Sem Pacheco na disputa em Minas, segue o jogo
Lula nunca prometeu a Pacheco que o indicaria para a vaga de Barroso. Pacheco tampouco jamais prometeu a Lula que seria candidato ao governo
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO
Ainda que o presidente Lula (PT) e o senador Rodrigo Pacheco (PSD) possam estar frustrados em relação às expectativas mútuas não concretizadas, de uma coisa nenhum dos dois poderá reclamar: não houve promessas não cumpridas nem foram vendidas ilusões. Cada qual soube, o tempo todo, quais eram as intenções e interesses em jogo e as limitações para atendê-los. Lula nunca prometeu a Pacheco que o indicaria para a vaga de Luís Roberto Barroso – uma aposentadoria antecipada anunciada há mais de dois anos. Pacheco tampouco jamais prometeu a Lula que seria candidato ao governo em Minas Gerais. O que ocorre é que ambos iniciaram um jogo de sedução mútua, cada qual acreditando em uma virada em seu favor.
Assim se alongou o ano de 2025. Pacheco o nome desejado e esperado por Lula para concorrer ao governo de Minas – estado pêndulo, com o segundo maior colégio eleitoral do país. Pelas características do senador, ex-presidente do Congresso Nacional, postura de estadista, um quadro do centro político, de valores democráticos e com amplo apoio não só à esquerda, mas também ao centro e à direita democrática, reuniria todas as características para ocupar o vácuo não só de um campo político. Mas, e sobretudo, uma representação, com memória política e conhecimento histórico, e, até por isso, com a clara dimensão do que significa governar Minas Gerais.
Leia Mais
Ao longo do primeiro semestre, apoiadores potenciais de Pacheco em Minas alimentaram a expectativa de sua candidatura. À medida em que a tão esperada frase “eu aceito” não foi pronunciada – e em conversas privadas Pacheco reiterava o propósito de deixar a vida pública caso não fosse indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) –, potenciais apoiadores foram se desmobilizando. Em campo aberto, o vice-governador Mateus Simões (PSD), que nunca teve dúvidas de que será candidato ao Palácio Tiradentes, se apressou em alinhavos. No ápice do processo de desconstrução política de Pacheco, filiou-se ao PSD.
Em maratona até aqui, solo, Mateus Simões também conversa com deputados federais do Republicanos, trabalhando para minar uma eventual candidatura do senador Cleitinho (Republicanos). Ele também troca afagos com o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) – que possivelmente não concorrerá ao governo e trabalhará para apoiá-lo. Se conseguir liberar o campo à direita bolsonarista – forçando Cleitinho a desistir de concorrer –, o vice-governador talvez comece a vislumbrar o ensaio de uma eleição de turno único. Assim como o eixo do mar atrai as águas do rio, a expectativa de poder que vai se construindo em torno do vice-governador o ajuda. Ele teria ao centro, pelo momento, dois concorrentes ainda “soltos” e não articulados a um campo político: o ex-prefeito Alexandre Kalil (PDT), além da recém-lançada candidatura de Gabriel Azevedo (MDB), ex-presidente da Câmara Municipal.
Lula sempre deixou claro a Pacheco que não o indicaria para a vaga aberta pela aposentadoria de Luís Roberto Barroso. É verdade que, na política, quando as cartas do fair play entre atores com interesses diferentes são postas à mesa, cada qual mede até onde pode aplicar a pressão. O presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (União-AP) vinha trabalhando para mudar a disposição de Lula. Já na aprovação da recondução de Paulo Gonet, procurador-geral da República, o Senado apertou o cinto, dando-lhe apenas quatro votos a mais do que os 41 necessários à aprovação de seu nome. A Casa legislativa, fechada com Pacheco, poderá dificultar a aprovação da indicação de Jorge Messias, advogado-geral da União, candidato in pectore de Lula ao STF. Fato é, contudo, que se isso ocorrer, será mais pelo “lavar de mãos” de Alcolumbre do que propriamente por uma articulação nessa direção. O presidente do Congresso poderá manifestar o seu desagrado, mas é cioso das possibilidades de indicações múltiplas que a sua posição lhe proporciona. Assim como atletas, quem está na política sabe: a cada jogo, a sua agonia. De todo o enredo, restam não as sombras do que poderia ter sido, mas escolhas em plena luz, algo que talvez René Char descreveria como: “A lucidez é a ferida mais próxima do sol”.
Punho cerrado
O ex-jogador do Galo Reinaldo Lima terá julgado o pedido de reparação apresentado à Comissão de Anistia no próximo 2 de dezembro. Órgão de assessoramento direto e imediato do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), a comissão julga processos associados à perseguição política de cidadãos brasileiros pela ditadura, que deixaram consequências financeiras, morais e psicológicas. Um dos maiores ídolos e goleadores do Atlético, Reinaldo costumava, a cada gol marcado, estender o braço com o punho cerrado, em referência á luta dos Panteras Negras, movimento dos anos 1960, contra o racismo e pela conquista dos direitos civis nos Estados Unidos.
Generais incomodados
O gesto irritava os generais. Antes do embarque da seleção brasileira à Copa do Mundo da Argentina, em 1978, a Seleção passou por Porto Alegre, onde se encontrava o então presidente Ernesto Geisel. A delegação foi até o Palácio Piratini, sede do governo estadual, onde Reinaldo foi levado pelo ministro da Educação, Ney Braga, a uma sala reservada para uma prosa com o presidente. Depois de elogiar o seu futebol, Geisel pediu que não comemorasse os gols com o braço erguido e punho fechado: “Você joga muito bem, mas deve se preocupar só com a bola. Deixa que política a gente faz. Não fale de política”. Ao marcar o gol contra a Suécia no empate de estreia, Reinaldo abriu os braços, pensou em Geisel, mas... não resistiu, cerrou o punho. O artilheiro sofreu coações durante o regime.
Indenização
Reinaldo Lima entrou em 2024, com um pedido de reparação do Estado, para que lhe seja concedida a condição de anistiado político, com direito a uma indenização, em prestação única, de R$ 100 mil. O advogado dele é Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República entre 2013 a 2017, também amigo pessoal.
Superendividamento
Considerada um avanço legal para o superendividamento, a Lei Federal 14.181/2021, que aborda a prevenção e o tratamento do problema, a sua operacionalização prática ainda deixa a desejar. A legislação define uma abordagem em sistema bifásico: primeiro, uma câmara autocompositiva, com a participação do devedor e de todos os seus credores, tenta construir um plano de pagamento. Caso não se alcance o acordo, passa-se para a fase judicial, com vistas a um plano compulsório. Entretanto, faltam fluxos para a efetivação desses procedimentos. A crítica foi abordada durante o Fórum Técnico Direito do Consumidor, realizado na Assembleia Legislativa.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Sem entrada
Representante do Tribunal de Justiça, o juiz Juliano Carneiro considerou que alguns magistrados entendem a fase da câmara autocompositiva como obrigatória, porém nem sempre a comarca possui porta de entrada e fluxos para o consumidor iniciar esse caminho. O início do processo poderia ser por meio de Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSCs) ou pelos órgãos de defesa consumidor, mas a maioria dos municípios ou não possui tal estrutura ou as instituições não estão preparadas para tratar do superendividamento. “Por isso, a fase da autocomposição não tem funcionado”, concluiu Juliano Carneiro.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
