
O impasse de estados democráticos
As lições do século XX são claras e desafiam a Europa, o Brasil, os EUA e todos os regimes do mundo ameaçados pela tecnopolítica e pela ascensão da extrema dire
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30 de junho de 1934. O músico e crítico Willi Schmid tocava violoncelo em sua residência. A campainha toca. À frente, quatro homens das SS, a organização paramilitar do Partido Nazista. Schmid é arrastado para fora, diante da esposa e três crianças. O corpo só retornaria à família quatro dias depois, com a orientação expressa da Gestapo de que o caixão lacrado não fosse aberto. Tomado por Willi Schmidt, dirigente local da SA, Schmid foi executado por um erro. Sob ordem de Adolf Hitler, a chamada “noite das facas longas”, expurgo sangrento conduzido pela SS e pela Gestapo, marcou a consolidação do estado totalitário sob o nazismo.
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Estavam entre os alvos também os conservadores antinazistas, mas, sobretudo, as Tropas de Assalto (Sturmabteilung, ou SA), a mais poderosa milícia paramilitar, liderada por Ernst Röhm. Crucial no assassinato, violência e intimidação de opositores característicos da ascensão de Hitler, naquele momento em que Röhm defendia uma "segunda revolução" para redistribuir riquezas e substituir o Exército tradicional por uma milícia popular, tornou-se incômodo ao Exército, aos industriais, às elites conservadoras e ao próprio Führer. Ninguém questionaria o Führer e os seus interesses.
No contexto da crise política, econômica e do desalento que se abatiam sobre a Itália após a Primeira Guerra Mundial, Benito Mussolini, de forma análoga ao nazismo na Alemanha, ascendeu com o discurso da antipolítica, a partir da produção de inimigos internos: os socialistas eram a reencarnação do mal, deveriam ser espancados e mortos.
O “consenso” foi imposto pelo terror, na ação dos camisas negras. O ponto de inflexão na consolidação do estado totalitário italiano foi o assassinato do deputado socialista Giacomo Matteotti, autor do livro “Un Anno di Dominazione Fascista” (Um Ano de Domínio Fascista, em português), com detalhamento das surras, os incêndios e execuções aos milhares. Mussolini anuncia ao parlamento ter ordenado a execução, depois que Amerigo Dumini, conhecido como “O Mutilador”, que se autointitulara “Assassino de Il Duce”, ter declarado em depoimento aos investigadores: “Sou apenas um instrumento. O responsável é Mussolini”.
São aterradoras as estatísticas legadas pelos genocídios promovidos pelo nazismo e fascismo, que se desdobraram na Segunda Guerra Mundial. O holocausto assassinou mais de seis milhões de judeus, ciganos (porajmos), eslavos e deficientes. A Segunda Guerra Mundial deixou o rastro de 70 a 85 milhões de mortos entre civis e militares, incluindo 27 milhões de soviéticos e 6 milhões de poloneses.
Demorou, mas, na semana passada, a Alemanha reagiu à ascensão da chaga neonazista, desta vez impulsionada pela era dos algoritmos, acolhida pelos novos senhores do mundo tecnofeudal. O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) foi classificado como organização de "extrema direita" pelo Departamento Federal de Proteção da Constituição do país, o Verfassungsschutz.
As lições do século XX são claras e desafiam a Europa, o Brasil, os EUA e todos os regimes do mundo ameaçados pela tecnopolítica e pela ascensão da extrema direita. Encoberta sob a narrativa da tolerância democrática e da liberdade, o neonazismo cresce.
“Devemos (...), em nome da tolerância, reivindicar o direito de não tolerar os intolerantes”, afirmou o filósofo Karl Popper, após a Segunda Guerra Mundial, estabelecendo o clássico paradoxo: a tolerância não é um valor absoluto, mas um contrato social que exige a defesa ativa contra quem busca destruí-la.
