A civilidade está em declínio? O ghosting indica que sim...
A forma mais perturbadora de regressão social vem se disseminando, especialmente no ambiente de trabalho, e afeta os jovens
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Antes visto como covardia, o ghosting se tornou rotina em ambientes de trabalho e nos relacionamentos. Para quem não sabe, ghosting é quando uma pessoa corta toda a comunicação com outra, sem dar qualquer explicação. A prática se tornou mais frequente com o uso de aplicativos e redes sociais. É uma forma de evitar conversas difíceis e pode trazer grande tristeza para a vítima.
O distanciamento dos relacionamentos presenciais, por causa do uso excessivo de redes sociais, está levando as pessoas a perderem a educação. Já não se diz “por favor” ou “obrigado”. Usa-se smartphone no viva-voz em público, carrinhos de compras ficam espalhados em estacionamentos. As pessoas interrompem conversas e navegam nas redes sociais durante reuniões, ignorando os interlocutores.
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O ghosting se destaca como a forma mais perturbadora de regressão social, especialmente no ambiente de trabalho. Isso se tornou comum, principalmente entre os millennials e a Geração Z. A mensagem silenciosa é simples: “Me deixe em paz. Não tenho interesse em continuar com isso.”
Trata-se de uma espécie de zona de conforto. Em vez de trabalhar para construir autoconfiança, aprimorar habilidades sociais e superar a ansiedade, o novo “mandamento” é: o mundo deve se adaptar a meus problemas.
Na verdade, o ghosting permite que as pessoas evitem os próprios problemas, transferindo a responsabilidade para os outros.
No início dos anos 2000, a internet e as redes sociais começaram a monopolizar nossa atenção. O que antes era objetivo nobre, como contribuir para a comunidade, a responsabilidade cívica e as boas maneiras, transformou-se em imperativos morais definidos pela política e pela identidade. Em vez de buscarmos pontos em comum, somos levados a nos concentrar em mágoas passadas. O resultado é uma era de ofensas.
Hoje em dia, expressar-se exige cautela extrema para evitar ferir a sensibilidade de alguém. Muitos incentivam o afastamento de “pessoas tóxicas”. Isso pode ser saudável, mas quando se torna regra absoluta, corrói laços familiares e amizades, minando o espírito de equipe e as conexões cívicas em geral.
Vivemos em uma democracia, apesar de muitos terem se esquecido disso. A democracia protege a liberdade de expressão, mesmo quando essa expressão é o silêncio ou a grosseria. A vida digital facilita o ghosting. Em segundos, podemos passar da total acessibilidade ao silêncio absoluto sem consequências. A sensação de ter direitos nos cega para o fato de que esse comportamento dói mais porque desperta o desejo fundamental de uma pessoa de pertencer e ser amada.
Ignorar alguém é cruel? Sem dúvida. A Oração da Serenidade diz: aceite o que não pode mudar, mude o que pode e saiba a diferença.
Em sua essência, ghosting tem a ver com controle. Ao “desaparecer”, a pessoa elimina a chance de o outro influenciar sua decisão. Quem pratica ghosting vê o silêncio como escudo. O ghosting não reflete progresso, mas, sim, o declínio da civilidade.
* Isabela Teixeira da Costa/Interina
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
