Anna Marina
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ANNA MARINA

Outros tempos 

Hoje quase tudo é diagnosticado como transtorno, sem um diagnóstico amplo de uma estrutura clínica

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Já repararam que, hoje em dia, quase não se diz mais que uma criança é tímida, retraída, quieta? Nem criança extrovertida, cheia de energia, sociável? Sou a filha caçula de quatro irmãos. A diferença entre meu irmão mais velho e eu é de 10 anos, e entre minha irmã e eu, de três.

 


Hoje não é uma diferença grande, mas, quando éramos pequenas, parecia uma década, até porque nossos interesses eram diferentes. Ela sempre gostou de ler – aprendeu sozinha lendo o jornal Estado de Minas –, e eu sempre gostei de bonecas. Passava horas no meu quarto, brincando com as minhas Suzies e depois Barbies, sozinha.

 

Minha filha é filha única e também brincava sozinha por longos períodos. Afinal, não tinha irmãos e eram poucas as meninas no prédio. E ela sempre foi mais tímida e quieta. Brincava de boneca, como eu. Se fosse criança hoje, com certeza teria sido diagnosticada com síndrome do espectro autista. Mas não tem nada disso, simplesmente é uma pessoa “mais na dela”.

 


Hoje é pouco realizado um diagnóstico amplo de uma estrutura clínica. Quase tudo é diagnosticado como transtorno. Com as mudanças ocorridas ao longo dos tempos, o conceito de autismo que a psicologia americana fez, e o DSM 5/6, que é o manual de doença mental, mudou o autismo, que antes era uma estrutura de um problema grave, e transformou em espectro autista. Então, muitos que têm uma certa timidez e dificuldade de socializar são considerados como integrantes deste espectro.


O transtorno autista, hoje em dia, por exemplo, é identificado com um colar e uma carteirinha para identificação própria e tem acesso a lugares reservados. Que fique claro aqui que não tenho absolutamente nada contra isso, por sinal, acho que demoraram muito a olhar por eles.

 


Por outro lado, se a pessoa é mais agitada, com muita energia, quase sempre agora se diz que ela tem TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Não existe mais a criança levada, peralta, extrovertida. Muitas vezes acontece uma generalização: está agitada, tem TDAH, e isso virou um transtorno a ser medicado.


Qualquer pessoa que tiver um problema emocional em família, no casamento, com amigos, financeiro, enfim, qualquer problema, fica agitada, dispersa, é natural essa reação e não significa necessariamente que tenha TDAH. Mas não, algumas vezes na primeira consulta, sem nem procurarem saber pelo que a pessoa está passando e como ela era antes, já fecham o diagnóstico de TDAH.

 


Quem assim o faz desconsidera que, às vezes, essa dispersão é situacional, por causa de uma circunstância que a pessoa esteja passando. Por conflito familiar. Por exemplo: o pai bebe, a mãe é submissa, a criança fica preocupada e fica tomando conta da mãe e do pai. Ela deixa de ser a criança que vai brincar porque está em segurança e começa a ser responsável pelos pais. Neste caso específico, o que há é um excesso de preocupação que a criança não deveria ter no seu processo educativo.


E se um filho é diagnosticado com TDAH, os pais levam no neurologista infantil, depois no psiquiatra infantil, depois no psicólogo comportamental cognitivo, depois no terapeuta ocupacional, depois no fonoaudiólogo…


Sou mais das antigas, que, quando um filho tinha algum problema, era levado ao psicanalista, que fazia o diagnóstico depois de algumas sessões e tratava e, se precisasse, medicava. Eram outros tempos. (Isabela Teixeira da Costa / Interina)

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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