Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

A fraternidade em agonia

Francisco reafirmou mais do que todos os líderes políticos e espirituais do mundo a necessidade de acolher o próximo, em especial, aos menos favorecidos

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Intelectuais costumam pontuar que quando num mundo de lideranças políticas de diversos matizes, a voz mais progressista é a de um líder espiritual da Igreja Católica, há um sério problema civilizacional posto. O falecimento de Francisco é brutal perda para cidadãos de todo o planeta. O seu pontificado honrou a origem da palavra latina “pontifex” (construtor de pontes). Diferentemente de seus dois antecessores que fizeram a Igreja Católica regredir séculos em nome de uma unidade do corpo católico, Francisco reiterou a tradição dos cristãos que, como João XXIII, queriam uma igreja aberta e que abraça os seres humanos e a natureza como iguais, tratando-os  como seres criados pelo mesmo Deus.
 
 
Tal qual seu inspirador Francisco de Assis, o Papa que se foi estendeu os braços da Igreja Católica a todos os continentes: os dados do Annuario Statisticum Ecclesiae 2023 mostram que o catolicismo cresceu 3,31% na África, maior índice entre todos os demais continentes no biênio 2022-2023. Nesse período, a população mundial  que professa o catolicismo passou de 1,3 bilhão para 1,4 bilhão, aumento médio de 1,15%. Na África, tão devastada pelo colonialismo associada ao cristianismo, os católicos africanos são hoje 20% dessa população no planeta; só perde para a América, que concentra 47,8 % dos católicos do mundo, mas que cresceram a uma taxa de apenas 0,9 % no mesmo período.
 
 
Com 13% da população mundial, o Brasil ainda é o país com mais católicos. A Ásia vem em quarto lugar nesse biênio, com uma taxa de crescimento de 0,6%, possuindo 11 % dos católicos do mundo. Na Europa, que ainda tem 20,4 % da população mundial de católicos, a taxa de crescimento foi de apenas 0,2%. Na Oceania os católicos são poucos, mas apresentaram a segunda maior taxa de crescimento do mundo em termos continentais.
 
O pontificado de Francisco veio ao mundo para seguir o verdadeiro Evangelho e por isso, para assombrar.  Foi não apenas um construtor de pontes intercontinentais. Abriu as portas para as diversas minorias do planeta, como aquelas do movimento LGBTQIA+.
 
 
Escancarou as portas do catolicismo para a maioria de pobres do mundo, reafirmando a vocação natural do cristianismo com as suas iniciativas em favor do acolhimento dos migrantes e da assistência aos famintos. Criou um movimento de economistas jovens para pensar uma alternativa econômica às realidades atuais. Na Igreja é ainda comum chamar tal sistema de “capitalista”, embora algumas faculdades católicas já tenham absorvido a interpretação da realidade tecnofeudal.
 
Francisco foi o primeiro Papa que tinha origem de nascimento e vida eclesiástica fora do continente europeu. As mudanças dentro da Igreja pelas quais lutou lhe renderam muitos inimigos internos e externos. Apesar da violenta resistência dos movimentos reacionários, que querem regredir com a Igreja alguns séculos, Francisco seguiu em defesa da construção de pontes para o contato e respeito dos católicos às outras religiões. Foi avesso à guerra tanto na Ucrânia quanto na Palestina, e deu inúmeras declarações em repúdio ao massacre contra o povo palestino.
 
 
Francisco reafirmou mais do que todos os líderes políticos e espirituais do mundo a necessidade de acolher o próximo, em especial, aos menos favorecidos. Como pegou uma milenar Igreja Católica no auge de uma crise, dividida entre movimentos radicalmente opostos, além de um mundo em sua conturbada caminhada contemporânea, o pontificado de Francisco foi marcado por avanços e recuos. Neste momento, os ultraconservadores católicos se preparam para estagnar quaisquer avanços no próximo pontificado, dado que a maioria dos cardeais nomeados nos últimos anos foram formados no pontificado de Bento XVI e João Paulo II, que se desdobraram em restaurar uma Igreja monolítica e voltada para si.
 
