
Agora, a PEC da Blindagem se tornou o 'cão danado'
Está difícil encontrar pais e familiares do novo "cão danado" (já executado) da política brasileira
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Em crônica anunciada, a PEC da Blindagem foi decapitada ontem no patíbulo da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal. O funeral teve pompas e circunstâncias no plenário, onde o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), em acordo com o senador Otto Alencar (PSD-BA), que preside a CCJ, quis contrapor a conduta do Senado à da Câmara dos Deputados. Desde a mobilização popular de um segmento do eleitorado, até então silente, em repúdio a tal matéria indecente, está difícil encontrar pais e familiares do novo “cão danado” (já executado) da política brasileira. Agora, todos estão contra a PEC da Blindagem – que nasceu do cruzamento com o projeto da anistia aos condenados na trama golpista, contra o qual também se insurgiram um novo lado que se apresenta nas ruas.
Assim fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Até aqui calado, assinalou nesta quarta-feira que os protestos representam um “sintoma de desconexão” do Congresso com o que está “sendo feito com a vontade das pessoas”. Em quem caberá a carapuça da “desconexão”, eis a questão. Votaram favoravelmente à PEC da Blindagem 93% dos deputados do Republicanos, partido do governador; e 94% dos parlamentares do PL, legenda de Jair Bolsonaro, em nome de quem Tarcísio de Freitas subiu no Sete de Setembro em palanque para desacreditar o Supremo Tribunal Federal (STF) e clamar pela anistia aos condenados na trama golpista. Em respaldo à conversão do projeto da anistia em “Projeto de Lei da Dosimetria”, Tarcísio de Freitas demonstrou alinhamento com o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator da matéria. O governador de São Paulo não pareceu se importar em se meter na linha de tiro do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que já alvejou Paulinho por não aceitar discutir uma “anistia ampla” que contemple Jair Bolsonaro.
Entre políticos pragmáticos, a leitura é de que Eduardo Bolsonaro estará, assim como o pai, fora do jogo eleitoral de 2026. Por esse raciocínio, parlamentares do Centrão e governadores presidenciáveis que orbitam o bolsonarismo não precisariam mais temer uma candidatura como a de Eduardo Bolsonaro ao Planalto, com potencial para drenar votos da direita no primeiro turno em 2026, conforme indicam as simulações em pesquisas de opinião. Mas sabem que Eduardo Bolsonaro poderá fazer mais estragos, empurrando a família para o lançamento de outra candidatura, que ameace a trajetória ao segundo turno de governadores candidatos que não passem pela bênção da família. Por isso, o Centrão e seus políticos seguem no modo “morde e assopra”. Neste momento de pós-condenação, tentam alinhavar uma chapa sem o sobrenome Bolsonaro.
Tarcísio de Freitas não foi o único a se manifestar tardiamente a reboque do repúdio à PEC da Blindagem. Também o governador Romeu Zema (Novo) correu às redes nesta quarta-feira, desta vez vestido com armadura medieval, para anunciar que nenhum parlamentar do Novo votou favoravelmente à tal matéria indigesta. É verdade. Dos cinco deputados federais do Novo, quatro votaram contrariamente. Contudo, Ricardo Salles (Novo-SP) se absteve: apoiou a articulação casada entre a PEC da Blindagem e o requerimento para a votação da urgência do projeto de anistia, que veio a seguir. A urgência embalou a oposição – do Novo a parte do PSD, passando também pelos tradicionais partidos do Centrão, a saber, o União, o PP e o Republicanos. É assim que a PEC da Blindagem e projeto de anistia são irmãos siameses, nascidos na mesma costura. Um alinhavo que inclusive levou alguns nomes do PSB, do PDT e do PT a votar pela PEC da Blindagem, assim acreditando evitar a urgência para o projeto da anistia. Traíram a sociedade e foram traídos pelo Centrão, já que a urgência passou na sequência. A esta altura, são muitos os arrependidos. E são muitos aqueles que, assim como Tarcísio e Zema, preferem negar o desconfortável parentesco entre duas matérias que se juntaram em simbiose, com os dois lados em mutualismo, sugando a parte que melhor lhe convém.
Aposentadoria
A possibilidade de aposentadoria do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, após passar o comando da Corte ao ministro Edson Fachin está agitando Brasília. Entre apoiadores do senador Rodrigo Pacheco (PSD) – pré-candidato ao governo de Minas – à função, está o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União-AP). Se Pacheco emplacar, esse campo político ficará órfão em Minas Gerais. Precisará partir do zero para uma nova construção, que dificilmente terá o mesmo potencial para convergir como o do senador.
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Espírito do Senado
Após o arquivamento da PEC da Blindagem por Davi Alcolumbre, Rodrigo Pacheco se manifestou em apoio irrestrito à Presidência da Casa. Sustentou que a Mesa expressa o espírito do Senado, que rechaça a ideia de excesso de prerrogativas parlamentares no âmbito de investigações. Pacheco prosseguiu elogiando Alcolumbre: “Em momento de conflagração, adota as posturas que o Brasil precisa, para a estabilidade institucional e política, com maturidade para estabelecer as prioridades verdadeiras do país”. Pacheco mencionou a coragem de Alcolumbre em enfrentar propostas sem viabilidade legal e política, como as campanhas do campo bolsonarista para o impeachment de ministros do STF. “Enquanto não houver justa causa e viabilidade política de 54 votos, é coragem cívica fazer o enfrentamento, embora isso gere enorme desgaste, como gerou para mim do ponto de vista eleitoral e político”, declarou.
PSD no horizonte
O vice-governador Mateus Simões (Novo) já tem a resposta pronta a quem lhe indaga quando será a sua filiação ao PSD. “O PSD é o maior partido da nossa base. Temos 13 deputados na Assembleia que votam conosco e nos acompanham nas comemorações e nos embates”, afirmou. Mateus Simões prosseguiu: “Além disso, o presidente (Gilberto) Kassab, extraordinário articulador político, formou a maior bancada de prefeitos de Minas, com mais de 150 cidades, em que os prefeitos já foram eleitos apoiando o nosso governo”. A nova data para filiação seria 27 de outubro.
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'Frente ampla'
Mateus Simões aposta que, uma vez no PSD, terá mais facilidade para unificar o que ele chama de “centro” e “direita” em Minas. Segundo ele, estarão em sua coligação o Novo, o União, o PP, o Podemos, o Solidariedade e o PRD, entre outras legendas menores. “Vamos disputar com a mesma frente que tem sustentado o governo Zema e contar com o PSD é essencial para isso, somando esforços àqueles que já se posicionaram ao nosso lado”, disse. O vice-governador só não explica como convencerá o senador Cleitinho (Republicanos) e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) a desistirem do voo solo para apoiá-lo.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.