
Ditadores adoram guerras
Líderes autoritários, desprovidos de empatia e conexões humanas genuínas, parecem emergir de um vácuo moral, como se fossem fabricados em laboratórios
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Ditadores adoram guerras. Precisam de guerras para se manterem no poder. Ditadores parecem ter sido concebidos em chocadeiras. Não tem mãe, pai, filho, amigos. Apenas interesses. Ditadores se merecem, se entendem e matam em parceria.
Pela TV assistimos ao céu brilhando em Tel Aviv e Teerã. Não é festa de São João. É guerra de verdade. Gente morrendo e não se divertindo.
Divertindo mesmo pareciam estar alguns políticos brasileiros que, contrariando as orientações oficiais do Itamaraty, foram para Israel, a exemplo do Messias, fazer alinhamento político com o governo do Sr. da guerra daquele país. Ter genocidas como tutores, não me parece uma boa opção. Foram aprender sobre segurança num lugar belicoso e, por isso mesmo, inseguro.
Foram parar em bunkers implorando para o governo brasileiro retirá-los da enrascada em que se meteram. Provavelmente, com cuecas carimbadas, aprenderam na prática que guerra não é um bom programa de viagem. Melhor evitar.
Segurança, de fato, só a paz pode nos dar. A melhor “tecnologia” para dar segurança a uma população é gerar emprego, acesso à educação, saúde e garantia de direitos básicos que todo ser humano deve ter.
A natureza perversa do poder autoritário e sua intrínseca relação com os conflitos bélicos constitui uma das mais profundas reflexões sobre a condição humana e a organização social. Os ditadores, como observou Hannah Arendt em "Origens do Totalitarismo", são produtos de um sistema que se alimenta do medo e da destruição, transformando seres humanos em peças descartáveis de uma máquina de guerra. Vocês se lembram dessa frase-l: “Gente morre mesmo, e daí?”.
Pois é, líderes autoritários, desprovidos de empatia e conexões humanas genuínas, parecem emergir de um vácuo moral, como se fossem fabricados em laboratórios. Michel Foucault, em sua análise sobre as relações de poder, demonstrou como essas figuras autoritárias se utilizam de mecanismos de controle e vigilância para manter sua dominação, sendo a guerra um dos instrumentos mais eficazes.
O espetáculo macabro que testemunhamos em Teerã e Tel Aviv, por meio das telas digitais, não é mero entretenimento midiático, mas a manifestação cruel de uma realidade. A banalização da violência através dos meios de comunicação de massa. O céu que se ilumina com explosões não celebra vida, mas anuncia morte. Não é festa, é guerra de verdade com destruição de cidades e das vidas que lá estão.
Neste contexto, a atitude de políticos brasileiros que, contrariando orientações diplomáticas, buscaram alinhamento com um governo beligerante, revela aquilo que Maquiavel já descrevia em "O Príncipe": a busca pelo poder a qualquer custo, mesmo que isso signifique associar-se a práticas questionáveis e perigosas.
Simone Weil, em suas reflexões sobre a guerra, argumentava que o conflito armado é a manifestação máxima da destruição da humanidade no ser humano. Os políticos que foram buscar "conhecimento sobre segurança" em uma zona de guerra demonstraram uma profunda incompreensão sobre a natureza da verdadeira segurança social.
Como Jean-Paul Sartre argumentou, a liberdade e a segurança verdadeiras não podem ser construídas sobre as bases da opressão e do conflito. A situação vexatória em que se encontraram, escondidos em porões, implorando por resgate, serve como metáfora para a falência do pensamento autoritário e belicista.
A tecnologia militar, frequentemente celebrada como símbolo de poder e segurança, representa na verdade o fracasso da nossa capacidade de construir sociedades verdadeiramente seguras e justas. Dinamitar pontes e, particularmente, usinas nucleares, desconecta o humano do humano.
Albert Camus, em "O Homem Revoltado", nos ensina que a verdadeira revolução está na construção de uma sociedade que valorize a vida e a dignidade humana. A segurança autêntica, como bem apontado no seu texto original, só pode ser alcançada através da paz, que por sua vez é fruto de políticas públicas que garantam direitos fundamentais.
Noam Chomsky, em suas análises sobre poder e propaganda, demonstra como os conflitos armados servem aos interesses das elites dominantes, enquanto as populações sofrem as consequências devastadoras da guerra. A verdadeira segurança nacional não se constrói com arsenais bélicos, mas com investimentos em educação, saúde e bem-estar social.
Os ditadores, esses seres aparentemente desprovidos de humanidade, como descreveu Hannah Arendt em "Eichmann em Jerusalém", operam numa lógica de banalidade do mal, na qual atrocidades são normalizadas e justificadas em nome de ideais abstratos de segurança e ordem.
Herbert Marcuse, em sua crítica à sociedade industrial, alertava sobre como a tecnologia pode ser utilizada tanto para a libertação quanto para a opressão. A verdadeira segurança tecnológica não se baseia em armas, mas na capacidade de uma sociedade prover as necessidades básicas de seus cidadãos. Estavam nossos políticos aprendendo técnicas de como oprimir ou libertar nossa sociedade?
A história nos ensina que os períodos de maior desenvolvimento humano foram aqueles marcados pela paz e pela cooperação, não pelo conflito e pela destruição. A segurança real de uma nação se mede pela qualidade de vida de seus cidadãos, não pelo tamanho de seu arsenal bélico.
Assim, a melhor "tecnologia" de segurança, reside na construção de uma sociedade justa e igualitária, cujo acesso à educação, saúde e direitos básicos seja garantido a todos. Como concluiria Paulo Freire, é através da educação e da conscientização que podemos construir uma cultura de paz e verdadeira segurança.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.