Prevenção e cura da exploração, abuso e violência sexual infantil
Não importa se a menina tem 9, 10, 11, 12 anos, e se seu corpo não está preparado para gestar
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Era tanta coisa na cabeça, tantas preocupações, tantas ideias, tantos projetos, tantas histórias difíceis de engolir que um dia meu corpo pediu socorro A cabeça cheia explodiu em uma enxaqueca que me fez passar a quarta-feira na cama, dormindo, sem forças nem para abrir os olhos. Uma soma de estresse de fim de ano e a preocupação com o fim do mundo.
A minha escolha profissional de atender mulheres acabou me aproximando de dores que não são minhas, divórcios sofridos, litígios violentos, relacionamentos abusivos, mulheres pedindo medida protetiva contra os pais dos seus filhos, crianças sofrendo abusos psicológicos, físicos e sexuais.
Aprendi a não deixar a dor delas me invadir, a usar minha voz para quem não tem voz. Mas os números aparecem e me deixam com a sensação de impotência diante de tantos absurdos.
Mais de 34 mil crianças e adolescentes de até 14 anos vivem em união conjugal no Brasil, mesmo que a idade núbil, ou seja, a idade permitida para o casamento seja de 16 anos. Dessas 34 mil crianças e adolescentes em união conjugal, 77% são meninas. Casamento infantil é um tipo de violência de gênero que leva à gravidez precoce, à evasão escolar e à dependência finaneira.
Enquanto meninas engravidam depois de serem estupradas, ainda querem revitimizá-las; o estuprador não aparece nas estatísticas, as meninas violentadas, sim. E são elas, já vitimadas, que ainda correm o risco de perder o direito de interromper a gestação, como prevê uma lei de 1940.
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No país dos homens, meninas que sofrem violência sexual e engravidam são tratadas como incubadoras: levem a gravidez adiante e entreguem o bebê para a adoção, eles dizem. Não importa se a menina tem 9, 10, 11, 12 anos, e se seu corpo não está preparado para gestar.
O Dia Mundial para a Prevenção e Cura da Exploração, Abuso e Violência Sexual Infantil é lembrado em 18 de novembro. A data reforça a importância da proteção integral da infância e o papel de toda a sociedade na prevenção de qualquer forma de violência.
É preciso lembrar que quem não está do lado das crianças e adolescentes está do lado dos abusadores. No Brasil, seis meninas são estupradas por hora, 144 por dia. Falamos das vítimas, mas não falamos dos estupradores. Se, a cada hora, seis meninas são estupradas, a cada hora seis estupradores estupram meninas.
Vocês conhecem o ChildFund? Essa organização tem quase 60 anos de atuação no Brasil, desenvolve programas e projetos voltados à prevenção da violência e do abuso sexual infantil, com iniciativas que educam crianças e adolescentes sobre o próprio corpo, limites de contato e formas seguras de denunciar situações de risco. O trabalho da organização também alcança pais, mães, educadores e comunidades, fortalecendo redes de cuidado e proteção.
Nos últimos anos, a organização tem voltado atenção especial à proteção digital, diante do crescimento do acesso à internet entre crianças e adolescentes e da exposição a riscos cada vez mais precoces. A pesquisa Mapeamento dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet, realizada pela instituição com mais de 8,5 mil adolescentes de todo o país, entre 13 e 18 anos, revelou dados alarmantes, sendo que 54% dos adolescentes já sofreram algum tipo de violência sexual on-line, o equivalente a cerca de 9,2 milhões de jovens brasileiros.
O levantamento mostra ainda que 94% dos adolescentes não sabem como agir diante de uma situação de violência digital, o que contribui para a subnotificação dos casos. E você, sabe como agir nessas situações? “É preciso uma aldeia para criar uma criança”, diz o provérbio. Sejamos essa aldeia, para que o futuro seja melhor que o presente.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
