
O cálculo eleitoral perverso para as democracias
Até quando cadeiradas farão mais sucesso do que planos de governo, eis a pergunta para a qual as democracias precisam estar preparadas
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A sucessão mineira vive as suas ondas, por ora, buscando um cordão de isolamento em relação às indefinições da corrida ao Palácio do Planalto. É que no plano nacional, o presidente Lula (PT) – não em seu melhor momento de popularidade – é o único candidato do campo progressista democrático em condições de competitividade. Ainda assim, não crava que será candidato à reeleição. E é grande a probabilidade de que, caso venha a ser, a chapa tenha outra indicação para vice, possivelmente do MDB.
Do outro lado do balcão, é da extrema direita o nome mais conhecido e que evoca, para o bem e para o mal, o maior recall: Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República inelegível e, neste momento, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de tentativa de golpe de Estado. Diferentemente de Lula, Bolsonaro reitera que será candidato, embora a probabilidade de que não venha a sê-lo seja grande. Ao longo da última semana, hospitalizado, em busca de empatia, expõe sem constrangimento a sua condição física nas mídias com aparato e circunstâncias, oferecendo à apreciação pública um corpo sobre o leito com sondas e cortes. Da dor ao espetáculo.
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Se no campo progressista democrático, há muito espaço e poucas pré-candidaturas à Presidência da República, na órbita bolsonarista a situação é inversa: há quatro potenciais nomes de governadores, entre os quais, três são de legendas que, entre trancos e barrancos, estão na base de sustentação do governo Lula. Também a disputa ao Palácio Tiradentes de 2026 reproduz algumas características nacionais. Confiantes num nicho orgânico para impulsionar eventual largada, sobram nomes na órbita bolsonarista. Mas faltam candidaturas do campo democrático progressista, dizimado pelas narrativas antissistema e antipolítica que ganharam vigor no auge do lavajatismo.
Até aqui, em Minas, na órbita bolsonarista, além do vice-governador Mateus Simões (Novo), são pré-candidatos ao governo o senador Cleitinho (Republicanos) e, mais recentemente, entre idas e vindas, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que declara o seu interesse, mas deposita sobre Bolsonaro a decisão final. Mas é verdade que o PL nacional tem outros planos para Nikolas e deseja enquadrá-lo na disputa à Câmara dos Deputados, para que arraste uma bancada robusta que renderá aos cacifes da legenda fundos eleitorais polpudos. Até aqueles que fazem política negando a política, esta é a variável que mais importa. Até quando Nikolas Ferreira, o preferido da tecnopolítica, seguirá tal script – se já tem estatura eleitoral em seu nicho de seguidores superior aos mitos e caciques – é a pergunta que se coloca.
Ao centro, o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil é nome posto ao Palácio Tiradentes, mas até aqui sem partido. No mesmo campo, entre recuos e avanços, o senador Rodrigo Pacheco (PSD) vai se posicionando, ao seu estilo: prepara-se para concorrer apostando no eleitorado da direita moderada à esquerda. Ainda que aliados de primeira hora apelam a São Tomé, é fato que Pacheco está em movimento.
A abundância de nomes de um lado e a carência do outro não são expressão de uma predisposição eleitoral. Longe disso. Tão somente demonstra que sob a perspectiva política, o campo que orbita a extrema direita está em processo interno de consolidação de novas lideranças que tendem a, no médio prazo, desafiar mitos, tentando capturar os nichos eleitorais organizados, muitos dos quais vinculados aos movimentos religiosos. Já no campo democrático progressista, exceção ao eleitor identitário, não há nichos de seguidores organizados, tampouco há expertise na manipulação das mídias digitais nem há boa vontade dos algoritmos.
Lideranças menos conhecidas que se dispõem a concorrer têm à frente um campo aberto de eleitores moderados, não tão posicionados nas pré-campanhas, mas que no momento da decisão, como se viu na eleição à Prefeitura de Belo Horizonte, fazem a sua escolha. O que aflige potenciais candidaturas moderadas, nesse processo, é a dificuldade da arrancada: o tempo de campanha é curto, o primeiro turno quando povoado de nomes e siglas, dilui a atenção do eleitor. Fica difícil se destacar com um discurso sério, em torno de propostas e planejamento de governo. É o lado perverso da disputa eleitoral. Até quando cadeiradas farão mais sucesso do que planos de governo, eis a pergunta para a qual as democracias precisam estar preparadas.
Ceasa
O senador Rodrigo Pacheco (PSD) irá participar, em 30 de abril, de solenidade no Ceasa em que o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, irá entregar cerca de duas centenas de máquinas agrícolas para as prefeituras, retirando-as da dependência dos consórcios para trabalhos de infraestrutura rural e cultivo.
Sinais
Interlocutores do senador Rodrigo Pacheco que organizam a sua candidatura ao governo de Minas afirmam que daqui para frente ele estará presente em todas as entregas federais ao estado e aos municípios. Ainda assim, o círculo de apoiadores próximos quer mais do que sinalização: gostaria de ouvir do senador a explicitação de seu projeto político.
Rede de proteção
De autoria da deputada estadual Nayara Rocha (PP), foi aprovado em primeiro turno pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa o PL 1.633/23, que trata da criação do cadastro estadual de entidades que integram a Rede Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Mulher. O objetivo é facilitar a comunicação entre os membros da rede, permitir o acesso da população aos contatos das entidades e garantir a defesa das mulheres. A relatora da matéria, Ana Paula Siqueira (Rede), considerou que a criação do cadastro de órgãos e entidades permitirá acesso mais ágil das vítimas aos serviços especializados, além de assegurar comunicação mais assertiva entre as instituições da rede de proteção às mulheres.
Retorno
Depois de uma licença de 21 dias para tratamento de câncer na próstata, o deputado federal Rogério Correia (PT), presidente da Comissão de Finanças e Tributação, retornou nesta terça-feira à Câmara dos Deputados. “Felizmente, a cirurgia foi um sucesso”, afirmou.
Anel Rodoviário
A Comissão de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços da Câmara Municipal realizará nesta quinta-feira, por requerimento do vereador Irlan Melo (Republicanos), audiência pública para discutir as condições do trânsito e acidentes no trecho do Anel Rodoviário que corta os bairros das Indústrias e Vista Alegre, no pontilhão da linha férrea. Participam representantes dos setores de trânsito e de obras da Prefeitura de BH, gestores do Anel e da empresa responsável pela implantação da Linha 2 do metrô, que vai passar pela região.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.