ilê Aiyê há exatamente cinco décadas. As suas composições mostram o óbvio que precisa ser repetido cotidianamente em razão do racismo que tenta apagar a beleza negra a todo custo. Cinquenta anos reverenciando à mulher negra, sua pele preta, seu cabelo crespo, sua ginga, sua originalidade. 50 anos inspirando o mundo ao ser um bloco formado exclusivamente por pessoas negras.
No próximo dia 13 de janeiro o Ilê Ayê promove a 43ª Noite da Beleza Negra. O concorrido evento pré-carnavalesco, que acontece desde 1975 e atrai gente de todo o mundo, onde será revelada a nova Deusa do Ébano que assumirá o seu posto durante um ano. Uma noite que nesse ano contará com a presença dentre tantas pessoas da atriz Taís Araújo, do ator Samuel Assis e do cantor Carlinhos Brown.
O carnaval mineiro também tem espaço reservado nesta noite de beleza. Nesse momento jubilar o Ilê Ayê convidou o bloco afro Magia Negra para subir no palco e cantar junto com eles o amor à beleza, ao sagrado e à cultura negra.
“Desde os 15 anos que escuto as músicas do Ilê Aiyê. Uma das minhas primeiras fontes afrobetizadoras", diz Camilo Gan, fundador do Magia Negra. "Este bloco representa toda estética sonora, diluída na música da Bahia, e influencia todo o Brasil. Por isso, fiquei muito emocionado quando o Magia Negra foi convidado para estar no palco de uma festa que estará sobre tudo também celebrando os 50 anos deste bloco. E como se o Magia Negra tivesse sido convidado para um Grammy mundial da elite pensante da consciência negra e do combate ao racismo do Brasil. Fomos colocados no pódio masters do cenário nacional dos blocos afros. Ser reconhecido pelo bloco pioneiro no comportamento afrocarnavalesco do Brasil mostra que o Magia Negra está no caminho certo, ao preservar nossa identidade e nossa afromineridade”, explica Camilo Gan.
Parafraseando o próprio Ilê, 50 anos de glória, não são 50 dias, nessa linda trajetória no carnaval da Bahia. Que venham os próximos 50 anos. Axé!