Anna Marina
Anna Marina
DIA DAS MÃES

Minha missão de filha foi bem cumprida

Nesta véspera do Dia das Mães, lembro-me das viagens que fizemos, dos almoços domingueiros no Alpinos e de sua paixão pela leitura, que herdei

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Acredito que fui boa filha e, na véspera deste Dia das Mães, não tenho a menor vergonha ou dúvida de dizer isso. Sou das últimas entre os nove filhos que formavam minha família. Tudo começou com uma penação, quando me casei sem me vestir de noiva e sem entrar na igreja para receber a bênção religiosa. Meu marido era divorciado e a Igreja não aceitava a nova ligação.

Com o correr do tempo, meu marido se transformou no genro predileto de minha mãe, tomei conhecimento disso ao encontrar um caderno em que ela relatou tudo o que sentiu ao ser levada por nós a conhecer a Europa. Um dos sonhos de sua vida.

Meu marido fez o possível para montar o trajeto que cobria os sonhos de minha mãe, formados a partir dos livros que lia.

A história começou com a série de quadros de mulheres que ela pintou para encher as tardes sem família, pois todas as filhas estavam casadas. Certo dia, um amigo foi me procurar. Eu não estava mais em casa, mas ela estava – pintando. Ele gostou e comprou todos os quadros.

Com a grana que recebeu, ela acreditou que se tivesse companhia poderia passar uns dias na Europa. Como estávamos de viagem marcada, ela viajou conosco.

Fomos a várias cidades e locais, como a Ilha de Capri, que ela conhecia de ler o livro sobre San Michele. E onde, por pura emoção, deu nela uma dor de barriga terrível, resolvida exatamente na casa que queria conhecer, do médico e personagem do livro que lia e relia vezes sem conta.

Gostou principalmente de Portugal, das simpáticas pousadas do interior, algumas muito simples; outras, puro castelo. Não entendia como eu e meu marido perdíamos tempo dormindo depois do almoço para descansar. Se a cidade era pequena, aproveitava para rodar sozinha. Não queria perder tempo, tratava de conhecer o mais que podia da região.

Foi educada em Santa Luzia, no grupo escolar. Sua grande cultura geral veio das leituras: lia muito, tudo o que lhe caía nas mãos. Estimulada a contar o que sabia, acabou escrevendo um livro sobre a cidade, relatando “cousas e lousas”. Este livro fez muito sucesso entre os conhecidos, porque, no contato pessoal, ninguém consegue passar adiante todas as informações sobre as cidades que conhece. Deu o título de “Rua Direita”, alusivo a Santa Luzia.

Eu passava para ela todos os livros que recebia ou comprava. E gostava de escutar sua definição do que tinha lido – ela guardava tudo.

Morou muito tempo sozinha, não queria morar com ninguém, porque tinha criado seu modo pessoal de viver e não queria incomodar. Criei o hábito de levá-la comigo onde íamos almoçar aos domingos e a um ou outro fim de semana fora da cidade. Íamos onde ela gostava.

Nos tempos em que o restaurante Alpino era o ponto certo, ela perguntava sempre se poderia pedir uma salada e o prato da casa – tudo muito farto, não sei como conseguia.

Certa época, foi passar uma temporada em Belém do Pará com uma das filhas. Encantou-se com a região, ia sempre à beira do rio (Amazonas) para ver as águas. Voltou de lá com uma pequena tartaruga, que, solta no quintal da casa de BH, acabou sumindo.

Como a vida nos prega muitas peças, eu estava de férias fora do país quando ela se foi. Calmamente, internada por minhas irmãs em uma casa de saúde. Para mim ficou a obrigação de colocar em sua sepultura um lírio branco, sobre o mármore. E de me lembrar sempre da mãe que ela foi.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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