Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Governo Lula emite sinais de recuperação

Lula ganhou tempo com as lideranças do Congresso, com o setor produtivo e empresarial e com outros grupos prejudicados pela ação de Eduardo Bolsonaro

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Em 7 de dezembro de 1941, no contexto de crescentes tensões entre Estados Unidos e Japão decorrentes da expansão militar japonesa no Pacífico, a Marinha Imperial Japonesa executou um ataque surpresa a Pearl Harbor, base naval americana localizada no Havaí. Foi determinante para o ingresso oficial dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Nessa escalada de guerra, a taxa de aprovação da gestão de Franklin Roosevelt, então presidente dos Estados Unidos, subiu de 72% para 84%.

Não seria a primeira nem última vez que um ataque externo ou uma aguda crise internacional despertaria o senso de coesão em torno da Presidência dos Estados Unidos. Em 1970, o cientista político John Mueller, redigiu o paper “Presidential popularity from Truman to Johnson”, ali cunhando o conceito de “rally ‘round the flag”, que registrava o crescimento do apoio popular nessas situações. Diferentes escolas de pensamento derivaram dessa teoria, entre as quais aquela que se notabilizou por definir as causas das manifestações de patriotismo e aquela que focou a crítica na duração da mobilização patriótica com ampliação do suporte popular em torno da Presidência. Seja Roosevelt com o salto de popularidade de 12 pontos percentuais ao enfrentar o ataque a Pearl Harbor; seja George W.Bush, que saltou de 51% para 90% de aprovação após o ataque de 11 de Setembro (2001), em algum nível é esperado aumento da popularidade de governos que enfrentam ameaças externas.

A mais recente pesquisa Genial/Quaest aponta nessa direção. As linhas de popularidade do governo Lula vão se redesenhando. Entre maio – pico de 57% da desaprovação do governo – e agosto, a desaprovação recuou seis pontos percentuais – agora é de 51%. A aprovação cresceu de 40% para 46%. O governo Lula, que estava nas cordas, dá sinais de recuperação. A reação é bem mais lenta do que se viu em crises internacionais do passado, dado que também são crises de proporções diferentes. Mas há também uma variável crucial nessa equação: a centralidade das comunicações estava, no passado, enraizada em grandes grupos de mídia – hoje denominadas plataformas tradicionais – que convergiam para uma cobertura em defesa de interesses nacionais e em respaldo às respostas do Estado-Nação.

Nesta era da tecnopolítica, o recente tarifaço de Donald Trump sobre produtos brasileiros produz, em algum nível, mobilização “patriótica” das instituições de estado e entre eleitores maior apoio à Presidência da República. Mas diferentemente do passado, os algoritmos que controlam hoje os fluxos de informação e (des)informação impulsionam narrativas, interpretações e responsabilidades diversas. A expressiva maioria (71%) considera que Trump está errado, mas há ainda um nicho (21%) que sustenta estar certa a posição do americano. Enquanto 48% afirmam que “Lula e o PT” estão fazendo o mais certo nesse embate internacional Brasil x Estados Unidos, outros 28% acreditam que Bolsonaro e seus aliados é que fazem o que é mais certo nesse momento. Para 69%, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) defende os interesses de sua própria família no exterior, mas há ainda 23% que afirmam que ele defende os interesses do Brasil. Entre fatos e narrativas, há um longo caminho potencializado pelos interesses políticos que regem os algoritmos.

Lula ganhou tempo com as lideranças do Congresso Nacional, com o setor produtivo e empresarial e com outros grupos de interesse prejudicados pela ação de Eduardo Bolsonaro no exterior. Ao mesmo tempo, os índices de inflação recuam e melhoram um pouco a percepção do poder de compra das famílias, o que é excelente preditor de avaliação de governos. Em que pese, pelas condições macroeconômicas e de governabilidade interna o governo Lula tenha sérias limitações, tem em mãos uma oportunidade para consolidar o ponto de inflexão em seu desempenho. Sem perder de vista, contudo, a certeza de que neste novo tempo tecnofeudal governo algum terá vida fácil; eleição alguma será por larga margem. Apesar disso, algumas leis “não escritas das ciências políticas” continuam valendo. Lula tem pelo momento a maré a seu favor. E a história segue deusa cruel, que odeia a ignorância. Aos perdedores, restam as bananas, digo, as batatas...

 


Garis

O vereador Bruno Pedralva (PT) propôs na Câmara Municipal de Belo Horizonte o projeto que institui o Programa Municipal de Proteção e Valorização dos Coletores de Resíduos (Progari), instituindo medidas de proteção, prevenção, acompanhamento e segurança dos profissionais da limpeza urbana de BH. Entre elas, está a instalação de câmera de segurança nos caminhões da coleta de lixo e de um botão de emergência nos veículos para casos de urgência. O texto estabelece ainda a obrigatoriedade de o município prestar apoio psicológico e jurídico aos profissionais vítimas de agressão. A matéria entra em pauta no contexto do brutal assassinato do gari Laudemir de Souza, de 44 anos, no último 11 de agosto.

 


Piso nacional

Na Câmara dos Deputados, tramita o projeto de Lei 4.146/2020, que regulamenta a profissão de trabalhador essencial de limpeza urbana. A carga horária semanal prevista em texto é de 40 horas e o piso salarial nacional será de 2 salários mínimos mensais, reajustado anualmente, a partir do salário mínimo nacional. A matéria já foi aprovada na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados e está na Comissão de Constituição e Justiça. Em Belo Horizonte, tanto na varrição, quanto na coleta, os profissionais recebem por 44 horas semanais salários que variam de R$ 977,00 a R$ 2.120,00, segundo tabela indicada na Lei nº 11.678, de 2 de abril de 2024.

 


Na Assembleia

Na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, em audiência pública, familiares, amigos e colegas do gari Laudemir de Souza Fernandes exigiram justiça. Foi da esposa Liliana França da Silva o depoimento que mais emocionou os presentes: “Ele achou que estava atirando em um saco de lixo, mas o meu marido não era um saco de lixo. O meu Lau era um homem amado, que tinha família e orgulho de trabalhar como gari. Por isso, nosso maior temor é que esse crime caia no esquecimento e essa pessoa que matou ele saia (da cadeia) pela porta da frente. Nossas leis têm muitas brechas”.

 

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Comenda

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), será homenageado em 9 de setembro com a mais alta honraria concedida pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG). O magistrado, que ainda não confirmou presença no evento, está entre as 24 autoridades escolhidas para receber o “Colar do Mérito da Corte de Contas Ministro José Maria de Alkmim”. A comenda é entregue a personalidades que, na avaliação do órgão, prestaram relevantes serviços ao Tribunal de Contas, ao estado de Minas Gerais e ao país.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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