

Ser ou não louco, uma questão de perspectiva
Trump já anunciou sobretaxação do aço em 2018 e 2019, flexibilizando após definir 25% sobre importações
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Os próximos 30 dias serão cruciais para que o Brasil e Minas Gerais conheçam com precisão o alcance da sobretaxação de 25% sobre as importações estadunidenses de aço.
Anunciada por Donald Trump a partir de 12 março, com uma menção genérica à taxação de qualquer aço que entre nos Estados Unidos, até lá é esperada a especificação: refere-se a todos os tipos de aços ou apenas aos semifaturados de aço (blocos de aço)?
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A avaliação é do economista Alexandre Brito, doutorando em Relações Internacionais, consultor e professor da PUC Minas, para quem Minas Gerais seria menos afetada do que o Brasil caso a taxação venha incidir apenas sobre os semifaturados.
“As exportações de aço de Minas para os Estados Unidos somaram US$ 496 milhões em 2024, representam 10% das exportações totais do estado com aquele país”, avalia o economista, que cita dados do Comex 2025, a plataforma de apuração do comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio.
Do volume total de aço exportado para os Estados Unidos, US$ 35 milhões, ou seja, 7% são produtos semiacabados, como lingotes e blocos. “Noventa e três por cento do aço fabricado em Minas tem maior valor agregado, vai para a indústria automotiva, fogões, geladeiras, enfim, outro tipo de indústria”, destaca Alexandre Brito. Por outro lado, o Brasil exportou nesse segmento, em 2024, US$ 2,8 bilhões.
Com a sobretaxação dos blocos de aço, as indústrias mais afetadas nesse segmento são aquelas instaladas no litoral, o que facilita a logística de exportação: a Arcellor Mittal, que tem usina no Ceará e no Espírito Santo; e a Ternium, controladora da Usiminas, em sua produção da Companhia Siderúrgica do Atlântico, no Rio de Janeiro.
“O impacto para o Brasil da sobretaxação do bloco de aço é bem maior do que será para Minas, pode levar a uma queda das exportações do segmento no país estimada entre 20% e 30%”, avalia o economista.
Não é a primeira vez que Donald Trump anuncia sobretaxação do aço. Em 2018 e em 2019, depois de definir a incidência de 25% de importações norte-americanas sobre o aço, negociou e flexibilizou com a definição de uma cota que autolimitaria as exportações, sobre a qual não incidiriam novas taxas. Brasil navegou nessa onda.
Contudo, desta vez, Trump dá sinais de que fará diferente. Em informe da Casa Branca “Adjusting imports of steel into the United States”, datado de 10 de fevereiro, afirma que essa negociação teria sido prejudicial ao seu país, pois, segundo ele, entre 2022 e 2024, Argentina, Brasil e Coreia do Sul teriam aumentado as exportações em aproximadamente 1,5 milhão de toneladas, mesmo tendo a demanda americana declinado em 6,1 milhões de toneladas.
“Assim determinei que as importações de artigos de aço desses países prejudicam a segurança nacional e decidi ser necessário encerrar aqueles acordos a partir de 12 de março. A partir dessa data, todas as importações de artigos de aço derivadas da Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, União Europeia, Japão, México, Coreia do Sul e Reino Unido estarão sujeitas à tarifa adicional (...)”.
Ao refletir sobre a natureza do poder e a arte de governar, Nicolau Maquiavel (1469-1527), em seus “Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio”, argumentou: “Muitas vezes coisa sábia é simular a loucura”. Na ciência política, foi chamada de “madmen theory”, com frequência em referência à política externa de Richard Nixon (1969-1974), que, no auge da Guerra Fria, difundia a tese da coerção pela percepção da loucura e a imprevisibilidade das ações: vindas de uma liderança irracional, as ameaças suicidas de detonar o botão nuclear soariam críveis.
Contudo, estudiosos são céticos em relação à efetividade dessa teoria. Se por um lado em algum momento pode trazer vantagens competitivas na negociação; por outro, há um rol de desvantagens. A começar pelo fato de não ser simples fazer com que os outros creiam que interagem com um verdadeiro louco.
