
Família é tudo, como provam os encontros da Semana Santa em Santa Luzia
A graça é que até a terceira geração quer participar. Ano passado, levei comigo um sobrinho-neto que veio de Brasília
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Como ainda estou cadeirante, não vou hoje a Santa Luzia cumprir a tradição de cobrir de flores o caixão que levará o Cristo morto na Procissão do Enterro.
Não consigo superar a dificuldade de usar cadeira de rodas para me locomover. Mas vou acompanhar toda a liturgia, para estar, pelo menos em espírito, presente a uma das procissões mais bonitas da Semana Santa.Eu sou fiel seguidora dessas celebrações, porque elas revelam o lado cristão dos amigos.
Quando a minha prima Naná Gabrich estava neste mundo, subíamos a pé toda a Rua Direita – ela levando, dobrado no braço, o lençol de linho que mandava fazer todos os anos para colocar dentro do caixão. Na sacristia da matriz, completávamos a tradição, cobrindo o caixão de Cristo com as flores que ela trazia de sua fazenda.
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Naná se foi, mas eu continuei seguindo o programa. Chegava cedo na casa de minha prima Beata Teixeira da Costa para almoçar bacalhau, preparado numa panela imensa. O almoço é tradição da família, e quem passa pela porta da casa – sempre aberta – entra para filar a refeição. Tanta e tão farta que eu ainda conseguia trazer um pouco para casa.
O almoço era ótimo, porque os primos estavam presentes e dava para rever todos eles, conhecendo os mais novos e confraternizando com os mais velhos.
A família é muito unida. Apesar de atualmente ter os membros dispersos, consegue fazer, todos os anos, uma festa à qual todos os parentes comparecem. A graça é que até a terceira geração quer participar. Ano passado, levei comigo um sobrinho-neto que veio de Brasília para ir ao almoço.
Como é festa familiar, tem duas tradições: muita comida e muita bebida. A reunião começa com o farto café da manhã, cheio de delícias feitas em casa, colocado na mesa da sala. Depois do café, todos vão para a missa na capela da fazenda. Meninas usam roupas de anjo com asas de penas, tradição mantida à risca; atualmente, há asas montadas com papel crepom.
Acabada a missa, voltam todos para a casa, onde a mesa do café continua posta. Quem tem fome come mais, quem tem sede pode começar a enfrentar o chope, no barril ao lado. A festança é promovida na Fazenda Quebra Cangalha, tocada pelos herdeiros de meu tio, que já se foi. O almoço é fartura sem fim. Chama a atenção o fogo de chão ao fundo do pátio, onde o leitão é assado.
Como a mesa com o almoço fica montada o dia inteiro, a dos doces fica na sala ao lado. Quem tem saúde para aguentar pode passar o dia inteiro na casa – há até música ao vivo – e, lá pela metade da noite, enfrentar o churrasco de leitão.
A bem da verdade, a festa devia ser só da família, mas todos têm muitos amigos que gostam de aparecer, bem como parentes distantes.
Então, a reunião que nasceu familiar se transformou quase em um encontro de parentes, que não querem perder a presença de tanta gente, conhecida de uns, desconhecida de outros.
Não perco nunca esta reunião familiar, fico torcendo para que meus sobrinhos apareçam aqui para irmos todos à Teixeirada, como ficou conhecido o encontro.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.