Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Sem Bolsonaro, o Centrão prospecta a oportunidade

Estar no governo Lula significa menos ainda que o Centrão deixará de articular contra a gestão federal sempre que puder desgastar o governo

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O Centrão, e particularmente a federação União Progressista, está diante da janela de oportunidade. Mira a era pós-Bolsonaro e pós-Lula. Morde e assopra na direção dos dois lados que polarizam a política nacional, até anunciar, no momento oportuno, de que lado estará: o próprio. O União-PP está no governo Lula, com quatro ministérios. Se a desincompatibilização forçará todos a deixarem os cargos em 4 de abril de 2026, não há motivos para antecipar um desembarque.

Da posição de ministros ainda há ganhos a se contabilizar: visibilidade nas bases que pode impulsionar futuras candidaturas ao Senado Federal; o controle de nacos do Orçamento da União; e indicações de aliados nas estruturas federais nos estados que ajudam na organização das campanhas.

Estar no governo Lula não impede, contudo, que o senador Ciro Gomes (PP-PI) discurse na condição de oposição. Manda assim os seus sinais em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Estar no governo Lula significa menos ainda que o Centrão deixará de articular contra a gestão federal sempre que puder desgastar o governo. Assim foi na eleição da presidência e relatoria da CPMI do INSS. Governos fracos são bons para os negócios: a fatura pelo apoio cresce.

A mesma lógica se aplica à interlocução com o campo bolsonarista. Com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Ciro Nogueira (PP-PI), foi o primeiro da fila a visitar Jair Bolsonaro em prisão domiciliar.

Sempre que pode, Ciro Nogueira faz vazar à imprensa a sua convicção de que haverá um pedido de vistas no julgamento de Jair Bolsonaro, marcado para 2 de Setembro. Sugere que politicamente trabalha nesse sentido. Mas Ciro Nogueira trabalha para viabilizar a candidatura ao Palácio do Planalto do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), articulando o seu próprio nome para vice da chapa.

O governador de São Paulo tem a simpatia do mercado, dos setores produtivos, da Faria Lima, enfim, da elite financeira e econômica nacional. Mas, Tarcísio tem lá os seus dilemas. O primeiro: só abrirá mão da reeleição em São Paulo, que percebe como “muito provável”, se o governo Lula estiver nas cordas. O governador de São Paulo não está disposto a trocar o certo pelo duvidoso.

Além disso, sem a mesma desenvoltura do Centrão, os movimentos de Tarcísio para se viabilizar são monitorados com lupa pela família Bolsonaro. Daí o destempero do “imaturo” Eduardo Bolsonaro – como pontua o próprio Jair Bolsonaro – revelado ao vivo e a cores pelos diálogos infames entre pai, filho e o pastor Silas Malafaia. Não apenas União e PP, mas os demais partidos do Centrão lançam as suas fichas sobre a construção Tarcísio. Bolsonaro sabe disso, mas convém-lhe dissimular.

Experiente dos meandros de parlamentares, o ex-presidente joga. Por um lado, sabe que o governador de São Paulo é a liderança em seu próprio campo, com potencial para arrancar-lhe o comando da direita que orbita o bolsonarismo. Por outro lado, Bolsonaro sabe também que está politicamente fragilizado, e, por isso mesmo, não pode romper com Tarcísio de Freitas. Precisa calcular bem a força imposta nesse jogo de pressão e distensão.

O ex-presidente tem a clara percepção de que ostentar o estridente “apoio político” que vem do Norte, pelo momento, lhe dá narrativa para manter mobilizada a sua bolha de apoiadores radicais na base de seu eleitorado. Mas sabe também que o vento do Norte não se manterá estável em seu favor em momentos mais adversos por vir.

Bolsonaro sabe ainda que o tarifaço, tal qual anunciado, cobra-lhe um preço alto. Ao apoiar o ataque do “aliado” do Norte sobre a autonomia das instituições e aos setores produtivos, Bolsonaro colhe o desgaste político pela negação de sua própria narrativa política. E os diálogos não deixam dúvidas: toda a movimentação anti-soberana tem por propósito primeiro os interesses de uma família, que se pretende acima da lei.

 

 

Roda Viva

O governador Romeu Zema (Novo) será o entrevistado desta segunda-feira, no Programa Roda Viva, às 22h, TV Cultura. Com duração de 90 minutos, a apresentação é de Vera Magalhães.

 


No telhado

As conversas entre o vice-governador Mateus Simões (Novo) e o presidente estadual do PSD, Cássio Soares para a filiação dele ao PSD subiram no telhado. De um lado, a legenda aguarda a formalização do senador Rodrigo Pacheco (PSD) em relação à sua eventual candidatura ao governo de Minas em 2026. Por outro lado, a presença de Mateus Simões ao lado do governador, neste momento em que ele lança a sua pré-candidatura à Presidência da República é considerada importante. Deixar o Novo agora enfraqueceria a posição de Romeu Zema, que também vem se articulando com o PSD do Paraná. Lá, o vice-prefeito Paulo Martins deixou o PL para filiar-se ao Novo e será o candidato do governador Ratinho Junior (PSD) ao governo do estado.

 


Racha

O PL de Minas enfrenta um racha não apenas em relação à candidatura que vai apoiar na sucessão ao governo de Minas. Parte do partido defende o senador Cleitinho (Republicanos); a outra, Mateus Simões. A legenda também está rachada em relação à disputa ao Senado Federal. O deputado estadual Cristiano Caporezzo, anuncia que será candidato e contesta as informações que circulam de que o presidente do PL, deputado federal Domingos Sávio seria o nome apoiado pelo ex-presidente da República, Jair Bolsonaro. “O único que tem o apoio público de Eduardo Bolsonaro e de Jair Bolsonaro sou eu”, avisa Caporezzo. Pleiteiam também a indicação do PL para concorrer ao Senado, o deputado federal Eros Biondini, o vereador Vile, o advogado conhecido como Superman que veio de São Paulo, além do pastor Edésio de Oliveira, que é pai do deputado federal Nikolas Ferreira.

 


Em Contagem

O presidente Lula vai anunciar em Contagem, na sexta-feira, 29/8, as propostas selecionadas pelo Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), nas modalidades Mobilidade Urbana Sustentável e Renovação de Frota, e visitar as obras do Corredor da Avenida Maracanã. Em meio à agenda, a política. Lula vai conversar com Marília Campos, prefeita de Contagem, sobre a composição da chapa encabeçada pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD) ao governo de Minas.

 

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As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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