Paulo Guerra
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Brasil X EUA: soberania nacional e a guerra do GPS

A possível suspensão do GPS no Brasil expõe o quão frágil é a nossa soberania

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Em meio à crescente tensão entre Brasil e Estados Unidos, surgiu a notícia de que os EUA poderiam suspender o serviço de GPS em território brasileiro. Mas será que isso é viável?

O GPS foi criado para uso militar e é um sistema de propriedade dos Estados Unidos, mas hoje está presente em quase tudo: aviação, navegação marítima, logística, agricultura, telecomunicações, finanças e até nos nossos deslocamentos diários.

O sistema funciona com uma constelação de 31 satélites distribuídos em 6 órbitas. Cada satélite possui um relógio atômico de altíssima precisão e transmite continuamente um sinal de rádio com sua posição e horário exato. Na Terra, dispositivos receptores captam sinais de pelo menos três satélites diferentes e calculam a localização com base na triangulação do tempo de envio e recepção desses sinais.

Como o sinal do GPS é unidirecional (do satélite para a Terra), uma interrupção que atingisse apenas o Brasil seria tecnicamente muito difícil. Qualquer tentativa de bloqueio afetaria outras regiões do planeta. Caso quisessem limitar os efeitos a um território específico, restariam apenas duas opções: jamming e spoofing.

O jamming consiste em emitir sinais de rádio mais fortes, na mesma frequência dos satélites GPS, encobrindo ou distorcendo os sinais originais. É uma espécie de "barulho eletrônico" que impede os receptores de captar a informação correta.

Já o spoofing não bloqueia o sinal, mas sim emite sinais falsos, fazendo os receptores acreditarem que estão em outra localização. O GPS continua "funcionando", mas indica uma posição errada, o que pode ser ainda mais perigoso em algumas situações. Ambas as técnicas exigem equipamentos instalados em solo, na região afetada.

Mas e se isso de fato acontecesse? Quais seriam as consequências práticas?

A mais imediata seria o colapso na mobilidade urbana. Imagine motoristas perdidos, sem GPS, tentando adivinhar rotas no meio do trânsito das grandes cidades. Engarrafamentos poderiam se estender madrugada adentro.

E não é só no asfalto: aviões teriam dificuldade para seguir rotas, pousar e decolar; navios perderiam seus sistemas de rastreamento e segurança.

O caos se espalharia rapidamente para outros setores. As redes de telefonia, internet e até de energia elétrica, que dependem da sincronização precisa do tempo fornecido pelo GPS, sofreriam falhas e apagões. No sistema financeiro, a perda do timestamping poderia causar prejuízos bilionários em questão de minutos, desorganizando transações bancárias e sistemas de segurança. Na mineração e no agronegócio, veículos autônomos parariam imediatamente.

Portanto, mesmo que uma interrupção seletiva do GPS seja improvável, a dependência do Brasil em relação a um sistema controlado por uma potência estrangeira é um risco concreto. A economia moderna é baseada em conectividade e automação. Se o sistema econômico para, o sistema social também colapsa.

O discurso sobre soberania nacional, tão presente na política brasileira, perde força diante da realidade: somos vulneráveis não apenas por ameaças externas, mas por não termos um projeto de país que compreenda suas limitações e potencialidades. A opção pela dependência tecnológica, fruto de décadas de desinvestimento em ciência, tecnologia e inovação, cobra seu preço, e ele sempre será pago em liberdade, autonomia, segurança e, claro, muito dinheiro.

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Para se ter uma ideia, o custo de um satélite de navegação como os do GPS varia entre 100 e 300 milhões de dólares. Um sistema minimamente funcional exige ao menos quatro satélites operacionais, o que implica um investimento inicial de aproximadamente 1,2 bilhão de dólares. Mas será que esse valor é alto diante do custo de um colapso econômico e social causado por uma decisão unilateral de uma superpotência?

A verdade é que soberania nacional depende, cada vez mais, de soberania tecnológica. Quem sabe essa (provável) fake news não sirva, ao menos, para alertar as autoridades sobre o tamanho do risco que corremos? Não há razão para que o Brasil não possa trilhar seu próprio caminho no desenvolvimento de sistemas de navegação por satélite.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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