Mais lidas
compartilhe
SIGA NO
Por Isabel Gonçalves
A cena é clássica: alguém faz a primeira viagem internacional, se sente o próprio cidadão do mundo e decide pagar o café do aeroporto com o cartão brasileiro. Tudo vai bem, até a fatura chegar. IOF, spread, taxa de conversão… de repente, aquele cappuccino de 7 dólares parece ter vindo com chantilly de juros compostos. Ah e vale lembrar que, lá fora não tem PIX.
Mas esse roteiro já tem final alternativo. Com as contas internacionais, dá pra gastar, guardar e receber em outras moedas sem cair nas armadilhas do câmbio tradicional. Elas viraram o novo passaporte financeiro de quem quer liberdade para usar o próprio dinheiro para viajar, para morar fora ou até trabalhar com clientes estrangeiros.
O que é uma conta internacional?
Pense em uma conta internacional como um endereço extra para o seu dinheiro, só que fora do Brasil. Na prática, é uma conta digital aberta em outro país (ou com acesso a moedas estrangeiras), que permite enviar, receber e gastar em outras moedas, normalmente com taxas bem menores que as das casas de câmbio ou das cobradas em contas bancárias nacionais.
Ter uma conta em dólar, euro ou até peso é um ótimo jeito de fugir dos sustos do câmbio e das taxas que somem o seu dinheiro sem avisar. E o melhor: em vez de andar com um bolo de notas na carteira, dá pra usar um cartão emitido lá fora pra pagar e sacar dinheiro, sem drama e com bem menos taxa no caminho.
Entenda como fazer seu dinheiro viajar
Antigamente, usar dinheiro fora do país era quase uma saga: você tinha que ir até a casa de câmbio, comprar dólar (ou outra moeda) e aceitar as taxas altas sem reclamar muito. A outra saída era usar o cartão de crédito e torcer para o dólar não disparar até o dia da fatura, além de engolir um IOF de 5,38% em cada compra.
Hoje, com as contas internacionais, o processo ficou bem mais simples (e menos sofrido).
Comprar dólar para usar no exterior
A forma mais comum ainda é comprar dólar antes da viagem. Só que dessa vez, as taxas diminuíram e você nem precisa sair de casa. O banco ou a plataforma cobra duas coisas:
-
IOF: 3,5% sobre o valor comprado. Esse valor é padronizado e definido por lei.
-
Spread: uma taxa extra que varia conforme a instituição (geralmente entre 0,99% e 3%).
O dólar convertido vai para sua conta internacional, e você pode usar com cartão de débito ou sacar no país de destino.
Transferências: ACH e Wire
Se você precisa enviar dinheiro entre contas estrangeiras, existem dois caminhos principais, e cada um tem prazos e tarifas diferentes:
-
ACH (Automated Clearing House):
Funciona como uma TED/PIX dos EUA. É mais barata (o Inter não cobra nada por exemplo), mas só entre bancos americanos. O dinheiro costuma cair no mesmo dia ou em até 1 dia útil. -
Wire Transfer:
É a “transferência internacional raiz”. Serve para enviar dinheiro para praticamente qualquer lugar do mundo. É mais rápida, porém bem mais cara, porque envolve tarifas do banco remetente, intermediário e destinatário.
O bom e velho cartão de crédito internacional
Se você prefere usar cartão de crédito durante a viagem, é bom lembrar alguns pontos importantes:
-
Você só vai saber a cotação do dólar usado na compra quando a fatura chegar;
-
O IOF também é de 3,5%;
-
Ainda pode existir spread, dependendo do banco ou bandeira.
O lado bom é a praticidade e a segurança: você não precisa carregar dinheiro e consegue concentrar tudo na fatura. O lado ruim é o custo total, que costuma ser o mais caro entre as opções.
Qual o melhor banco para abrir uma conta internacional?
A maioria dos bancões tradicionais oferecem conta internacional. Isso acontece porque eles têm o aval do Banco Central para operar com câmbio e, em muitos casos, fazem parceria com bancos ou filiais estrangeiros pra que tudo funcione direitinho.
