Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Sem investigação, a criminalidade seguirá crescendo

Se melhorar capacidade de investigação é essencial à redução consistente dos crimes no Brasil, a questão é como melhorar modelo de governança da PCMG

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A impunidade fomenta a criminalidade: a taxa de apuração nos estados de homicídios é de 40%, de roubos abaixo de 10%, de furtos inferior a 5%. Minas está na média nacional. Há em curso uma “guerra civil”: são 46.238 mil mortes violentas intencionais, 937.294 furtos de celular, em torno de 90 mil roubos, 83.988 mil registros de estupros e 1.467 feminicídios, o que faz do Brasil um dos países mais violentos do mundo. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado em 2024. A dinâmica da violência está correlacionada às periferias urbanas, tendo por alvo jovens de 15 a 24 anos, e ao fato de o país estar na rota estratégica do tráfico internacional de drogas. Nesse mercado ilícito, a violência é o recurso para a resolução de conflitos.

 

 

Tal é a temática que move a pesquisa acadêmica e o lançamento do livro “Desafios e perspectivas da modernização das polícias civis na sociedade brasileira” (Editora PUC Minas e Forum, 2025), dos pesquisadores em segurança pública e professores da PUC Minas Luís Flávio Sapori e Lauro Soares de Freitas, em coautoria com Jésus Trindade Barreto Júnior e Gustavo Persichini de Souza, que unem a vivência cotidiana da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) com a teoria.

Para além do diagnóstico das condições que prejudicam a ineficácia da investigação das polícias civil no país e baixa capacidade de apuração e elucidação dos crimes, eles propõem reflexões sobre uma nova governança da polícia de investigações. “A insegurança pública não vai melhorar se a Polícia Civil não melhorar. Em geral governadores priorizam apenas o policiamento ostensivo, e com raras exceções as polícias civis são relegadas ao segundo plano”, afirma Sapori.

 

 

O pesquisador considera que além da escassez de recursos humanos e materiais, como as questões salariais e as perícias criminais defasadas tecnologicamente, há fatores organizacionais graves. “A Polícia Civil é permeável ao clientelismo político de governadores e lideranças políticas”, afirma. Ele afirma que internamente há uma disputa entre grupos, vinculados a diferentes políticos, o que deixa a instituição sem coesão interna para os processos de gestão de recursos e apuração de crimes.

Se melhorar a capacidade de investigação é essencial à redução consistente dos crimes no Brasil, a questão é, antes de tudo, como melhorar o modelo de governança da Polícia Civil, afirmam os autores. O que propõem é modelo consagrado na Inglaterra pela polícia metropolitana de Londres. “Chamamos de investigação guiada pela inteligência. Modelo que tem sido adotado na Inglaterra na polícia metropolitana de Londres e que é aplicável à realidade brasileira”, indica Sapori.

 

 

Para tanto, todo o conhecimento acumulado em inquéritos da investigação cotidiana, do dia a dia do crime, deve estar lastreado numa central de inteligência que sistematiza as informações e facilita o acesso aos casos. “Propomos que essa base seja estruturada em torno de um Centro de Direção e Controle da Organização. É um aprimoramento das centrais de comunicações que hoje existem nas polícias civis e operam como ilhas. É preciso transformá-los em centros de sistematização do conhecimento, usando tecnologia de ponta, big data, inteligência artificial, com profissionais treinados. E com esse conhecimento gerado municiar o trabalho das delegacias de polícia e unidades especializadas, quebrando o isolamento em que estão hoje as unidades”, afirma Sapori.

 

 

Cícero (106 – 43 a.C.), orador e filósofo da República Romana, defendeu em sua extensa obra a ideia de que a impunidade corrói a virtude cívica e que a lei, aplicada com equidade e independentemente de poder ou status, é sustentáculo da “res publica”. É de Cícero a constatação: “O maior estímulo para cometer faltas é a esperança de impunidade.” Ao criar o vínculo entre informação, inteligência e trabalho operacional, a capacidade de apuração, a criminalidade tende a reduzir. E para isso não é preciso mudar a legislação nem a Constituição. Basta vontade política. Haverá?

 

Agenda em Brasília

O vereador Bruno Pedralva (PT) trabalha para estreitar as relações do prefeito Álvaro Damião (União) com o governo Lula. Foi dele a solicitação para agenda já confirmada, no próximo 23, com Alexandre Padilha, ministro da Saúde; a ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck; e Gleisi Hoffmann, ministra de Relações Institucionais. Além da visita de cortesia, na pauta estão demandas de Belo Horizonte para a ampliação das equipes de saúde da família; e as obras no antigo aeroporto Carlos Prates.

 

 

Apoio

Para confirmar as reuniões solicitadas por Pedralva com os ministros de Lula, ele teve o apoio dos deputados federais Rogério Correia (PT) e Ana Pimentel (PT). Também ajudou na interlocução a tesoureira nacional do PT, Gleide Andrade.

 

O rim e o Mustang

Ao comparar o custo do aluguel de um carro de luxo no Brasil e nos Estados Unidos, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) – que escapou para aquele país em março temendo ser preso – postou: “Aqui você não vai dar o rim para conseguir ter um carro desse durante um, dois ou alguns dias, principalmente para você que vem de férias. Então, a liberdade econômica se faz presente na melhoria da qualidade dos produtos também”.

 

 

Lançamento

Será no próximo 26 de abril, às 11h, na Livraria da Rua (Rua Antônio de Alburquerque, 913) o lançamento do livro “Desafios e perspectivas de modernização das políticas civis na sociedade brasileira: reflexões sobre uma nova governança da polícia de investigação”.

 

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Covid

O ex-presidente da República José Sarney, de 94 anos, foi diagnosticado com Covid-19 após apresentar sintomas gripais. Ele procurou atendimento médico em Brasília, onde realizou exames de imagem para avaliação do estado dos pulmões. Sarney está sendo acompanhado em casa e se recupera bem. A expectativa é de que ele esteja plenamente restabelecido até a próxima semana, quando completa 95 anos, no dia 24 de abril. Sarney era esperado nesta segunda-feira, 21 de abril, em São João del-Rei, para as celebrações de 40 anos da morte de Tancredo Neves.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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