
Masculinidade em crise
A masculinidade não precisa permanecer em crise, basta aceitar que somos humanos, somos diferentes, mas temos direitos iguais
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A masculinidade está em crise e isso está cada vez mais evidente. Quando são tirados do seu papel tradicional, aquele que os distancia de tudo o que é considerado feminino, eles não se sustentam, se perdem. Inseguros, homens tentam se encontrar dentro dos antigos papéis de gênero, onde o homem precisa ser viril. Se atrapalham tentando manter o status quo, os papéis de gênero tradicionais que associam as mulheres à casa e às tarefas domésticas e o trabalho de cuidado, e os homens ao espaço público e ao trabalho remunerado.
Os papéis de gênero tradicionais estão sendo alterados muito lentamente, porque tem muita gente que não gosta dessas mudanças e faz de tudo para que elas não aconteçam. Homens buscam se distanciar ao máximo de tudo que consideram feminino como se fosse necessário ter um útero para lavar a louça, limpar a casa e cuidar da família.
A feminilidade é vista como fraqueza e, cada vez que avançamos um pouco em relação à equidade entre homens e mulheres, os homens ficam mais agressivos, buscando colocar as mulheres de volta no lugar de submissão, dentro daquele padrão de hierarquia da sociedade patriarcal. Homens que só reconhecem seu próprio valor se sua palavra tiver um peso maior. Consideram o masculino um símbolo de força e não conseguem lidar com mulheres fortes, se sentem acuados, tentam se mostrar mais poderosos, mais inteligentes e mais capazes. E quando não conseguem, partem para a violência. Isso se reflete no aumento de casos de feminicídio, por exemplo.
Na tentativa desesperada de se afastar do que consideram feminino, hoje tem homem que acha que tomar banho e ficar cheiroso faz a masculinidade escorrer pelo ralo. Recebi relatos de profissionais da saúde que atendem homens que chegam com um mau cheiro daquele que contamina todo o ambiente. E se esse tipo de homem vê outro de banho tomado, já questiona sua sexualidade. Para ele, homem limpo só pode ser homossexual.
Essa questão de higiene pode ser comprovada com dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que mostram que, a cada semana, nove homens têm o pênis amputado no Brasil em decorrência de câncer. Sendo que esses casos poderiam ter sido evitados com medidas simples, higiene íntima e tratamento da fimose. Esse mesmo sujeito que perde o pênis por falta de higiene, é o cara que exige das mulheres que estejam cheirosas e depiladas para ele.
Essa velha masculinidade ainda vê as mulheres como um ser humano de segunda classe, que está habitando este planeta para servi-lo e, quando não o faz, quando quer ter os mesmos direitos, quando se recusa a se submeter, merece ser agredida, merece morrer. Reclamam das feministas como se feministas odiassem homens e quisessem exterminá-los, mas o feminismo só existe porque os homens nos oprimem, são os homens que odeiam as mulheres e não o contrário.
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Mulheres são mortas pelo ex, pelo atual, pelo pai dos filhos dela, homens são mortos por outros homens. São dados, é uma realidade. Sim, existe o contrário, mas são exceções à regra.
A masculinidade não precisa permanecer em crise, basta aceitar que somos humanos, somos diferentes, mas temos direitos iguais. Masculinidade não tem nada a ver com força. Um homem pode perder o pênis por falta de higiene, mas fazer trabalho de cuidado não surtirá o mesmo efeito, eu garanto, você não vai ser menos homem se tratar seus filhos com afeto, abraçando e beijando. Você não vai ser menos homem se cuidar da sua casa, da sua família, se lavar a roupa e a louça.
Violentar mulheres não te faz homem, só demonstra fraqueza e covardia. Não querer mulheres dividindo o mesmo espaço que você na vida, no trabalho, na política, em todos os espaços, só te torna um covarde. Como disse Gabriela Priolli: "A masculinidade forte é uma masculinidade segura, que não violenta o outro, que não agride o outro, porque sabe quem é, então tem respeito nas relações".
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.