
Avião a hidrogênio: uma revolução em busca de decolagem
A tecnologia de hidrogênio na aviação promete zero emissões e grande autonomia, mas os acidentes com os balões dirigíveis ainda pairam no subconsciente das pess
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

A utilização de hidrogênio para voo não é algo novo. Quando, em 1662, Boyle enunciou a Lei dos Gases, ele abriu o caminho para a criação de uma aeronave que, por ser mais leve do que o ar, permitiria aos homens voar. Em 1782, 120 anos depois de Boyle, Jacques Charles usou hidrogênio para encher um balão que projetou. Como o hidrogênio era 14 vezes menos denso que o ar, foi fácil para o aventureiro voar uma distância de 25 km entre Paris e uma pequena cidade dos arredores. Havia sido dado o primeiro passo para que, no início do século XX, os grandes balões dirigíveis, também chamados Zeppelins, se popularizassem no transporte de passageiros, competindo acirradamente com os mais luxuosos transatlânticos.
Em 1929, um desses balões deu a volta ao mundo. Pouco tempo depois, em 1937, o Hindenburg, um dos maiores e mais luxuosos Zeppelins, explodiu provocando um incêndio de grandes proporções que matou 36 pessoas. As imagens circularam pelo mundo e provocaram uma aversão social a esses gigantes do ar. Desde então, hidrogênio e voo são palavras pouco vistas na mesma frase.
Mas parece que isso está mudando e a questão ambiental pode ser a grande propulsora dessa alteração. Atualmente, a aviação é responsável por cerca de 2,5% das emissões globais de gases de efeito estufa, e, embora aparentemente pequeno, esse número preocupa, porque são poucas as alternativas para reduzi-lo. Nesse sentido, o advento das aeronaves movidas a hidrogênio surge como uma possível grande esperança e o número de empresas dedicadas a desenvolver essa tecnologia aponta para uma certa consolidação dessa perspectiva.
Leia Mais
As duas maiores construtoras de avião, Airbus e Boeing, têm projetos na área. Enquanto a empresa europeia se comprometeu a lançar sua primeira aeronave comercial movida a hidrogênio até 2035, a americana ainda rateia entre o combustível sustentável de aviação (SAF) e o hidrogênio, que na visão da empresa pode representar até um terço da demanda de energia da aviação até 2050.
Mas não para nelas. A Embraer está desenvolvendo um avião “flex” com hidrogênio e que pode levar até 50 passageiros. O avião está inserido no escopo de uma família de aeronaves sustentáveis que utilizam combustível renovável e dentro da qual está sendo inserida a propulsão por turbina a gás hidrogênio e propulsão por combustível duplo, ou seja, o avião poderia usar hidrogênio líquido (criogênico) ou SAF. Isso estenderia substantivamente a autonomia, que também é um dos problemas do hidrogênio.
Nem só de empresas consolidadas vive essa inovação do setor aeronáutico. A startup Beyond Aero alcançou um marco importante com seu primeiro avião de hidrogênio. Segundo os dados divulgados, ele tem autonomia de 1.600 quilômetros e zero emissão de gases de efeito estufa.
O projeto NAPKIN (New Aviation, Propulsion Knowledge and Innovation Network), que inclui parcerias com o aeroporto de Heathrow, em Londres, também tem tentado desenvolver aeronaves a hidrogênio e a meta deles é que elas sejam comercialmente viáveis até 2030.
- Testada com sucesso primeira turbina de gás alimentada com hidrogênio
- Caminhão a hidrogênio, uma aposta incerta para substituir o diesel
- Hidrogênio verde: os 6 países que lideram a produção do 'combustível do futuro'
Os desafios, entretanto, permanecem significativos. A baixa densidade de energia do hidrogênio em relação ao combustível tradicional, significa que os aviões precisam de tanques criogênicos que ocupam mais espaço e peso, o que deve ser cuidadosamente planejado para otimizar a eficiência das aeronaves. A efetividade nas conversões de energia e as mudanças projetadas no design também são preocupações constantes. As células de combustível, por exemplo, são mais adequadas para aviões de pequeno porte, enquanto aeronaves maiores podem exigir novas tecnologias de motores.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
À medida que a transformação da aviação avança, é evidente que a inovação e a colaboração internacional serão fundamentais. Embora o tempo exato para essa mudança ainda seja incerto, as tecnologias emergentes e os esforços de várias partes interessadas indicam que uma nova era na aviação pode estar mais próxima do que se imagina.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.