Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
em minas

Entre patos mancos e predadores da disputa presidencial

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A família Bolsonaro assiste ao ressurgimento da pré-candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Palácio do Planalto. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), – que reside desde fevereiro nos Estados Unidos – é a pessoa na trincheira para refrear tais planos. Quer evitar que rifem o sobrenome familiar da chapa ao Palácio do Planalto, e, na alvorada de uma nova liderança de oposição a Lula, alijem Jair Bolsonaro do comando de seu campo político. Há pouco mais de cem dias em prisão domiciliar, o ex-presidente viveu altos e baixos para conter a construção alternativa de Tarcísio de Freitas. Tevê êxito particularmente quando o presidente Lula (PT) esboçou uma recuperação de popularidade.

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Mas, entre línguas soltas e operações “caça bandidos”, se a evolução dos indicadores de desempenho de Lula sugerirem, ao longo desta temporada de caça pré-eleitoral, que opositores estão diante de um pato manco, Tarcísio ressurgirá com força. Esse movimento, que desbancaria Bolsonaro da “liderança”, passa pelo PSD de Gilberto Kassab e independe do ex-presidente, que ao que tudo indica, estará cumprindo pena em estabelecimento penal e será, igualmente, ave manca, incapaz de contornar o ataque de predadores que vem do entorno “aliado”.


Se Lula vai bem, Tarcísio não sai, parece claro. Se Tarcísio sai, Bolsonaro perde o bastão. Por paradoxal que seja, para 2026, a centralidade dos Bolsonaros depende da competitividade de Lula.


Na impossibilidade de Eduardo Bolsonaro ser colocado de forma crível como candidato presidenciável no campo de batalha, ganha força o plano senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). É o nome que cresce como possibilidade para que a família se mantenha no centro da disputa presidencial, escapando da periferia para onde o Centrão, o PSD, Ciro Nogueira (PP-PI) e Valdemar da Costa Neto gostariam de empurrá-lo.


Qualquer nome da família Bolsonaro, em que pese com menor probabilidade de vitória em eventual confronto contra Lula, colocaria em risco as chances dos governadores presidenciáveis de alcançar o segundo turno, onde, esperam herdar por gravidade votos bolsonaristas e antipetistas que somam, por baixo, um terço do eleitorado. E ainda teriam a possibilidade de disputar o terço de eleitores que nem se vinculam a Lula nem a Bolsonaro.


O plano “Flávio Bolsonaro” ameaça a direita associada ao bolsonarismo, em seu projeto de se desvencilhar do “carma” bolsonarista. E é com essa ameaça que os Bolsonaros pretendem insistir na tese da votação de uma matéria natimorta, que segue na UTI da Câmara dos Deputados: o projeto de anistia aos condenados pela trama golpista, transformado em “projeto da dosimetria” por Paulinho da Força (Solidariedade-SP) e Hugo Motta (Republicanos-PB), em momento de fragilidade política pós “tomada da Mesa Diretora” pela base bolsonarista autêntica. Mas, o Centrão dificilmente será demovido da decisão de manter em processo de decomposição o projeto da anistia: o propósito é capturar o eleitor bolsonarista e virar a página. No popular: jogar fora a água do banho, preservando a criança.


Se sentirem que perderam o controle da sucessão presidencial em seu próprio campo político, os Bolsonaros têm, além da candidatura de Flávio Bolsonaro, outras cartas na manga, a principal delas: ameaçar Valdemar da Costa Neto com a migração em massa dos quadros “autênticos” para uma legenda inexpressiva como o PRTB. Essa é uma hipótese cogitada por parlamentares “raiz”. Nada muito diferente do finado PSL, pelo qual Jair Bolsonaro concorreu pela primeira vez à presidência da República. Tal movimento mortificaria Valdemar da Costa Neto: lhe deixaria como expectativa de futuro um caixa partidário esvaziado por uma bancada federal pequena, o retorno à insignificância de origem.


Jair Bolsonaro fora do jogo – e Lula em queda – são condições necessárias ao plano Tarcísio de Freitas. Entrelaçados pelo destino, Lula e Bolsonaro seguem como adversários que tentam se destruir, mas não podem se dispensar: inimigo escolhido é parte do destino de cada um. Como certa vez sugeriu Jean-Paul Sartre, ao refletir sobre existência e identidade, em sua peça “Entre Quatro Paredes”: “O inferno são os outros”.

 

Vale do Lítio

Em escala mundial, o Vale do Jequitinhonha representa a sexta maior reserva de lítio do mundo, segundo avalia o doutor em Geologia Econômica, Antônio Carlos Pedrosa Soares, professor da UFMG e um dos pesquisadores pioneiros da região. “Por volta de 1985, o Grupamento Mineiro da Arqueana, um grande conjunto de concessões minerárias, abrangia praticamente todos os depósitos de lítio mais importantes do Brasil. Naquela época, as reservas medidas e indicadas eram de 1,5 milhão de toneladas de minerais de lítio, o que já havia transformado o Médio Vale do Jequitinhonha no Vale do Lítio do Brasil”, diz o professor Pedrosa, um dos maiores especialistas do lítio no país.


A corrida

Quarenta anos depois das primeiras explorações, o Vale do Lítio brasileiro atinge a marca de cerca de 200 milhões de toneladas de recursos de lítio medidos e indicados, diz o pesquisador. “Isso representa meio bilhão de toneladas, incluindo os recursos inferidos, que correspondem a cerca de US$ 200 bilhões em valor de minério hoje. Trata-se, de fato, de um distrito de lítio de classe mundial, atualmente considerado entre os maiores depósitos de lítio de alta qualidade do mundo”, afirma o professor Pedrosa. Segundo ele, a descoberta desse volume extraordinário de minério de lítio em um curto período – que resultou na recente corrida do lítio – só foi possível dadas as condições geológicas particulares encontradas em partes específicas do Distrito Pegmatítico de Araçuaí e aos grandes investimentos de empresas de exploração e mineração.


Impactos

Em debate promovido pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) para discutir o impacto da mineração no Vale do Jequitinhonha, o professor do Instituto Federal Norte de Minas (IFNMG), João Jacintho, morador de Araçuaí, manifestou a preocupação que a exploração não se reverta em desenvolvimento social e humano da região. Ele criticou especialmente a operação a céu aberto das mineradoras de lítio e o impacto da atividade sobre modos de vida tradicionais e sobre a integridade dos territórios locais, apontando a disputa entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Entre os problemas apontados estão a disputa por terras, a escassez de investimentos públicos, a dependência econômica da mineração e a desigualdade no acesso à água – um dos recursos mais sensíveis do Vale.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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