Anna Marina
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LIVROS

A emocionante jornada de Henry Katina

Autor de 'Passagem para a liberdade – Relato de um sobrevivente do Holocausto' narra experiências traumatizantes que a realidade parece não conseguir abarcar

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Ao ler tudo que me cai nas mãos, fico impressionada com a movimentação dos personagens dos livros. Pessoas saem da cadeia ou de campos de concentração e aproveitam a liberdade para dar voltas ao mundo. Só as viagens são narradas, os autores não se preocupam em revelar de onde vem o dinheiro para tantas jornadas. Parece que todos têm um cartão que facilita tudo, ninguém precisa pagar trem, ônibus, navio ou avião para alcançar seu destino final.

Devo ser uma leitora diferente, porque penso sempre de onde vêm os meios para tantas viagens. Grande tolice a minha, porque se a história tem conteúdo, ninguém se preocupa em saber como os personagens conseguem se virar sem um tostão no bolso.

Certo é que os livros de que mais gosto contam histórias de perda e dor, tendo como cenário campos de concentração, prisões, a Segunda Guerra Mundial. Tema que me comove muito são as penas impostas aos judeus.

Tenho interesse grande na acusação que Jesus recebeu – assunto que, de certa forma, vem atravessando os séculos. Por mais que a cultura mundial se modernize, judeus sempre levam a culpa, racionalizada ou não.

Em um dos últimos livros que li, “Passagem para a liberdade – Relato de um sobrevivente do Holocausto”, de Henry Katina, o autor dá o testemunho de duas finalidades fundamentais e de igual importância. Ele narra o inenarrável, experiências traumatizantes que a realidade parece não conseguir abarcar, num exercício de tornar coerentes os acontecimentos passados.

Katina também registra vozes periféricas ou dissidentes, preservando diferentes perspectivas do passado e impedindo-lhes o desaparecimento.

Ao se equilibrar entre as realizações afetivas e profissionais, Henry Katina (1931-2024), nascido em Halmeu, na Romênia, construiu nova família e compartilhou sua vida com a comunidade brasileira. Participou do desenvolvimento da construção civil e da indústria mineira, além da criação da escola judaica de Belo Horizonte, cidade onde se radicou em 1957.

Inventor das pastas-arquivo, ele importou máquinas tipográficas e a tecnologia do coalho para o Brasil.

Katina fez da construção de sua vida um exemplo. Depois de se ver separado da mãe, naquele mesmo dia, na hora do banho, o menino de 13 anos ouviu gritos, sentiu um cheiro estranho e presenciou labaredas de fogo saindo de fogueiras do crematório de Auschwitz.

“Notamos, com espanto, que não muito distante, à nossa frente, depois da cerca de arame farpado, havia três ou quatro chaminés, soltando labaredas grandes e altas. À esquerda, também ao longe, havia grandes fogueiras e gritaria. Eu não imaginava o que seria aquilo, mas o cheiro era esquisito e fiquei apreensivo com o que vi e ouvi”, narra ele em “Passagem para a liberdade”.

Com a aproximação do Exército Vermelho, em fevereiro de 1945 ocorreu o esvaziamento do campo de Ehrlenbusch, na Polônia, e a marcha forçada dos prisioneiros dos nazistas em direção à Alemanha, período que o autor descreve como os 60 piores dias de sua vida.

Chegavam a caminhar 27 quilômetros diariamente, quando já não tinham forças nem saúde, tampouco nenhum tipo de alimentação. “Aqueles que ficavam para trás por cansaço, ferimentos ou doenças eram mortos no caminho”, nos conta Katina em “Passagem para a liberdade”.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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