
Os dilemas de Zema: ser ou não ser bolsonarista?
Governador vive dilema. Não é aceito pelo 'bolsonarismo raiz' e enfrenta a rejeição de deputados estaduais bolsonaristas autênticos ligados à segurança pública
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Único governador presidenciável presente no palanque da Avenida Paulista no domingo (7/9) além de Tarcísio de Freitas, Zema não discursou e ainda “tomou pito” público do pastor Silas Malafaia, por ter lançado a sua pré-candidatura à Presidência da República: “Que papo é esse de vim aqui dizer que A, B ou C é candidato da direita? Calem a boca!”. Nesta segunda, em coletiva de imprensa, o governador fez ouvidos de mercador como convém a todo político que tenta obter algo de seu algoz.
Malafaia teria se retratado depois que Zema lhe “explicou” que tem rezado a cartilha bolsonarista: “Eu acho que ele não estava acompanhando o que eu tenho sempre dito. E o que eu tenho sempre dito é que está havendo, sim, uma perseguição política no Brasil. Nós temos hoje um governo federal que está muito mais focado em perseguir seus inimigos políticos do que propriamente em ter um plano de longo prazo. E isso está muito nítido no Supremo”, disse, referindo-se ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao governo Lula como se fossem uma coisa só.
O ato da Paulista em Sete de Setembro foi montado para “exigir anistia” a Jair Bolsonaro, atacar o STF e Alexandre de Moraes, relator do processo dos envolvidos na trama golpista, além de manter mobilizada a base “raiz”. Adicionalmente mas não menos importante, prestou-se a dar visibilidade à pré-candidatura ao Planalto do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que arregimentou o protagonismo com um discurso radical, dentro do script e ao gosto bolsonarista.
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Tarcísio deixou a moderação e encarnou o pré-candidato ao Planalto, em desdobramento à articulação que assumiu, na semana passada, para aprovar a anistia a Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Uma anistia, até onde se sabe, que, se passar no Congresso, vencendo resistência do Senado, tende a ser barrada no STF. Com o tom adotado, Tarcísio aposta na polarização com o lulismo, esvaziando qualquer perspectiva ao centro. Além do governador de São Paulo, Michelle Bolsonaro ganhou centralidade no palanque da Paulista. Num discurso emocional, tentou arrancar a empatia do público. Chorou.
Apesar da crítica pública, Romeu Zema preferiu contemporizar. E fez questão de reiterar a cartilha para mostrar que, embora tenha se precipitado pré-candidato ao Planalto sem a bênção de Bolsonaro, abraça a mesma narrativa. O governador mineiro vive um dilema. Não é aceito pelo “bolsonarismo raiz”. Para além da reclamação de Silas Malafaia – que, de resto, é também um ousado “calem a boca” dirigido a Ratinho Junior e a Ronaldo Caiado –, Zema enfrenta a rejeição de deputados estaduais bolsonaristas autênticos ligados à segurança pública.
E ao afirmar em entrevista no Roda Viva que a sua vinculação com Jair Bolsonaro “não é tão grande quanto alardeiam”, despertou a revolta: o bolsonarismo raiz acredita que o governador deve a sua primeira eleição em Minas a Bolsonaro. Apesar disso, Zema insiste: abraça um discurso de “encomenda”, acreditando que assim convencerá ser uma alternativa do campo bolsonarista.
Hoje, essa hipótese se constrói em torno de Tarcísio de Freitas com um vice do Centrão – se as raposas da política dobrarem a aposta – ou da família Bolsonaro. Com tal opção, Zema segue sem construir a sua própria identidade e ainda vai fechando a porta para a moderação, que poderia lhe dar entrada junto ao eleitor moderado.
Racha no PSD
Com a presença de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, o encontro estadual de prefeitos e parlamentares do PSD de Minas, no próximo dia 15, vai promover a filiação de novos prefeitos, segundo reitera o deputado estadual Cássio Soares, presidente da legenda em Minas. Estarão presentes deputados estaduais mais ligados a Cássio Soares e à proposta de atrair Mateus Simões (Novo), vice-governador ao partido. Por outro lado, a tendência é de que não participem os deputados federais e prefeitos do PSD alinhados ao senador Rodrigo Pacheco, provável candidato ao governo de Minas.
Em aberto
O caminho do PSD de Minas só será definido quando o cenário nacional estiver delineado. Depende da definição do PSD nacional: terá a candidatura própria de Ratinho Junior ou apoiará eventual candidatura de Tarcísio de Freitas ao Palácio do Planalto? Se a candidatura de Tarcísio se consolidar no cenário de polarização que se anuncia entre bolsonaristas e lulistas, o PSD de Minas tenderá a Mateus Simões. Caso contrário, seguirá com a candidatura de Rodrigo Pacheco, que tem convites para se filiar no União e no MDB.
Tecno-oligarquias
Ao tempo em que as novas tecnologias da informação e a Inteligência Artificial (IA) podem servir ao progresso e à prosperidade, inclusive para auxiliar no enfrentamento das emergências climáticas, elas ampliam rendimentos trilionários a poucos, prestam desserviço ao propósito da igualdade e partilha de bens fundamentais para a proteção das pessoas, do meio ambiente e da democracia. Tais ferramentas ainda promovem graves problemas de saúde mental, a disseminação do ódio e polarização política nas sociedades, além do comprometimento da renda familiar por meio do vício em jogos eletrônicos. Todos esses são temas abordados na obra “Encruzilhadas - Tecno-oligarquias, democracia e Ameaça ambiental”, coordenada pela jurista Edilene Lôbo, que também assina outros três artigos em parceria com o advogado-geral da União, Jorge Messias, o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Durval Ângelo, e Paulo Dias de Moura Ribeiro, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O livro será lançado hoje no Tribunal de Contas do Estado.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.