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Por Alexia Diniz
João, entregador de aplicativo, cansado da velha moto que sai mais fumaça do que pizza, vê a notícia no celular de que o Governo anunciou crédito especial para comprar moto elétrica”. O coração dispara: “É agora que eu troco minha motoca por uma zero quilômetro sem gastar tanto”. Mas, como toda promessa de financiamento no Brasil, a dúvida aparece junto com a empolgação. Será que a conta fecha mesmo?
O que o governo está prometendo agora?
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou em junho de 2025 um programa de crédito para entregadores financiarem motos elétricas. A linha de financiamento promete condições especiais, com taxas de juros menores que as de mercado e prazos mais longos para pagamento.
Segundo o governo, a medida tem três objetivos:
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Incentivar a troca da frota dos motoboys por veículos menos poluentes.
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Gerar renda para trabalhadores de aplicativos, facilitando a compra de um bem de produção.
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Apoiar a indústria nacional, já que o crédito deve priorizar motos fabricadas no Brasil.
Até aí, tudo bonito. Mas quem entende de finanças sabe: quando o assunto é crédito subsidiado, o problema mora nos detalhes.
Quem pode participar do programa?
O crédito é voltado principalmente para entregadores de aplicativos, formais ou informais. A ideia é que os bancos públicos concentram as operações, mas ainda não está claro se as privadas vão aderir.
E aqui já aparece o primeiro alerta: se a linha ficar restrita a poucos bancos, o risco é criar fila de crédito e burocracia para os trabalhadores, justamente quem mais precisa de agilidade para rodar e ganhar dinheiro.
Por que os bancos estão preocupados?
A linha de crédito levantou o sinal amarelo no setor financeiro. Representantes de bancos e financeiras destacaram que o incentivo pode criar distorções no mercado.
Dois pontos preocupam:
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Restrição tecnológica: se o programa financiar apenas motos elétricas, pode deixar de fora quem só consegue comprar modelos a combustão (muito mais baratos).
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Concentração em bancos públicos: isso pode reduzir o espaço das financeiras privadas, que hoje já oferecem crédito para comprar moto com taxas variadas.
Marcos Bento, da Motoplace, resumiu bem: “O crédito tem de ser extensivo a todos os produtos, não limitado a uma determinada tecnologia, apesar de ser um incentivo para a moto elétrica, visando uma prática sustentável”.
Vale a pena financiar uma moto?
Essa é uma das perguntas mais buscadas no Google e a resposta é: depende.
Financiar pode ser uma boa saída se:
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O crédito tiver juros abaixo da média de mercado.
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A parcela não comprometer mais que 30% da renda mensal.
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A moto for realmente usada como ferramenta de trabalho.
Agora, se a ideia é só “ter uma zero” para passear, o risco é se endividar à toa. Afinal, segundo dados do Banco Central, as taxas médias de financiamento de veículos ainda estão entre 20% e 30% ao ano.
Comprar moto elétrica compensa?
Aqui está o X da questão. Uma moto elétrica pode custar mais que uma tradicional, mas em compensação tem:
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Menor custo de manutenção.
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Economia de combustível.
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Incentivo fiscal em algumas cidades.
Por outro lado, enfrenta problemas sérios:
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Pouca infraestrutura de recarga.
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Autonomia limitada (imagine ficar sem bateria no meio da entrega).
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Valor de revenda ainda incerto.
Ou seja: para alguns entregadores pode ser vantajoso, mas para outros o financiamento de uma moto convencional continua sendo mais racional.
Existe melhor mês para comprar moto? Ou é tudo papo de vendedor?
Historicamente, os melhores meses são dezembro e janeiro, quando concessionárias precisam bater meta de vendas e oferecem promoções. Mas, com a linha do governo, pode ser que apareçam oportunidades ao longo do ano, especialmente se houver pressão para escoar motos elétricas.
O produtor rural tem desconto para comprar moto?
Sim. Produtores rurais têm acesso a linhas específicas, como o Pronaf, que podem financiar motos utilitárias com condições diferenciadas. A dúvida é se esse novo programa para entregadores também pode ser estendido a trabalhadores rurais. Até agora, não há sinal verde para isso.
Qual moto mais barata em 2025?
As motos de entrada, como Honda Biz e Yamaha Factor, seguem entre as mais baratas, custando entre R$10 mil e R$15 mil. Já as motos elétricas ainda estão na faixa dos R$18 mil a R$25 mil, mesmo com incentivos.
Comprar moto: escada para subir ou buraco para cair?
No fim das contas, o incentivo do governo pode sim ajudar milhares de trabalhadores a trocar a moto velha por uma nova. Mas é preciso cuidado: crédito barato não significa crédito sem risco.
Antes de assinar qualquer financiamento, o entregador precisa colocar na ponta do lápis:
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Quanto vai rodar por mês.
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Qual será a economia com combustível e manutenção?
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Se a parcela cabe na renda sem sufocar o orçamento.
Moto elétrica, moto a combustão ou até usada: a decisão só é boa se não transformar o trabalhador em refém do banco.
Conclusão: crédito fácil, parcela longa e o risco de se enrolar
O novo programa do governo para comprar moto é, sem dúvida, uma jogada política com cara de estímulo econômico. Para o entregador que sonha com uma moto nova, pode ser a chance de sair do sufoco. Mas, como em todo crédito, vale lembrar: o que entra fácil, sai em parcelas longas.
O melhor caminho é sempre o mesmo: comparar taxas, calcular o custo total e só financiar se a conta fechar. No mundo real, diferente do marketing oficial, não existe “moto grátis”.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.