
Dieta mediterrânea reduz risco de cânceres ligados à obesidade
Estudos com foco em biomarcadores de inflamação, vias metabólicas e microbiota intestinal podem fornecer "insights" valiosos
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De acordo com um novo estudo, pessoas com alta adesão à dieta mediterrânea tiveram menor risco de cânceres relacionados à obesidade. Entretanto, mais pesquisas serão necessárias para que possamos entender melhor os mecanismos biológicos dessa associação.
A alta adesão à dieta mediterrânea pareceu estar ligada a uma ligeira redução no risco de câncer relacionado à obesidade, de acordo com dados de um estudo publicado na revista médica JAMA Network Open.
Tais descobertas se alinharam às expectativas dos autores, já que pesquisas anteriores sugeriram que a adesão à dieta mediterrânea pode conferir proteção contra doenças crônicas, incluindo câncer. No entanto, um dos aspectos mais interessantes desse estudo foi que a redução observada no risco de câncer relacionado à obesidade não foi totalmente mediada por medidas de peso corporal ou adiposidade, como IMC (índice de massa corporal) ou razão cintura-quadril. Isso sugere que mecanismos adicionais — potencialmente relacionados à inflamação, estresse oxidativo ou regulação metabólica — podem desempenhar um papel na associação observada.
A dieta mediterrânea consiste em alta ingestão de gordura que vem predominantemente de azeite de oliva extravirgem, alta ingestão de carboidratos de baixo índice glicêmico, ingestão moderada de peixe, consumo pequeno a moderado de laticínios e aves e baixo consumo de carne vermelha.
Estudos anteriores mostraram que a adesão a essa dieta está associada a menor incidência de câncer e menor ganho de peso. Essas descobertas sugerem a possibilidade de que a dieta mediterrânea possa diminuir o risco de cânceres relacionados à obesidade.
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Nesse novo estudo, os autores Aguilera Buenosvinos e colegas conduziram um ensaio de coorte prospectivo para investigar essa associação potencial. A análise incluiu 450.111 pessoas (idade média, 51,1 anos; intervalo, 35-70; 70,8% mulheres) de 10 países que participaram do estudo European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC).
Os pesquisadores pontuaram a adesão à dieta mediterrânea em uma escala de 9 pontos, com pontuações de 0 a 3, equivalendo à baixa adesão; pontuações de 4 a 6, equivalendo à média adesão; e pontuações de 7 a 9, equivalendo à alta adesão. A incidência de cânceres relacionados à obesidade serviu como desfecho primário.
Após um acompanhamento médio de 14,9 anos, 4,9% dos participantes do estudo desenvolveram um câncer relacionado à obesidade, com resultados mostrando uma associação inversa entre casos de câncer e adesão à dieta mediterrânea (grupo baixo, 0,053 por pessoa-ano; grupo médio, 0,049 por pessoa-ano; grupo alto, 0,043 por pessoa-ano).
Os resultados mostraram que pessoas com alta adesão tiveram um risco mais reduzido de cânceres relacionados à obesidade do que aquelas com baixa adesão.
Os pesquisadores também conduziram análises de mediação para avaliar o impacto potencial da relação cintura-quadril ou IMC na relação entre a adesão à dieta e o risco de câncer relacionado à obesidade, mas não observaram associações significativas para nenhum dos fatores.
Os pesquisadores reconheceram as limitações do estudo, incluindo a exposição e os potenciais fatores de confusão, sendo avaliados apenas na linha de base o potencial de que o padrão de estilo de vida mediterrâneo pode não ter sido totalmente capturado com pontuações. Isso se deve a uma grande parte dos participantes do estudo serem de países não mediterrâneos e o fato de os participantes terem relatado a adesão à dieta mediterrânea.
Os resultados reforçam a importância dos padrões alimentares na prevenção do câncer, particularmente no contexto de malignidades relacionadas à obesidade. A dieta mediterrânea — que enfatiza alimentos de origem vegetal, gorduras saudáveis e consumo moderado de produtos de origem animal — pode ser recomendada como parte de uma estratégia abrangente para redução do risco de câncer. Essas descobertas se alinham com as diretrizes alimentares atuais que promovem hábitos alimentares saudáveis para reduzir o risco de doenças crônicas.
Pesquisas futuras devem explorar os mecanismos biológicos subjacentes que impulsionam a associação entre a adesão à dieta mediterrânea e o risco de câncer relacionado à obesidade. Em particular, estudos com foco em biomarcadores de inflamação, vias metabólicas e microbiota intestinal podem fornecer “insights” valiosos. Além disso, ensaios de intervenção avaliando os efeitos de longo prazo das modificações alimentares na incidência de câncer ajudariam a fortalecer a evidência causal que apoia as recomendações alimentares.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.