
Na encruzilhada da soberania
Enfrentar Trump é um rito de passagem para uma nação que escolhe escrever sua própria história
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Testemunhei a arrogância ser derrotada pela simplicidade: o Chelsea vencendo o poderoso PSG. Na arquibancada, Trump observava com ar alheio, desconectado das regras do jogo – metáfora perfeita para sua relação com a ética política. Minha filha, com a inocência de seus 11 anos, observou sua aparência artificial- “Pai, ele é laranja e tem uma máscara branca nos olhos. É estranho! Pensei: ela ainda não viu o verdadeiro horror – o que ele faz ao mundo.
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Negou a ciência e a importância das vacinas e está promovendo uma epidemia sem precedentes de sarampo no seu país. Demitiu funcionários da previsão de catástrofes e viu centenas de famílias serem levadas pela inundação provocada por mudanças climáticas, a qual ele também nega.
Cortou recursos de pesquisas fundamentais para controle de doenças como AIDS e Câncer, que afetam milhares de pessoas em todo o mundo. Como se não bastasse, nos chantageia aumentando tarifas para importar nossos produtos para tentar proteger o seu amigo Bolsonaro, o qual também cometeu crimes graves contra a saúde pública, além de tentar promover um golpe de estado no Brasil.
Em campo, o recado foi bem dado pelo Chelsea: nem sempre os mais poderosos vencem. Ao final, Trump foi entregar medalhas e sair na foto do campeão. Esse gol, oportunistas não perdem. Sem escrúpulos, conferem de barriga, peito e até de bunda.
Hoje, na arena global, uma linha foi traçada no meio do campo de nossa dignidade. Trump, em gesto imperial, violou os limites sagrados da autodeterminação. Vivemos a dialética complexa da soberania em tempos globalizados: preservar nossa essência enquanto navegamos as águas turbulentas da interdependência global.
Em carta autoritária, impõe tributos e exige a interrupção da justiça em nossas terras, como se fôssemos província, não nação. A soberania econômica manifesta-se precisamente nestes momentos: na capacidade de estabelecer políticas autônomas que determinem quem se beneficia primariamente de nossas riquezas – o mercado global ou nossa população.
Palavras feitas chicote tentam açoitar nossas instituições, chamando de "vergonha" o que é soberania, acusando de "ataque" o que é autonomia. A linguagem, primeira fronteira da dominação, é manipulada para nos fazer sentir culpados por existir com voz própria. Aliás, os americanos têm uma longa tradição de interferir em governos do mundo inteiro, principalmente na América Latina.
Lula respondeu com a serenidade dos que conhecem seu valor: somos Brasil, não aceitamos tutela. A Reciprocidade será nosso escudo e espada – momento da antítese necessária, quando o oprimido recusa a narrativa do opressor.
Soberania
A soberania tecnológica emerge como novo campo desta disputa. Nações que dominam tecnologias-chave exercem influência desproporcional, enquanto as dependentes veem sua autonomia comprometida. O controle de dados e infraestruturas digitais transcende o debate técnico para tornar-se questão de segurança nacional.
O que vale mais: moedas ou história? Em momentos decisivos, o cálculo não se faz apenas com cifras. A dignidade não tem preço, embora tenha valor infinito. O mercado não pode ser o árbitro final de nossa existência coletiva.
As grandes nações forjam-se nas adversidades. A soberania é o ar que uma nação respira – sem ela, há apenas simulacro de existência, mantido por aparelhos controlados por mãos alheias.
Culturalmente, enfrentamos a tensão entre universalismo e particularismo. Nossa soberania cultural manifesta-se na capacidade de manter narrativas próprias em meio ao tsunami informacional transfronteiriço.
Os danos serão compartilhados. O americano pagará mais pelos nossos produtos, enquanto buscaremos novos caminhos com a Europa, os Brics e a China. Nossa resposta deve ser precisa como bisturi – não vingança, mas pedagogia histórica: ensinar que o respeito fundamenta relações duradouras entre povos.
Juridicamente, multiplicam-se instâncias supranacionais de arbitragem. Nossa participação nestes fóruns torna-se, paradoxalmente, exercício de soberania compartilhada.
Na filosofia política desta hora grave, existem apenas aqueles que escolhem ser brasileiros e aqueles que preferem ser vassalos. Bolsonaro e seus filhos revelam-se emissários de interesses alheios, traindo não um governo, mas a própria ideia de Brasil soberano. Anistia para criminosos, ou taxas absurdas. Ele ainda reiterou a faca no peito da nação colocada pelo Trump.
A interdependência climática revela os limites naturais da soberania tradicional. Fenômenos como mudanças climáticas demonstram que decisões isoladas são insuficientes diante de desafios planetários.
Este é o momento em que as palavras precisam ter o peso de pedras. Enfrentar Trump é um rito de passagem para uma nação que escolhe escrever sua própria história. O Brasil decide se será sujeito ou objeto na gramática da história mundial.
A soberania não é conceito abstrato – é o pão diário da dignidade nacional, a garantia de que nossas riquezas servirão primeiramente ao bem-estar de nosso povo, a certeza de que nossas leis serão aplicadas sem interferências externas.
Nossa soberania contemporânea expressa-se como capacidade de articulação estratégica em múltiplas dimensões. O desafio não é escolher entre soberania e integração, mas determinar como participar dos processos globais mantendo a dignidade nacional como bússola.
Como disse Rousseau: "A liberdade de uma nação não se conquista por decreto, mas pela firme resolução de não ser escrava." Este é nosso momento de resolução – o instante decisivo em que afirmamos nossa existência enquanto país soberano.
A história nos observa. As gerações futuras nos julgarão. Que possam dizer que estivemos à altura do desafio, que não nos curvamos quando a arrogância nos ameaçou, que mantivemos erguida a bandeira da dignidade e ganhamos esse jogo, mesmo contra todas previsões dos entreguistas e golpistas.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.