André Murad
André Murad
Diretor-executivo da Clínica Personal Oncologia de Precisão de BH. Oncologista e oncogeneticista da OncoLavras.
ONCOSAÚDE

Nutrigenômica: fato ou ficção? Parte 2

Os dados atuais disponíveis permitem que a comunidade médica tire diversas conclusões, já que existem aplicações claras para informações nutrigenéticas

Publicidade

Mais lidas

Estudos mal fundamentados e alegações frágeis contribuem para declarações exageradas na mídia e equívocos comuns que minam o valor da nutrigenômica. Alguns especialistas rotularam a nutrigenômica como uma "pseudociência", citando alegações infundadas que têm pouco ou nenhum efeito nos resultados dos pacientes. Por outro lado, nos últimos anos, houve um aumento no número de profissionais médicos, como quiropráticos e farmacêuticos envolvidos na medicina funcional, que incorporaram a nutrigenômica em suas práticas. Alguns até construíram modelos de negócios inteiros em torno dela. 


Apesar da crescente popularidade entre os profissionais da medicina integrativa e, em menor grau, alguns profissionais de saúde convencionais, nem todos os envolvidos na área médica compartilham o mesmo nível de entusiasmo. Vários pesquisadores e especialistas fazem um alerta às pessoas para que procedam com cautela, pois entendem esse boom como um caso clássico de exploração científica, em que descobertas preliminares de um campo de pesquisa genuíno são desmembradas em um produto que ainda não está pronto para o grande público. Segundo alguns especialistas, esse fenômeno se assemelha a outros, como o uso indiscriminado de células-tronco, de imunoterapia contra o câncer e, claro, e o microbioma — todos são casos em que a pesquisa real já produziu algumas aplicações comprovadas, mas essas áreas se transformam em panaceias lucrativas antes mesmo que os resultados apareçam. 

Entretanto, nem todas as informações sobre o impacto dos alimentos na saúde são descartáveis. Na verdade, os dados atuais disponíveis permitem que a comunidade médica tire diversas conclusões, já que existem aplicações claras para informações nutrigenéticas. Por exemplo, pessoas com fenilcetonúria precisam monitorar sua ingestão de fenilalanina, enquanto indivíduos com intolerância à lactose devem evitar laticínios ou tomar comprimidos de lactase antes das refeições para combater as potenciais consequências da ingestão de lactose.

Outro equívoco que se dissemina é a ideia de que os testes nutrigenômicos podem fornecer recomendações alimentares imediatas e precisas e planos alimentares específicos para cada indivíduo. Muitas pessoas presumem que esses testes substituem os princípios gerais de alimentação saudável, quando, na verdade, eles se destinam a complementar e não servir como uma solução independente. 

Além de saber quais genes interrogar, as partes interessadas devem avaliar a qualidade das empresas de nutrigenômica. Para ajudar a mitigar o potencial de pseudociência ou baixa qualidade laboratorial, alguns especialistas recomendam  que as organizações de saúde verifiquem as fontes. Por exemplo,  se as empresas de testes de nutrigenômica possuem determinadas certificações, como a certificação Clinical Laboratory Improvement Amendments, que garante a conformidade com os padrões federais para testes laboratoriais. O College of American Pathologists oferece outra certificação importante, que avalia a qualidade laboratorial por meio de inspeções rigorosas. 

A validação também desempenha um papel importante. Isso inclui a validade analítica, que confirma que o teste mede com precisão e confiabilidade as variantes genéticas que alega detectar, e a validade clínica, que avalia se as variantes detectadas são clinicamente significativas e se correlacionam com a doença ou condição. Os laboratórios  devem  fornecer informações abrangentes sobre seus testes, incluindo metodologias, limitações e a relevância clínica das variantes detectadas. 

Essas informações devem estar acessíveis no site do laboratório ou prontamente disponíveis. Além disso, empresas confiáveis terão políticas robustas para proteger os dados dos pacientes e cumprir as leis de privacidade relevantes. Idealmente, um tempo de resposta curto e um suporte ao cliente confiável são essenciais, mas alguns usuários podem achar esses recursos proibitivos para seus pacientes, com preços que variam de US$ 500 a US$ 1 mil para diversos exames. A maioria dos planos de saúde nos EUA geralmente não cobre testes nutrigenômicos.

A nutrigenômica oferece aos profissionais médicos e outras partes interessadas informações importantes para ajudar a entender cada gene e transformar essas informações em medidas práticas para otimizar a saúde do paciente. No entanto, isso traz a ressalva de entender como usar a nutrigenômica. Entretanto, para  se otimizarem os dados fornecidos pela nutrigenômica, as pessoas precisam entender não apenas as informações que ela fornece, mas também sua verdadeira utilidade e valor. Muitos fatores influenciam a dieta. Por exemplo, compostos como o fitoquímico sulforafano, à base de enxofre — encontrado em brócolis, couve-de-bruxelas e outros vegetais crucíferos — podem influenciar a expressão de genes envolvidos em vias inflamatórias. Exemplos incluem o gene da proteína C-reativa, implicado em ataques cardíacos, e o gene do fator de transcrição FOXO3.

O sulforafano desempenha um papel importante na via Nrf2, que aumenta a produção de enzimas antioxidantes e anti-inflamatórias. Ele também regula negativamente vias pró-inflamatórias como o NF-B. Isso ajuda a reduzir a produção de marcadores inflamatórios como IL-6 e TNF-, proporcionando uma maneira direcionada de promover a saúde por meio da dieta. Além disso, compreender várias vias biológicas, como a via da inflamação em alguém com alto risco de desenvolver câncer, pode abrir portas para estratégias proativas para ajudar a gerenciar o risco.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

Tópicos relacionados:

alimentos clinica medicos midia

Parceiros Clube A

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay