Bebel Soares
Bebel Soares
PADECENDO

A Justiça foi muito rápida para tirar minha filha de mim

Agora, com todas as provas a meu favor, a Justiça é muito lenta

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Abro a câmera e lá está ela, em Natal (RN), pronta para mais uma sessão. As lágrimas escorrem pelo rosto, ela tenta secá-las, mas os olhos insistem em continuar derramando-as. A dor da mãe que perdeu a guarda da filha e não suporta o peso da injustiça.

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Bebel, a pior coisa do mundo é ser acusada de uma coisa que você não fez.

Eu me seguro para não chorar junto. Estou aqui no lugar de profissional, mas a empatia faz parte. A dor de só poder ver a menina durante uma hora e meia em sábados alternados, com a supervisão de alguém da família do genitor. A dor da falta que a filha faz. A dor do medo do que a menina pode estar passando na casa do pai. A dor da raiva, da mentira, da injustiça. A dor de ver a filha com um olhar triste, lábios trêmulos, um quadro de sudorese intensa nas mãos, e não poder fazer nada.

A menina nasceu prematura extrema, pesava menos de um quilo. A gravidez foi turbulenta, o marido não queria filhos, ela ficou grávida, escondeu durante quatro meses com medo da reação. Semanas depois ela teve eclampsia, foi levada para o hospital desacordada, a menina nasceu. Ela perdeu muito sangue. A bebê passou 90 dias internada e a mãe ali, todos os dias. O pai ia de visita. Quando a criança tinha 2 anos, os pais se separaram, a menina ficou com a mãe, a pensão alimentícia foi estabelecida, assim como as idas à casa do pai. A menina apresentou um quadro sintomático de sinéquia vulvar.

Segundo Fernanda Ghilardi Leão, coordenadora da Cirurgia Pediátrica do Sabará Hospital infantil, “a sinéquia é a aderência entre tecidos, e a sinéquia vulvar significa a ocorrência de aderência entre os pequenos lábios vulvares, que ocorre na menina entre 3 meses e 10 anos. Nos casos assintomáticos, a sinéquia é um quadro que se resolve espontaneamente com a estrogenização dos tecidos no início da puberdade.

Quando sintomático, devem ser realizadas medidas de higiene local para diminuir os fatores irritantes, além do uso de cremes que facilitem o descolamento da sinéquia. As aderências mais densas e as recorrências, quando sintomáticas, podem demandar tratamento cirúrgico com lise (separação) da aderência sob anestesia geral. Mais importante do que a abertura da aderência entre os pequenos lábios vulvares, é a manutenção dos cuidados locais para que não ocorra nova aderência, pois o risco de recidiva é alto.

Dessa forma, devem ser utilizados lubrificantes locais como vaselina tópica ou até pomadas que protegem contra assaduras durante um longo período, até a completa epitelização (cicatrização) da área que foi descolada”.

A menina precisou passar pelo tratamento cirúrgico e também foi necessário o uso de pomadas. A mãe manteve os cuidados de acordo com orientação médica. A gente sempre deve ensinar para as crianças que adulto não deve tocar nas partes íntimas, e, se alguém tiver que tocar por qualquer motivo, deve ser a mamãe, e foi isso, a mãe cuidadosa fazia a higienização necessária.

Oito anos se passaram e o genitor usou o cuidado da mãe contra ela, acusando-a de abuso sexual para deixar de pagar a pensão. O conselheiro tutelar não foi capaz de averiguar a história, de enviar um assistente social até a casa onde ela vivia com a mãe para averiguar a situação, nada. A mãe foi chamada na delegacia, não se preocupou com o ocorrido, afinal não havia feito nada de errado. Semanas depois batem na porta da casa dela e levam a menina, assim, sem mais delongas.

A Justiça foi muito rápida para tirar minha filha de mim, e agora, com todas as provas a meu favor, ela é muito lenta.

O pai, depois que ficou com a guarda da menina, não a levou mais nas sessões de terapia que já haviam sido pagas pela mãe e, no meio deste semestre, na semana de provas, tirou a filha da escola particular e a matriculou em uma escola pública. Esse é apenas o capítulo inicial da história de uma mãe que se sente impotente diante de um Judiciário machista.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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