
Bombeiros e o maior risco de morte por câncer
Há consequências graves para a saúde ao inalar fumaça, ao calor extremo e à permanência em ambientes instáveis ou perigosos
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Levantamentos recentes estabelecem que os bombeiros apresentam um risco significativamente maior de morte por câncer de pele do que os demais profissionais. O acompanhamento desses dados a longo prazo também sugere que os bombeiros apresentam risco significativo de mortalidade por câncer de pulmão.
Os bombeiros têm um trabalho perigoso pelos riscos inerentes à sua profissão, mas o risco de morte vai além dos incêndios e da tarefa de combatê-los que eles enfrentam. Uma análise da Sociedade Americana do Câncer constatou que bombeiros têm um risco significativamente maior de mortalidade por câncer de pele do que profissionais de carreira, e, possivelmente, correm maior risco de morte por outras doenças malignas, incluindo câncer de rim e pulmão.
Os bombeiros arriscam suas vidas de forma muito imediata, devido ao próprio incêndio. É sabido que há consequências graves para a saúde ao inalar fumaça, ao calor extremo e à permanência em ambientes instáveis ??ou perigosos. Mas o que essa pesquisa ajuda a esclarecer é que também há repercussões que perduram anos e anos depois.
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Em 2022, um grupo de trabalho da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer concluiu que a exposição ocupacional como bombeiro aumentava o risco de mesotelioma e câncer de bexiga. O grupo, no entanto, não conseguiu concluir a causalidade para outros tipos de câncer, citando evidências "limitadas" para câncer de cólon, próstata e testículo, linfoma não Hodgkin e melanoma, e dados "inadequados" para câncer de pulmão, tireoide e todos os outros tipos de câncer, de acordo com o histórico do estudo.
Entretanto, esses levantamentos anteriores frequentemente comparam as taxas de câncer entre bombeiros com as taxas de câncer na população em geral, sem conseguir levar em conta outras coisas que causam câncer. Por exemplo, observam-se taxas mais altas de câncer de pulmão na população em geral devido ao aumento do tabagismo, mas isso não significa que o combate a incêndios também não esteja causalmente ligado ao câncer de pulmão. Nesse caso, uma eventual ligação pode ser mascarada pelo tabagismo entre os bombeiros avaliados.
Por esse motivo, o estudo mais recente denominado “Estudo de Prevenção do Câncer II” da Sociedade Americana do Câncer permitiu que os investigadores Teras e colegas avaliassem as associações entre bombeiros e mortalidade por câncer, levando em conta fatores como idade, raça, tabagismo, consumo de álcool, IMC (índice de massa corporal), exercícios e educação.
Os pesquisadores recrutaram aproximadamente 1,2 milhão de indivíduos para o estudo entre 1982 e 1983 (473.840 homens com idade mediana de 57,2 anos; lfaixa etária: 28-89 anos e 94,1% brancos. A coorte incluiu 3.085 bombeiros que trabalharam por uma média de 19,5 anos. A maioria deles (83%) relatou que seu principal emprego ao longo da vida foi bombeiro. As profissões mais comuns para não bombeiros incluíram gerente/diretor/proprietário (14,5%), caixa (9%) e professores/administradores escolares (6%). O risco de mortalidade por vários tipos de câncer para bombeiros serviu como desfecho primário.
Os resultados
Bombeiros apresentaram um risco estatisticamente significativo maior de mortalidade por qualquer tipo de câncer em comparação com profissionais de carreira após ajuste para idade. A associação permaneceu significativa após considerar tabagismo, raça, consumo de álcool, IMC, exercícios, região de residência e renda do bairro, mas caiu um pouco abaixo da significância após ajuste para educação.
Bombeiros também apresentaram um risco estatisticamente significativo de mortalidade por câncer de pele em comparação com profissionais de carreira após considerar todas as variáveis. Em modelos ajustados apenas para idade, os bombeiros apresentaram um risco significativo de morte por câncer de pulmão e rim, mas a associação caiu um pouco abaixo da significância em modelos totalmente ajustados.
Os autores enfatizaram que os dados mostraram que os bombeiros apresentaram um risco significativo de mortalidade por câncer de pulmão entre 30 e 36 anos de acompanhamento.
Limitações do estudo e perspectivas
Os pesquisadores reconheceram as limitações do estudo, incluindo a falta de informações sobre as tarefas realizadas pelos bombeiros e a falta de dados sobre doenças malignas mais raras.
Pesquisas futuras deverão focar no entendimento de quais são os riscos para todos os tipos de desfechos femininos, incluindo desfechos reprodutivos e cânceres femininos, como ovário, endométrio e mama.
Os dados desse estudo, por outro lado, destacam a importância de se continuar aprimorando os equipamentos de proteção individual e fornecer ferramentas de prevenção, triagem e detecção precoce, sempre que possível, especialmente para populações como os bombeiros, que estão na linha de frente todos os dias, e para as quais sabemos que essas ações têm consequências tanto a curto prazo quanto a longo prazo.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.