Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Expectativa de vitória como tração para a vitória

A balança da expectativa de poder passou a oscilar em favor de Lula. Não que os indicadores de aprovação estejam nas alturas. Muito antes pelo contrário

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Ao formalizar na Indonésia, em discurso dirigido ao presidente Prabowo Subianto, a intenção de concorrer em 2026 à reeleição, o presidente Lula (PT) admitiu aquilo que era amplamente esperado e já precificado nos meios político, empresarial e financeiro. Lula não o fez antes porque sofreu entre janeiro e maio deste ano sucessivas quedas de popularidade, sendo lançado ao ringue. Ato contínuo, foi perdendo de forma acelerada as condições de governabilidade no Congresso Nacional. Integrantes do Centrão têm horror aos sinais de derrota.

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O discurso da soberania e a defesa dos interesses nacionais caíram no colo de Lula pela ação desastrada do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) que, dos Estados Unidos, anunciava o passo a passo de suas movimentações para estimular o governo de Donald Trump a decretar o tarifaço sobre produtos nacionais, condicionando a sua retirada à aprovação da anistia de Jair Bolsonaro (PL). O governo Lula ganhou o discurso. E atrelado a alguns indicadores econômicos, como as baixas taxas de desemprego, a perspectiva de queda da inflação e programas sociais, como o “Gás do Povo”, potencializou a reação iniciada com o fenômeno identificado pela ciência política como "rally round the flag": maior coesão em torno dos governos quando enfrentam ameaças externas. Entre maio e outubro, a desaprovação de Lula caiu de 57% para 49%.

A balança da expectativa de poder passou a oscilar em favor de Lula. Não que os indicadores de aprovação estejam nas alturas. Muito antes pelo contrário. Metade do país aprova; a outra metade desaprova o governo. Entre aqueles que desaprovam, há cristalização da opinião negativa junto a cerca de 35% do eleitorado de bolsonaristas e antipetistas. A margem de reversão está restrita a um grupo de eleitores “nem nem”, ou seja, nem lulistas nem bolsonaristas, que mal soma 30% do eleitorado. Na era da tecnopolítica, é preditor de alto risco, considerando-se que o campo lulista tende a caminhar em desvantagem com os algoritmos. Além disso, as altas taxas de juros desestimulam o consumo e o investimento.

Ainda assim, Lula é apontado como o favorito da sucessão presidencial de 2026. À linha de tendência de crescimento da aprovação de seu governo se soma um cenário internacional que se anuncia menos hostil, com a retomada das negociações com Donald Trump – o que racha o campo bolsonarista e a direita a ele associada –, além da implementação de políticas de alcance social, como a extensão da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, dentre outros projetos em curso.

Caminhando sobre o fio da navalha, Lula tenta recompor a sua base de governo, expulsando os indicados de parlamentares do Centrão, que se dão ao luxo de fazer oposição mantendo influência em órgãos federais. Mas se Lula não sabe, deveria saber: a margem em seu favor é apertada. Aí ainda residem as suas dificuldades para acertar o arco partidário que com ele se aliará no plano nacional em 2026 e, por desdobramento, tenderá a fazê-los nos estados com as candidaturas em seu campo político. Nada a espantar se o senador Rodrigo Pacheco (PSD), cotado para o Supremo Tribunal Federal (STF) e instado a concorrer ao governo de Minas, hesite em dizer sim ao convite de Lula. A organização do campo lulista em Minas é movimento que se desdobra do âmbito nacional para os estados. Quais são os partidos com que contará no estado, eis a pergunta que Rodrigo Pacheco deve fazer a Lula.

As velhas raposas da política mineira costumavam assegurar que eleições se vencem antes da campanha, criando-se as condições para se escolher o adversário. Contra quem concorrerá Lula é uma variável crucial com impacto em seu favoritismo para 2026. O campo bolsonarista e a direita a ele associada estão travados na corrida presidencial por Jair Bolsonaro (PL), que, por uma questão de sobrevivência política, tão cedo não pretende indicar o seu sucessor. É também com este ativo que as projeções do favoritismo de Lula crescem mais.


Duas vagas

O ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) assegurou ao deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL) que a legenda terá duas candidaturas ao Senado. Uma delas está assegurada ao parlamentar, considerado pelo núcleo familiar como representante do bolsonarismo autêntico. Caporezzo teve autorização da Justiça para visitar o ex-presidente da República, que está em prisão domiciliar. A disposição do PL em lançar duas candidaturas ao Senado trará dificuldades para a composição com a candidatura do governador em exercício, Mateus Simões (Novo), que se filiará, nesta segunda-feira ao PSD. Entre apoiadores no arco de alianças de Mateus está Marcelo Aro (PP), secretário de estado de Governo, que é pré-candidato ao Senado.


E a segunda?

Bolsonaro sinalizou a Caporezzo que já havia orientado Valdemar da Costa Neto, presidente nacional do PL que as candidaturas ao Senado seriam de Caporezzo e do presidente estadual do PL, deputado federal Domingos Sávio. A confirmar essas indicações, o deputado federal Eros Biondini (PL), que já anunciou a sua pré-candidatura ao Senado – e a consagrou a Nossa Senhora da Aparecida – precisará buscar outro caminho.


Antes da abolição

Pela primeira vez na história um banco brasileiro foi intimado a prestar esclarecimentos sobre o destino de poupanças abertas por pessoas escravizadas no século 19. O Ministério Público Federal (MPF) deu prazo de 30 dias à Caixa Econômica Federal (CEF) para apresentar um plano de identificação de todas as cadernetas de poupança abertas por pessoas escravizadas ou ex-escravizadas e mantidas em seu acervo histórico. A medida integra inquérito civil instaurado pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no Rio de Janeiro para apurar a possível retenção e apropriação, pela Caixa, de valores das chamadas “poupanças de escravizados e ex-escravizados”, constituídas no século 19 com recursos destinados à compra de cartas de alforria.


Bombardeio na baía?

Em publicação pelo X, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sugeriu que os Estados Unidos realizem ações contra o tráfico de drogas na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. A declaração foi feita em comentário a um post do secretário de Defesa norte-americano, Pete Hegseth. Hegseth havia informado que os EUA realizaram um novo ataque contra uma embarcação suspeita de transportar drogas no Oceano Pacífico. Flávio Bolsonaro escreveu: “Que inveja! Ouvi dizer que há barcos como este aqui no Rio de Janeiro, na Baía de Guanabara, inundando o Brasil com drogas. Você não gostaria de passar alguns meses aqui nos ajudando a combater essas organizações terroristas?”

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Repercussão

O polêmico comentário repercutiu. Foi interpretado por aliados como um elogio à política de segurança americana e, por críticos, como um apelo por intervenção estrangeira no país.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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