Paulo Guerra
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Inteligência Artificial: a grande ilusão da facilidade

O uso excessivo de IA pode estar minando nossas capacidades cognitivas. É o que revela novo estudo publicado pelo MIT

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A ascensão da inteligência artificial (IA), especialmente por meio de ferramentas de geração de texto como os Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs), está transformando a maneira como aprendemos, trabalhamos e nos relacionamos. Mas, como em toda evolução, isso não vem sem custos e, nesse caso, a facilidade de acesso à informação parece estar substituindo a curiosidade e o pensamento crítico.

Uma pesquisa publicada pelo MIT na última semana demonstra que a dependência de ferramentas de IA leva à diminuição da conectividade cerebral, à redução da retenção de conhecimento na memória, à queda da capacidade de pensamento crítico e à supressão de mecanismos cognitivos profundos necessários ao aprendizado. Em poucas palavras, o uso excessivo da IA pode gerar déficit cognitivo, fazendo com que as pessoas tenham mais dificuldade de compreender a própria realidade. Em um mundo onde um clique é suficiente para encontrar informações, a necessidade de busca ativa e raciocínio crítico se esvai.

Mas como o estudo chegou a conclusões tão preocupantes?

Os pesquisadores dividiram os participantes em três grupos: grupo LLM, grupo Google e grupo sem suporte digital. Cada participante recebeu a missão de escrever três redações e, na quarta sessão, não pôde usar nenhuma ferramenta digital. Durante o processo, foi usada a eletroencefalografia (EEG) para registrar a atividade cerebral dos participantes, a fim de avaliar seu engajamento cognitivo e carga cognitiva. Os participantes também foram entrevistados após cada sessão. 

A análise de EEG apresentou evidências robustas de que os três grupos exibiram padrões significativamente diferentes de conectividade neural, refletindo estratégias cognitivas divergentes. A conectividade cerebral diminuiu sistematicamente conforme aumentava o suporte externo.

Os participantes do grupo LLM apresentaram conectividade neural mais fraca e subativação das redes alfa e beta. As ondas alfa, medidas na frequência de 8 a 12 Hz, estão relacionadas a estados de relaxamento e atenção tranquila, ou seja, quando estamos focados, mas não sobrecarregados. Já as ondas beta, medidas na frequência de 13 a 30 Hz, se relacionam à atenção ativa, resolução de problemas, tomada de decisões e esforço mental.

Essa pode ser uma explicação para o fato de que os outros participantes demonstraram maior capacidade de recordação e reativação de nós occípito-parietais (processamento visual e espacial) e pré-frontais (pensamento crítico, organização de ideias e controle da linguagem).

Este estudo demonstra que a compreensão científica dos efeitos da IA nos seres humanos é uma questão urgente, e que educadores e alunos devem estar atentos ao uso que fazem dessas ferramentas. Do ponto de vista social, a diminuição das habilidades de aprendizagem poderia trazer resultados catastróficos para a evolução da humanidade.

A disseminação da IA pode criar gerações que acessam respostas, mas não compreendem os fundamentos e não têm senso crítico.

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Não se trata, portanto, de um futuro com ou sem IA, mas de como ela pode ser integrada às práticas de aprendizado mais tradicionais, com a finalidade de expansão das capacidades humanas para geração de valor público. A IA não pode se tornar uma barreira a um ambiente de aprendizagem que valorize a curiosidade e o pensamento crítico — mas pode se tornar uma fomentadora desse ambiente.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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