Mas agora, pra acompanhar a galera que vive cada vez mais conectada com o mundo, as fintechs e bancos digitais também entraram na jogada. E o melhor, com taxas mais competitivas e menos burocracia. Descubra a conta internacional ideal para o seu caso.
Inter
A Global Account do Inter foi lançada em 2022 e vem com cartão virtual. Ah e se você tiver 20 dólares na conta dá pra solicitar o cartão físico também, que te permite fazer saques e compras presenciais lá fora, sem pagar nada a mais.
Com o cartão de débito, você consegue pagar e sacar em praticamente qualquer moeda. Por outro lado, as transferências só acontecem em dólar. Quando você envia dinheiro do Inter para outra conta internacional via ACH, o valor costuma cair em até 72 horas, com limite de US$6.000 por operação e por dia.
A maior vantagem? Praticidade. No SuperApp do Inter dá pra fazer transferências, investir no exterior, programar câmbio automático (quando o dólar bate o valor que você quer) e até ativar um chip virtual internacional para usar internet nas viagens.
C6
Já o C6 oferece opção de conta em dólar ou em euro, sendo o segundo ideal para quem vai visitar algum país da Europa. Os requisitos para ter, gratuitamente, a conta Global do C6 são:
-
Possuir o cartão Mastercard Black da C6 ou
-
Ter pelo menos R$20.000 investidos nos CDBs do banco.
-
Fazer câmbio de US$ 100 ou €100 ou mais no primeiro mês de abertura da conta
Se esse não for o seu caso, você ainda pode pagar 10 dólares para a abertura da conta.
Diferente do Inter, o C6 cobra taxas para fazer algumas movimentações com seu dinheiro. É preciso pagar 5 (dólares ou euro) por saque. Já na transferência para outros bancos via Wire é cobrado 10 (dólares ou euro) para recebimento e 20 (dólares ou euro) para envio. Apesar de não ser a mais barata do mercado, a conta também oferece praticidade e transferências são processadas no mesmo dia útil.
Nomad
Lançada em 2018, a Nomad é uma conta 100% digital e tem o Banco Ourinvest por trás da parte financeira. Como a conta do Inter, ela funciona toda em dólar, mas dá pra usar o cartão de débito físico ou virtual para pagar em mais de 180 países. Para emitir o cartão físico, é cobrada uma taxa de US$20.
Diferente do C6 e do Inter que você converte dinheiro dentro do próprio banco, na Nomad você precisa enviar através do Pix o valor de uma conta brasileira para a conta Nomad. A única exigência é que as remessas sejam de, no mínimo, R$50 para converter em dólar.
Wise
A Wise, antiga TransferWise, tem como diferencial o fato de que você pode guardar saldo em 40 moedas diferentes, e não só dólar ou euro, como é o caso da maioria das contas internacionais.
A chamada conta multimoeda também permite que você use um cartão de débito internacional, que debita na hora o valor da compra na moeda que estiver disponível na conta.
As transferências da sua conta Wise para outras contas internacionais costumam levar de 0 a 2 dias úteis. Por fazer transferências em várias moedas, as taxas variam de acordo com a quantia e das moedas envolvidas, começando a partir de 0,42%.
Conclusão: quando o dinheiro também ganha passaporte
No fim das contas, abrir uma conta internacional é mais do que uma conveniência, é uma forma de dar liberdade pro seu dinheiro. Seja para quem viaja, trabalha com o exterior ou só quer escapar das taxas dignas de filmes de terror financeiro, o grande diferencial está na previsibilidade. Nada de surpresas na fatura, nada de IOF escondido, nada de câmbio “misterioso”.
Com esses novos serviços, você vê exatamente quanto paga, escolhe a melhor forma de enviar ou usar seu dinheiro e consegue se planejar sem sustos. É como viajar com um guia que traduz tudo pra você: prático, transparente e muito mais barato.
Mas vale lembrar que cada conta tem suas próprias taxas, limites e regras, e nem sempre o que funciona para uma pessoa é o ideal para outra. Você precisa comparar bem, entender como pretende usar o dinheiro lá fora e avaliar se a plataforma realmente entrega o que você precisa. Mas com planejamento, ela te ajuda a gastar menos, evitar sustos e viajar com muito mais tranquilidade.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
