A segurança pública é, provavelmente, a área onde a Inteligência Artificial tem sido implementada de maneira mais rápida ao redor do mundo. Na China, o sistema de vigilância em massa baseado em reconhecimento facial e análise automática de vídeos conta com mais de 600 milhões de câmeras que filmam cidadãos o dia todo, em diversos lugares.
Várias áreas da IA dão suporte a esse tipo de aplicação. A principal tecnologia é a vídeo analytics, que processa as imagens capturadas pelas câmeras utilizando algoritmos que reconhecem as pessoas, levantam dados pessoais, fichas criminais etc. Indivíduos com pendências no sistema judicial são prontamente abordados pelas forças de segurança, assim que identificados nas imagens.
Essa talvez seja uma das possibilidades mais controversas da utilização de IA na segurança. Isso se dá devido aos impactos e limitações que ela impõe às pessoas em termos de preservação da privacidade e liberdade. O problema é tão grave que pesquisadores têm utilizado o termo “panóptico”, criado décadas atrás, para designar a nova realidade em que tudo e todos estão em uma penitenciária aberta sendo monitorados a todo tempo e lugar.
Ainda no nível das soluções controversas, o reconhecimento facial poderia ser usado para identificação de possíveis pessoas desaparecidas, detecção de acidentes, risco de terrorismo e aglomerações incomuns. Essa aplicação do vídeo analytics permite que sejam utilizados apenas dados anônimos e com isso gera menos problemas para a liberdade das pessoas. Mas, mesmo assim, muitas outras pessoas estariam sendo filmadas e pretensamente monitoradas sem consentimento.
Uma solução bem menos controversa é implementada pelo FBI para análise de terrorismo. Por lá, a Inteligência Artificial é utilizada para análise de vastos conjuntos anônimos de dados históricos de crimes, identificando padrões e tendências para prever onde e quando crimes podem ocorrer. São acrescidos a isso, elementos de identificação públicos, como as redes sociais. Elas permitem o monitoramento de discursos de ódio e ameaças online pela IA e isso melhora a prevenção de crimes, além de permitir campanhas mais eficazes de educação da população.
Uma quarta solução seria a utilização de aplicativos móveis para que pessoas pudessem denunciar a ocorrência de crimes específicos. Ao conectar esse app com sistemas de inteligência artificial, a entidade de segurança pública teria mapeado, em tempo real, os locais onde crimes estão ocorrendo e poderia agir de maneira mais tempestiva para combatê-los. Isso também auxilia no processo de planejamento das operações contra o crime organizado e na identificação de possíveis causas ou correlações. Como exemplo dessa última, poderíamos citar a constatação de que a chegada de navios cargueiros levam a um aumento da venda de drogas na região x.
Um quinto exemplo seria a utilização de algoritmos de IA para atendimento à população via chatBots. Eles poderiam responder a perguntas frequentes, registrar ocorrências, fornecer orientações ou fazer a triagem de chamados. Isso permitiria que mais recursos humanos fossem utilizados para a prevenção ou resposta ostensiva a delitos. Portugal lançou, em 2023, o Guia Prático da Justiça, um chatbot baseado em IA que responde a perguntas sobre assuntos judiciais.
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Se quiséssemos pensar na IA de maneira ainda mais ativa e atrelada, por exemplo, à robótica, o que nos levaria perto dos filmes de ficção científica, poderíamos falar dos veículos e drones de patrulhamento e resgate autônomos. Embora pareçam coisa de filme, os drones já são utilizados em diversos lugares do mundo, inclusive pela nossa Polícia Rodoviária. Essa aplicação poderia ser expandida para a utilização de Drones equipados com câmeras e sensores para patrulhar áreas de difícil acesso ou de grande extensão, como fronteiras e áreas florestais. Os veículos autônomos poderiam realizar operações de busca e resgate, uma ideia considerada tão potente que há, na Olímpiada de Robótica, uma competição dedicada somente a isso.
Como se vê a IA apresenta um grande potencial para contribuir com a segurança pública e isso poderia revolucionar a forma como as forças policiais e agências governamentais abordam a prevenção e combate ao crime. Essa aplicação teria ainda mais resultados em um país como o Brasil, onde apenas 6% dos homicídios dolosos são solucionados.