No mesmo período, também Hannah Arendt, ao expor a “banalização do mal”, assinalou que nazismo e fascismo se consolidaram não tanto pela maldade de quem reproduziu narrativas, mas pela incapacidade de reflexão crítica.
Combater a intolerância exige ação coletiva, não apenas regras abstratas, diz Arendt, para quem a palavra e a ação, quando convertidas em política, constituem uma esfera pública, na qual emerge a pluralidade e a diversidade, enquanto a liberdade se dá na relação com o outro, dentro da perspectiva da ética e do bem comum.
Depois de difundir o terror que viabilizou a ascensão de Hitler, a SA nazista sangrou naquela noite, ouvindo versos de seu próprio hino, anunciado durante os expurgos dos inimigos do Reich: “E crave as longas facas fundo em suas costas!”. Tolerar ou impor limites, eis a questão posta aos estados democráticos e aos civis que se preocupam com a sua segurança.
Aposta
A articulação do governo Zema (Novo) para tentar costurar a unidade do partido com o campo bolsonarista na disputa estadual em 2026 aposta na intervenção de Jair Bolsonaro (PL) para que o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) desista de concorrer. Por um lado, o ex-presidente indicaria um candidato ao Senado Federal – ele chegou a mencionar Paulo Guedes, ex-ministro da Economia. Por outro, Cleitinho indicaria o seu irmão, Gleidson Azevedo (Novo), prefeito de Divinópolis, como vice da chapa do atual vice-governador Mateus Simões (Novo).
Novas lideranças
Revelação na política de Itabira pelo engajamento e atuação nas causas sociais, Raquell Guimarães, empresária, estilista e esposa do prefeito Marco Antônio Lage (PSB), vem sendo incentivada a concorrer para deputada estadual. Até aqui, ainda não se decidiu. Reeleito em Itabira com 76% dos votos válidos, também Marco Antônio Lage vem sendo cortejado por João Campos, prefeito de Recife e futuro presidente nacional do PSB, para candidatar-se a deputado federal. A tendência é, contudo, seguir à frente do mandato municipal.
Congresso
Promovido pela Associação Mineira de Municípios (AMM), a 40ª edição do Congresso Mineiro de Municípios acontece nesta terça e quarta-feiras – dias 6 e 7 de maio – no Expominas. Na ocasião, será empossada a nova diretoria, sob a presidência de Luís Eduardo Falcão Ferreira (sem partido), prefeito de Patos de Minas, eleito para o triênio 2025-2028. A instituição tem quatro vice-presidentes: Lucas Vieira Lopes (Avante), prefeito de Iguatama; Sandro Lúcio Fonseca (PL), prefeito de Governador Valadares; José Aparecido Mendes Santos (PSD), prefeito de Janaúba; e Luiz Fábio Antonucci Filho (Avante), prefeito de Visconde do Rio Branco.
Júlia Kubitschek
Para avaliar as condições de trabalho dos funcionários, a infraestrutura do hospital e a qualidade do atendimento prestado à população, os deputados da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa visitarão, nesta segunda-feira, o Hospital Júlia Kubitschek, em BH. O requerimento é do deputado estadual Betão (PT), que tem recebido denúncias de servidores de fechamento de leitos, falta de insumos, sobrecarga das equipes, interrupção de cirurgias e riscos à integridade física de pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Desmonte
Referência no atendimento de média e alta complexidade pelo SUS, especialmente nas áreas de pneumologia, cardiologia, cirurgia torácica e doenças infectocontagiosas, o Júlia Kubitschek pertence à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). Em assembleia sindical realizada em 25 de abril, servidores relataram a falta de materiais básicos, como esparadrapos e micropores e falhas graves na climatização do CTI neonatal, além da redução no valor da Gratificação de Incentivo à Eficiência dos Servidores (Giefes). Técnicos de enfermagem também denunciaram a sobrecarga de trabalho no CTI neonatal.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.