
Tucídides e as suas lições
Perdendo aliados pela agressividade, Trump assiste à China estreitar relações com seus rivais: sentou-se com a Coreia do Sul e Japão e a União Europeia
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Tucídides foi, talvez mais que Heródoto, o pai da história. Narrou a Guerra do Peloponeso (431 a 404 a.C.), que devastou a Grécia Antiga, sobre o conflito entre a Liga de Delos e a Liga do Peloponeso. Esparta e Atenas, cidades-estado líderes das duas ligas, estiveram unidas até 449 a.C. em luta pela sua própria sobrevivência contra o inimigo comum, o grande Império Persa. Fenômeno tão antigo quanto a própria história, a “armadilha de Tucídides” diz respeito ao padrão de estresse estrutural que ocorre quando uma potência em ascensão desafia uma potência dominante: o temor de Esparta ante a ascensão de Atenas levou ao confronto.
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O cientista político norte-americano, Graham Allison, da Universidade de Harvard, publicou em 2017 a obra “Destined for War: Can America and China Escape Thucydides's Trap?”, que chegou ao Brasil sob o título “Destinados à Guerra – Poderão a América e a China Escapar da Armadilha de Tucídides?” (Gradiva/2021). Depois do conflito do Peloponeso, a história está repleta de exemplos assim. Nos últimos 500 anos, Allison enumera 16 vezes em que tais condições ocorreram, a começar pelo embate entre Espanha e Portugal (que se encerra com o Tratado de Tordesilhas), passando por diversos outros, como a Guerra da Crimeia (1853-1856), a de Sedan (1870) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Em apenas quatro entre os 16 registros históricos não houve guerra.
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Na semana passada o mundo acompanhou mais um capítulo da “armadilha” descrita pelo historiador grego. Até aqui, uma guerra de tarifas que decretou o fim, pelo menos temporário, da ordem mundial denominada globalização. Começou, de fato, com a China derrubando nas bolsas o império das bigtechs americanas, dias após a posse de Donald Trump. Enquanto o republicano se apresentava tonitruante, a DeepSeek (inteligência artificial chinesa) deu o primeiro golpe.
Depois, foram os anúncios de fusão nuclear, transmissão de dados dos satélites mais rápidos que os dos EUA. Trump subiu o tom com as suas tarifas. Nessa quinta feira (10), sem perder a pose, sentiu os golpes. A cada aumento que anunciara de tarifa, o oponente revidava. Perdendo aliados pela agressividade, Trump, que já ameaçou invadir a Groenlândia e anexar o Canadá, assiste à China estreitar relações com seus rivais: sentou-se com a Coreia do Sul e Japão, inimigos de guerras militares passadas, procurou a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) e a União Europeia. Lembrou a Trump que possui um trilhão de títulos da dívida norte-americana.
Como se não bastasse, lançou, na semana passada, um sistema para substituir o sistema swift. A ideia é compensar em sete segundos o que o swift demorava de três a sete dias. Duzentos países já sinalizaram com a adesão. Os chineses não fazem alarde. Não parece ser do feitio de Trump levar desaforo para casa. Por ora, adiou as tarifas para o resto do mundo, exceto para a China, ao mesmo tempo em que sinaliza estar aberto a negociar com Xi Jinping.
Mas, os chineses largam em vantagem. Se Trump e os EUA não encontrarem uma forma de reagir rapidamente, estarão diante do pior cenário: o rei estará nu em público. Até por isso, a próxima cartada de Trump precisará ser espetacular o suficiente para se sobrepor, ao mesmo tempo em que discreta o bastante para não afastar mais aliados. O desconforto cresce na Casa Branca e até seus aliados de primeira hora andam batendo boca em público.
Entretanto, para aqueles que acham que esse conflito está definido, vale lembrar que a China nunca se notabilizou no campo militar. Pode estar aí o calcanhar de Aquiles do gigante asiático. Ao contrário os EUA... Mas Trump vai pagar para ver?
País nascido fruto do primeiro conflito citado por Allison, o Brasil perdeu 15 oportunidades para entrar em lugar de destaque na história. Esta pode ser mais uma. Como diria o historiador grego: “Uma nação que separa a criação de seus guerreiros da criação dos seus estudiosos, terá pensamentos formulados por covardes e suas guerras travadas por imbecis”. A nossa história recente mostrou isso de forma cabal. Repetiremos?
São Tomé
Articuladores da candidatura do senador Rodrigo Pacheco (PSD) ao governo de Minas em 2026 carão reunião com deputados federais mineiros que apoiam a ideia para depois da Semana Santa. Pacheco vai participar do encontro. Até aqui, a reação tem sido a mesma: ficam entusiasmados com a notícia, mas avisam que antes de entrarem em campo, gostariam de ouvir do próprio Pacheco que será candidato.
Novo comando
O desembargador Júlio César Lorens assumirá a presidência do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) no próximo 13 de junho, sucedendo ao desembargador Ramom Tácio de Oliveira, que encerra o biênio à frente da instituição. A eleição (simbólica) utilizou urnas eletrônicas e foi realizada nessa quinta-feira. O desembargador Carlos Henrique Perpétuo Braga foi eleito vice-presidente e corregedor eleitoral. Ele comandará o tribunal a partir de junho de 2026, quando se encerrará o mandato de Júlio César Lorens.
Na Fiemg
Embora a direção nacional do PL queira o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) concorrendo à reeleição – como forma de puxar votos para a bancada da legenda – há quem defenda a chapa ao governo de Minas encabeçada pelo parlamentar por interlocutores da Fiemg, tendo por vice, Flávio Roscoe, presidente da entidade.
Verdes
Apesar do desconforto de verdes e desejo manifesto de não permanecer na federação PT/PcdoB/PV, a tendência é de que as legendas se mantenham federadas. Assim, sugeriu o presidente Lula (PT).
Pedágio
O conselheiro Agostinho Patrus, que já é o coordenador da Mesa de Conciliação criada no âmbito do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG), será o relator da representação feita pelos deputados estaduais Bella Gonçalves (Psol), Beatriz Cerqueira (PT) e Ulysses Gomes (PT), em nome do bloco de oposição na Assembleia (Democracia e Luta), pela suspensão da concessão do lote de rodovias estaduais no vetor Norte da capital mineira.
Conciliação
Após pressão popular, deputados da oposição e parlamentares da própria base do governo do Estado, Romeu Zema (Novo), anunciaram, nessa sexta-feira (11), que serão feitas adaptações no edital. O pedido de revisão do modelo de concessão também foi feito ao governador pelo presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB). A perspectiva é de que as alterações instituam a cobrança única às pessoas que transitam mais de uma vez por dia no mesmo trecho. Dada a natureza do caso, no TCE, é grande a probabilidade de que a abordagem seja feita pela Mesa de Conciliação, com o conselheiro Agostinho Patrus acompanhando junto ao governo do estado as alterações no edital de concessão, previsto para junho.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.