Nikolas e a guerra dos Bolsonaros
Moraes estuda o local ao qual enviará o ex-presidente. Auxiliares do ministro já visitaram três estabelecimentos, entre os quais um batalhão da PM na Papuda
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Sob os disparos do fuzil de grande calibre do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) – em residência nos Estados Unidos – o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) vai visitar, no próximo 21 de novembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – que completou 100 dias de prisão domiciliar nesta terça-feira. Com os embargos de declaração já rejeitados, as possibilidades recursais da defesa de Jair Bolsonaro vão se restringindo, ao mesmo tempo em que se aproxima o momento em que irá cumprir pena no sistema prisional.
Alexandre de Moraes estuda o local ao qual enviará o ex-presidente da República. Auxiliares do ministro já visitaram três estabelecimentos, entre os quais um batalhão da Polícia Militar dentro do complexo penitenciário da Papuda. Aliados projetam uma curta permanência de Bolsonaro no sistema prisional, já que a defesa dele requereu à equipe médica relatórios e laudos com o histórico de saúde que possam subsidiar um pedido de prisão domiciliar. Mas essa expectativa pode se frustrar. E, uma vez na prisão, vão se restringir mais as possibilidades de comunicação com a direita que orbita o bolsonarismo e os seus aliados autênticos.
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Bolsonaro vem recebendo visitas de bolsonaristas e direitistas, interessado em organizar sobretudo a disputa ao Senado Federal nos estados. Procura manter o controle desse campo político evitando passar o bastão a um “indicado” ao Palácio do Planalto. Acredita, assim, estar manobrando com a expectativa de poder de seu grupo. Mas, de fato, está claro para a direita associada ao bolsonarismo que ele não se viabilizará: está em campo, entendendo que passa da hora de o campo construir uma alternativa.
Não à toa, Eduardo Bolsonaro distribui disparos principalmente contra Tarcísio de Freitas (Republicanos), o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Eles estão envolvidos na construção da alternativa Tarcísio, que alijaria o sobrenome Bolsonaro da chapa presidencial. Se o pai não concorrer, Eduardo Bolsonaro quer o espólio eleitoral dele na família. O filho 02 mira as rajadas também contra lideranças em ascensão no PL, como Nikolas Ferreira (PL), que, em Minas e no Brasil, já consolidou o próprio brand. Em decorrência do conflito interno para a indicação de Santa Catarina ao Senado, Eduardo Bolsonaro, que apoia o irmão vereador Carlos Bolsonaro, compartilhou pelo X postagem de um perfil crítico a Nikolas: “Nikolas quer se livrar do Bolsonaro de vez. Ele está liderando uma dissidência, e vários políticos mais jovens estão com ele. O problema? O de sempre: ‘Temos que nos descolar do Bozo sem perder o eleitor’. Eles querem continuar sendo eleitos pelos bolsonaristas, mas não querem mais prestar contas ao Bolsonaro”.
A gota d’água do novo embate de Eduardo e Nikolas é a disputa interna no PL de Santa Catarina pela indicação das duas vagas ao Senado: Eduardo Bolsonaro apoia o irmão. Mas tal indicação ameaça o espaço da deputada federal Carol de Toni (PL): pelo acordo entre o governador Jorginho Mello (PL) e Bolsonaro, cada um indicaria um nome. Mello pende ao senador Esperidião Amin (PP-SC). Aliada de Nikolas, a deputada estadual Ana Campagnolo (PL-SC) encampa o movimento crítico contra Carlos Bolsonaro.
O PL de Minas tem também lá os seus próprios dilemas, que serão abordados nesse encontro entre Nikolas e Bolsonaro. Enquanto o presidente estadual do PL, Domingos Sávio, candidato à indicação de Bolsonaro para concorrer ao Senado, tenta costurar aliança com o vice-governador Mateus Simões (PSD), o deputado estadual Caporezzo (PL) tem o apoio da família Bolsonaro para concorrer ao Senado. Se a legenda se coligar com Mateus Simões, um deles vai sobrar, já que a candidatura ao Senado de Marcelo Aro (PP), secretário de Estado de governo, está em estágio de avançada articulação junto a deputados, prefeitos e vereadores, principalmente pelo segundo voto.
Nikolas cogita concorrer ao governo de Minas, mas hesita. Por outro lado, Valdemar Costa Neto gostaria de vê-lo disputando a reeleição, de olho nos milhões que poderá carrear do fundo partidário e eleitoral com os seus votos. O PL mineiro vivencia a fissura de natureza distinta à de Santa Catarina: entre bolsonaristas autênticos e bolsonaristas “novos cristãos”. Por onde olha, o ex-presidente, que antes exerceu domínio em um campo de forma inconteste, tenta se encontrar na afirmação de Simone Weil: “A força é o que transforma quem a domina em coisa e quem a sofre em pedra.”
Censo do aborto
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes requereu à Procuradoria-Geral da República (PGR) que se manifeste sobre recurso apresentado pela Câmara Municipal de Belo Horizonte contra a decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) que anulou a Lei Municipal 11.993/2024, que pretendia criar o “censo do aborto” na capital mineira. A lei determinava aos hospitais públicos e privados a apresentação de relatórios mensais à Secretaria Municipal de Saúde com informações sobre os abortos realizados. O documento deveria indicar a base legal do procedimento, além da faixa etária e da cor/raça da gestante para a publicação no Diário Oficial ou no portal da prefeitura.
Veto
O então prefeito Fuad Noman (PSD) vetou o trecho da lei que expunha as mulheres que recorriam ao hospital municipal para realizar o aborto autorizado em lei, nos casos de estupro, risco de vida à mãe, além de feto anencéfalo. Mas os vereadores derrubaram o veto. O Psol acionou a Justiça reclamando a inconstitucionalidade da lei. Foi atendido. A Câmara recorreu ao STF. Em números divulgados pelo anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública: em 2024 foram 74.810 mulheres e crianças estupradas no Brasil, das quais 4.880 em Minas Gerais. Entre as vítimas, 28,5% eram crianças até 9 anos, quase 33% de 10 a 13 anos e 16% de 14 a 17 anos.
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Mulheres e reputação
Escrito por 27 profissionais mulheres, o livro “Mulheres na gestão da reputação” (Editora Leader/2025) aborda a reputação como um ativo na vida pessoal e nas organizações, destacando como sensibilidade, ética e estratégia moldam o futuro da reputação corporativa e pessoal. O lançamento em BH será no próximo 17 de novembro, no Café do Centro Cultural do Minas Tênis Clube, às 19h30. Andréia Roma e Tatiana Maia Lins são coordenadoras do projeto, publicado pela Editora Leader sob o selo Série Mulheres. A professora da PUC Minas e socióloga Nathalia Porto é autora do capítulo “Reputação corporativa como ativo público: métricas reputacionais, legitimidade e impacto social.”
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
