
Suicídio e a necessidade de políticas públicas
Em 10 anos, o país registrou aumento de 114% nos casos de suicídio entre adolescentes de 14 anos
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A Sociedade Brasileira de Pediatria, (SBP) fez um levantamento que mostrou que cerca de mil adolescentes perdem a vida por suicídio a cada ano no Brasil. O suicídio é uma consequência de um processo de sofrimento psíquico e seus efeitos vão muito além da esfera íntima.
Segundo o relatório Técnico “Adolescência e suicídio: um problema de saúde pública, entre os anos 2000 e 2022", em média, 4,02% das mortes entre pessoas de 10 a 29 anos foram por suicídio, enquanto no grupo acima de 30 anos ele foi causa de 0,68% das mortes. Entre jovens adultos a taxa é de 4,21% e entre adolescentes é de 3,63%.
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No Setembro Amarelo, especialistas em terapia comportamental dialética (DBT) alertam que o adoecimento mental não tratado já representa um risco para a economia brasileira, com afastamentos crescentes, aposentadorias precoces e impactos diretos na produtividade.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a depressão é hoje a principal causa de incapacidade no mundo. No Brasil, dados do Ministério da Previdência mostram que transtornos mentais e comportamentais já figuram entre os três principais motivos de afastamento de trabalhadores pelo INSS. O cenário é ainda mais preocupante quando se olha para os jovens: em 10 anos, o país registrou aumento de 114% nos casos de suicídio entre adolescentes de 14 anos.
“Se não houver investimento sério em prevenção, vamos enfrentar em 10 ou 15 anos uma crise dupla: de saúde pública e de previdência. Uma geração inteira pode chegar à idade adulta incapacitada para o trabalho. Isso significa quebrar não só vidas, mas também a sustentabilidade do sistema econômico”, afirma o psicólogo Vinícius Dornelles, mestre em cognição humana e especialista em DBT.
A psicóloga Êdela Nicoletti, também especialista em DBT e em transtorno de estresse pós-traumático, reforça que a prevenção não pode se restringir a campanhas simbólicas. “É preciso entender que o impacto da saúde mental vai além do indivíduo. Quando alguém adoece, uma família inteira sofre, uma empresa perde produtividade, uma comunidade perde força. Setembro Amarelo só terá efeito real se trouxer a discussão para políticas públicas e ações consistentes dentro das instituições”, alerta.
Além de estratégias clínicas como a DBT, que ensina habilidades de regulação emocional, validação e enfrentamento de crises, a resposta passa por fatores estruturais: combate à violência, distribuição de renda, acesso universal à saúde e programas educativos.
“Não existe falar de suicídio sem falar de desigualdade social. A maior parte dos casos ocorre em países em desenvolvimento e em populações vulneráveis. Se continuarmos tratando o tema apenas como tabu ou marketing, vamos pagar um preço alto em vidas e em economia”, conclui Dornelles.
A saúde mental precisa ser levada a sério. Infelizmente, muita gente acha que procurar ajuda psicológica é coisa de gente doida. Não é. Meme falando em fugir do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) não é engraçado e só reforça o estigma. Deboche e cuidado com a saúde mental não combinam! Os CAPS estão aí para ajudar as pessoas que precisam, o que precisamos é da expansão e divulgação desses centros e não de ridicularização de quem procura tratamento. Se você está sentindo angústia, uma tristeza que não acaba, depressão, procure ajuda profissional, você não está só!
Serviço
Onde buscar ajuda
- Brasil: CVV – 188 (24h, gratuito); chat e e-mail em cvv.org.br.
- Emergência: SAMU 192 ou procure a UPA/Hospital mais próximo.
- Rede pública: UBS do bairro ou um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).
- Para familiares e amigos: se houver risco imediato, não deixe a pessoa sozinha e busque atendimento.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.