Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Uma combinação explosiva

Lula demorou a reagir para enfrentar a inflação de alimentos e ainda lida com a oposição de governadores

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A taxa de desemprego no Brasil subiu de 6,1%, no terceiro trimestre de 2024 – o menor de toda a série histórica do IBGE iniciada em 2012 - para 6,8% no primeiro trimestre de 2025, terminado em fevereiro. Apesar do crescimento – que segue padrão sazonal da Pnad contínua (IBGE) com a tendência de expansão da procura por trabalho nos primeiros meses de cada ano – esta segue como uma das taxas de desocupação mais baixas.

Ao final de 2019, por exemplo, primeiro ano do governo Bolsonaro, a taxa de desocupação no país foi de 11,8%. Ao mesmo tempo, o rendimento dos trabalhadores alcança, neste primeiro trimestre, o recorde da série: R$ 3.378,00. Igualmente, registra-se na Pnad deste trimestre o maior número de trabalhadores com carteira assinada: 39,6 milhões de pessoas. Há um quadro geral do emprego no país positivo em relação à evolução histórica.

Mas ao mesmo tempo em que numa ponta, os níveis de emprego e o rendimento aumentam; na outra, o brasileiro quando vai às compras, enfrenta uma realidade fática: a inflação de alimentos. Aquela mesma que nos Estados Unidos já impacta a popularidade de Donald Trump na alvorada de seu governo: a sua taxa de aprovação nas primeiras semanas é uma das mais baixas da história.

Adicionalmente, 64% dos americanos consideram que Trump não foca o seu governo o suficiente para reduzir preços; enquanto 55% avaliam que ele prioriza mais do que devia a taxação sobre produtos de outros países.

Segundo a mais recente pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, 88% dos brasileiros consideram que o preço dos alimentos nos mercados subiu no último mês; 70% dizem o mesmo em relação aos combustíveis; 65% notam aumento nas contas de água e de luz. O resumo da ópera: 81% avaliam que o seu poder de compra hoje é menor do que era há um ano; e sendo estes os números que de fato importam ao cidadão, 56% consideram que a economia do país piorou nos últimos 12 meses.

Enquanto o eleitor mediano espera de seus prefeitos soluções para os problemas da porta para fora de suas casas; ele também aguarda do governo nacional certo bem estar econômico. Lula demorou a reagir para enfrentar a inflação de alimentos e ainda lida, no âmbito dos grandes colégios eleitorais estaduais, com a oposição de governadores que se puderem irão boicotar as iniciativas para a redução de alíquotas.

Muito diferente da boa vontade que apresentaram em apoio a Bolsonaro, quando ele forçou, por meio de uma proposta de emenda constitucional, a derrubada das alíquotas de ICMS sobre combustíveis.

Empurrou assim a fatura para 2023, já que coube ao futuro governo a compensação de estados. Mas não apenas a inflação de alimentos afeta os índices de popularidade de Lula, que atravessa hoje o seu pior momento, com taxa de desaprovação de 56%.

A oposição – em particular a extrema direita - é orgânica em sua comunicação negativa sobre o governo; e na apresentação das narrativas e demonizações a um segmento do eleitorado fiel. Mas a depender da centralidade da temática, com o apoio dos algoritmos, algumas lideranças desse campo têm conseguido furar a bolha e ampliar o alcance de suas mensagens.

Se o ânimo do eleitorado já não é bom com a percepção de queda do poder de compra, há maior propensão a aceitar as notícias negativas, sejam verdadeiras ou não: 47% declaram interagir mais com notícias negativas do que positivas (23%) do governo Lula. Enquanto 44% recebem mais informações do governo federal pela televisão; 34% se informam mais pelas redes sociais. E aí está um ponto de atenção: xentre aqueles que se informam mais pelas redes, 60% recebem mais notícias negativas (contra 41% daqueles que se informam mais pela televisão).

Para além das cabeçadas entre ministérios, fogo amigo e tiros no pé de alguns integrantes do governo federal e no entorno de Lula, a economia no bolso das pessoas e a comunicação negativa predominante no meio ambiente informacional é combinação que derruba a popularidade do presidente neste momento. É possível reverter? Em política tudo é possível. Ainda mais estando no controle da máquina federal. Mas aqui o tempo é o pior adversário. Quanto mais se arrasta, a tendência é de que mais se deteriorem as condições políticas para a mudança.

Despedida


Josué Valadão, secretário municipal de Assistência Social e Direitos Humanos despediu-se da equipe nesta quarta-feira. O prefeito Álvaro Damião agradeceu-lhe a atuação à frente da pasta e explicou que pretende dar nova abordagem à área.


Vácuo


Maior liderança do PT mineiro, reeleita em primeiro turno, a prefeita de Contagem, Marília Campos, está em busca de alternativas para o campo progressista em Minas, nas eleições ao Palácio Tiradentes de 2026. “Existe uma aposta de que Rodrigo Pacheco venha e que o presidente Lula o convença a concorrer. Há possibilidade de ele aceitar”, afirma ela.

Na hipótese contrária, contudo, é preciso construir outras alternativas, diz ela, que embora cotada, quer concluir o segundo mandato à frente da prefeitura. “Sou prefeita, vou cumprir os quatro anos. E serei uma militante desse projeto de centro-esquerda no estado”, afirma ela.

Tempo


Marília Campos alerta para a importância de que a chapa majoritária de seu campo político seja formatada logo, considerando a construção política e eleitoral de uma candidatura leva tempo:

“E é isso que não temos mais: tempo”. A prefeita aguarda a posição de Pacheco ainda este mês, após o retorno do Japão. “Precisamos construir pontes com outras lideranças importantes”, afirma ela, assinalando que já procurou o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, que estava em viagem aos Estados Unidos. Deverá conversar com ele, agora que já retornou.


Anistia


O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) vai aderir ao ato da Paulista neste domingo, em defesa da anistia aos envolvidos na tentativa de golpe de estado, entre eles, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).


Ouvidoria day

“A Ouvidoria como Ferramenta de Participação Social” é o tema do evento que será realizado nesta quinta-feira, no Tribunal de Contas do Estado (TCE), em parceria com a Rede Ouvir. Entre os temas debatidos no evento estão o controle social; a transparência pública; a participação social; a comunicação; e a tecnologia. Serão também apresentados casos de ouvidorias consideradas como boas práticas. Apesar de a lei federal determinar a obrigatoriedade de que municípios instalem ouvidorias, em Minas, auditoria realizada em 2024 pelo TCE constatou que apenas 100 tinham ouvidoria."

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Salgado

Está em vigor, desde 31 de março, as novas taxas de cartórios, os emolumentos para a transferência de imóveis. A Lei 25.125 de 30/12/2024, aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada por Romeu Zema cria uma sobretaxa para imóveis acima de R$ 3,2 milhões.

Até esse valor, o preço da escritura pública sobe gradativamente até R$ 8,2 mil. Acima dos R$ 3,2 milhões, a cada R$ 500 mil será adicionada uma taxa extra de R$ 3 mil. Não apenas os imóveis de alto custo serão afetados, mas também a classe média e baixa, uma vez que para as construtoras e incorporadoras, o custo da compra e registro do imóvel irá aumentar.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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