Caso assim creiam, é conhecida a incapacidade de um louco em garantir acordos, mesmo quando o interlocutor cede às suas demandas: a loucura anula qualquer confiança para a negociação. Em contrapartida, como tentativa de evitar ações imprevisíveis, interlocutores podem se antecipar aos loucos em reações não desejadas no jogo da racionalidade e da política.
A insolvência
Em estudo encomendado à área técnica da Assembleia Legislativa, o deputado estadual professor Cleiton (PV) comparou impactos do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), alternativa adotada pelo governo de Minas com o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag).
As projeções utilizaram o valor da dívida com a União de R$ 159,6 bilhões e de R$ 20,68 bilhões com outras instituições financeiras, constante do Demonstrativo da Dívida Consolidada Líquida do Relatório de Gestão Fiscal de 31 de dezembro de 2024. “Pelo RRF, em 2033 a dívida será da ordem de R$ 233,3 bilhões, com o pagamento anual de R$ 21 bilhões de juros e amortização. Seria a insolvência, iria falir o estado”, afirma o parlamentar.
RRF ou Propag?
O Propag prevê várias condições para o refinanciamento da dívida dos estados. O estudo avalia três possibilidades, inclusive a condição considerada mais vantajosa para o estado: aquela em que a hipótese da cobrança de juros é substituída por amortização com federalização de ativos e aporte ao Fundo de Equalização Federativa. A simulação atribui à Codemig o valor de R$ 59 bilhões. Pelo Propag, em 2033 a dívida de Minas seria de R$ 108,34 bilhões e o estado estaria pagando R$ 6,9 bilhões em juros e amortizações.
2051
Pelo Propag, a simulação do estudo indica que, em 2051, a dívida de Minas com a União seria de R$ 28,55 bilhões. Pelo RRF, R$ 42,7 bilhões. Ao mesmo tempo, neste 2025, RRF e Propag representam desembolsos semelhantes do estado à União: “Pelo Propag, o estado pagará R$ 5,3 bilhões e pelo RRF, R$ 5,1 bilhões”.
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No BID
Nos passos da ministra do Planejamento Simone Tebet, para quem “mulher tem de ocupar espaços de fala, de ação e de transformação”, Renata Vargas Amaral, secretária de Assuntos Internacionais e Desenvolvimento do Ministério do Planejamento, será primeira mulher a assumir a vice-presidência de Países e Integração Regional. Doutora em direito econômico e comércio internacional, retornou ao Brasil em janeiro de 2023 a convite de Simone Tebet. De malas prontas para Washington DC, além do BID retomará a sua atividade acadêmica como professora na American University Washington College of Law.
O Guarani
Convidado para integrar o conselho editorial do Theatro Municipal de São Paulo, Ailton Krenak, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e da Academia Mineira de Letras (AML) está na capital paulista acompanhando o ensaio geral e a abertura da reapresentação da ópera “O Guarani”, que estará em cartaz entre os dias 15 e 25 de fevereiro.
Adaptada do romance de José de Alencar, foi composta por Carlos Gomes com a concepção geral da montagem idealizada por Ailton Krenak. Foi vencedora do prêmio Ópera XXI de melhor produção de ópera latino-americana. Marco do romantismo, a obra narra, no contexto da colonização portuguesa e os conflitos entre tribos, o romance entre a jovem nobre Cecília (Ceci) e Peri, indígena guarani.
“É uma releitura”, afirma Krenak, em referência à abordagem contemporânea sobre identidade, cultura indígena e as questões históricas que se desdobram da colonização. A ópera tem intervenções com um coral guarani e a dupla Ceci e Peri performada por indígenas que atuam em torno dos cantores.
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Cortesia
O prefeito em exercício, Álvaro Damião (União), fez visita de cortesia ao presidente da Assembleia de Minas Gerais, Tadeu Martins Leite (MDB). Foi acompanhado do deputado estadual João Vítor Xavier (Cidadania).