Francisco confortou os que sofrem. Emblemático que em sua última aparição pública tenha sido para condenar os massacres de seres humanos que predominantemente são de uma religião que combate a sua na Nigéria: “Não é guerra, é crueldade” disse, se referindo a Gaza. Com ele, estaria morrendo também o verdadeiro sentido da fraternidade?
 

 A bela

Impressionado com a beleza da histórica São João del-Rei, o presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta (Republicanos) manifestou as suas impressões sobre a cidade ao deputado Aécio Neves (PSDB), quando após a cerimônia de reinauguração do Memorial Tancredo Neves caminhava em retorno ao Solar dos Neves. O parlamentar mineiro convidou-o a retornar, também para conhecer outras cidades históricas. (Alessandra Mello) 

Reencontro 

Em processo de fusão com o Podemos, o PSDB sonha em firmar posterior federação com o Solidariedade e sobretudo com o Republicanos, o que faria da hipotética bancada a terceira maior da Câmara dos Deputados. Dirigindo-se ao  deputado federal Gilberto Abramo, presidente do Republicanos em Minas, Aécio Neves lamentou que não têm se visto nos últimos tempos. Ambos prometeram retomar o contato. (Alessandra Mello) 

Reembolso 

Convencido que conseguirá dar a volta por cima da baixa maré que se abateu sobre o tucanato, Aécio Neves disse a Hugo Motta: “Ao contrário do que presumiam alguns, eu costumava brincar, presidente Hugo, que mandavam coroas de flores para o velório do PSDB. Vão ter que pedir reembolso, porque o PSDB vai ressurgir mais forte do que nunca”. (Alessandra Mello) 

Pingo é letra 

A tradição mineira de fazer política está em declínio, discursou o prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo (PV), sustentando por ocasião da cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência. “Tancredo cultivou tudo aquilo que faz do espírito de Minas uma centelha luminosa na inteligência do Brasil. Agora, parece que a mineirice declina. O mineirismo se esgueira por entre silêncios e sombras. A sagacidade, a agudeza do talento, a arte da política, que tanto elevaram o mineiro perante as expectativas do Brasil, refugiaram-se nos livros de história. A saudade de Tancredo Neves retempera-se na nostalgia da presença de Minas nos instantes cruciais da pátria”, disse. (Bruno Nogueira) 

Feminicídio 

A divulgação obrigatória, pelo Poder Executivo, do número de ocorrências, inquéritos instaurados e resoluções de crimes de feminicídio no estado está prevista no Projeto de Lei (PL) 2.413/21, de autoria da deputada Ione Pinheiro (DEM). A proposição atualiza a Lei 13.772, de 2000, que dispõe sobre o registro e a divulgação de dados relativos à violência e à criminalidade no Estado, para incluir o feminicídio no rol de crimes a serem divulgados. A matéria recebeu parecer favorável de 1º turno da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa. Vai a plenário para apreciação em primeiro turno.  Informações da Secretaria de Estado Justiça e Segurança Pública dão conta de que em 2024 foram registradas 411 ocorrências de feminicídio, das quais 248 atentados e 163 consumados. 

Transporte público 

Constituída no âmbito da Câmara Municipal de BH, a Comissão Especial de Estudo dos Contratos de Ônibus realizará nesta terça-feira a primeira audiência pública para discutir os atuais contratos de concessão do serviço de transporte coletivo de passageiros, firmados após realização da Concorrência Pública 131/2008. Os parlamentares querem traçar um diagnóstico do modelo vigente em seus aspectos financeiros e operacionais, antes de apresentar diretrizes para um novo modelo de concessão, previsto para 2028. É esperada a presença de representantes da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte S/A (BHTrans) e da Superintendência de Mobilidade do Município de Belo Horizonte (Sumob). A comissão é presidida por Fernanda Pereira Altoé (Novo) e será relatada por Pedro Rousseff (PT).

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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