Violência à brasileira entre a catarse popular e o cálculo eleitoral
Alguns governadores de oposição descobriram no sangue derramado uma nova oportunidade para se projetar na cena nacional
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Que a segurança pública estará no centro do debate das campanhas eleitorais, não há dúvida. A inflação e o desemprego andam em baixa, o rendimento médio do brasileiro em alta, portanto, é a insegurança que ameaça a rotina de quem vai e vem. Em 2024, foram 917.748 furtos de celulares – 79,6% dos casos ocorreram em vias públicas. É o típico equipamento que tornou-se uma espécie de escritório virtual: sem celular, não há trabalho. Se por um lado, em 2024, os roubos caíram em todo o país – inclusive em Minas – eles migraram para o ambiente virtual: foram 2.166.552 estelionatos, quatro golpes por minuto, um crescimento de 408% em relação a 2018.
Foram 44.127 mortes violentas intencionais no Brasil, uma queda de 5,4% em relação ao ano anterior – embora em Minas, onde foram registradas 3.214, as mortes violentas intencionais sigam em alta pelo terceiro consecutivo: em 2023 foram 3.050; em 2022, 2.588; em 2021, 2.523. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Há ainda as estatísticas de estupro (87.545), feminicídio (1.492) e violência doméstica (1.067.556). Nas comunidades e favelas, o quadro piora: as pessoas vivem sob o terror e a opressão do crime organizado, expostas às milícias e à violência policial. O país vive em estado de violência naturalizada.
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É nesse contexto que não causa espanto o fato de, no calor da Operação Contenção contra o Comando Vermelho (CV), realizada no complexos Penha e Alemão, do Rio, que deixou um rastro de 121 corpos, tenha o apoio de 67% da população brasileira (embora, importante ressaltar, 55% não gostariam de que operação semelhante ocorresse em seu estado). No país onde não existe pena de morte, mas a morte violenta intencional virou parte da paisagem, o espetáculo do sangue e decapitação de anunciados “bandidos” torna-se catártico.
Pelo momento, a narrativa hegemônica que prevalece é a de que a operação foi “um sucesso” e que o modelo “exterminador de bandidos” está na pauta do dia, com respaldo popular, pela exaustão da sociedade. A esta visão se soma o timing de declarações desastrosas de Lula –“Os traficantes são vítimas dos usuários” – que se corrigiu depois do leite derramado. Tudo posto no caldeirão, aí se explica a interrupção da trajetória de recuperação da popularidade de Lula, sobretudo entre eleitores sem engajamento, residentes no Sul e Nordeste, de 35 a 59 anos e com escolaridade nos extremos – estratos até fundamental e superior.
Na gangorra das opiniões, tais estatísticas reveladas pela Genial Quaest divulgadas nesta quarta-feira, contudo, ainda poderão balançar, conforme as novas informações que vão chegando sobre a operação, que não prendeu líderes, porque fugiram. É investigado o vazamento de informação qualificada, que teria permitido a rota de fuga. A velha corrupção entranhada nas estruturas das instituições de estado também mostra a cara em diálogos interceptados pela Polícia Federal, que fazem parte da Operação Zargun, deflagrada em setembro passado, que identificaram contatos do CV com um ex-deputado estadual, um secretário e um ex-subsecretário do governo Cláudio Castro (PL).
Alguns governadores de oposição, entre os quais, o mais afoito, Romeu Zema (Novo) – que governa um dos poucos estados em que as mortes violentas intencionais crescem em direção oposta à tendência nacional nos últimos três anos – descobriram no sangue derramado uma nova oportunidade para se projetar na cena nacional. Designar facções criminosas como “terroristas” é o grito da vez. A retórica empolga. Mas a classificação, em si, não tem consequência prática no combate ao crime organizado.
Especialistas já vieram a público esclarecer que tal procedimento terá, contudo, consequências econômicas, como restrições de investimentos de empresas estrangeiras no Brasil, sanções a empresas nacionais que tenham tido alguma participação em fundos do qual participaram facções, além de consequências geopolíticas. Por sua característica transnacional, o terrorismo rompe com a lógica do controle territorial exclusivo do Estado brasileiro: seria uma ameaça à soberania nacional. A serviço de quem?
STF
Além do senador Rodrigo Pacheco (PSD), o presidente Lula (PT) tem intenção de conversar com o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas. E ainda ter uma nova rodada de encontros com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) antes de anunciar a indicação para a vaga aberta pela aposentadoria de Luís Roberto Barroso. Pacheco e Dantas também são cotados à vaga, e no STF há torcida por Pacheco junto à maioria dos ministros.
Temperatura
Em princípio, Lula faria o anúncio do advogado-geral da União, Jorge Messias, o seu candidato in pectore, antes do início da COP30. Mas, há cerca de três semanas, depois de conversar com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), adiou a escolha, temeroso de que Messias tenha dificuldades para ser aprovado no Senado, onde a preferência é por Rodrigo Pacheco. Lula avalia neste momento a temperatura junto aos seus aliados.
Contas irregulares
As contas do município de Uberaba, do exercício de 2021, da prefeita Elisa de Araújo (PSD), foram julgadas irregulares pela Primeira Câmara do Tribunal de Contas do Estado (TCE). A decisão se respaldou na abertura e realização de créditos suplementares sem recursos disponíveis do superávit financeiro do ano anterior, no valor de R$ 17,2 milhões, contrariando o artigo 43 da Lei Federal nº 4.320/64. “No caso, foram abertos créditos, R$ 37,6 milhões, dos quais foram empenhados R$ 17,2 milhões, 1,31% da despesa total. A irregularidade não pode ser afastada por razoabilidade, proporcionalidade ou materialidade”, afirmou o conselheiro em exercício Hamilton Coelho. O relator do processo, conselheiro em exercício Licurgo Mourão acompanhou Hamilton Coelho. O conselheiro Agostinho Patrus votou pela aprovação das contas, mas foi voto vencido. Ele entendeu que o valor representa 1% do total de créditos concedidos, percentual pequeno em comparação ao montante total e sem impacto relevante nas contas.
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Cemig
Intermediado pelos deputados estaduais Ulysses Gomes (PT) e Cristiano Silveira, líderes do Bloco Democracia e Luta e da Minoria, o presidente da CUT Minas, Jairo Nogueira Filho; a Coordenadora da Frente Mineira de Defesa do Serviço Público e presidente do SindUte, Denise Romano; e o vice-presidente da Pública, Hugo René de Souza, levaram ao presidente da Assembleia, Tadeu Leite (MDB), o pedido para que não coloque em pauta o Projeto de Lei 3053 – que transforma a Cemig em corporation – encaminhado pelo governador Romeu Zema (Novo) em novembro de 2024, mas que não começou a tramitar.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
